Sebastião Salgado diz adeus a grandes projetos com Genesis

Paulo Henrique Silva - Do Hoje em Dia
18/06/2012 às 18:34.
Atualizado em 21/11/2021 às 22:56
 (Lélia Deluiz Wanick)

(Lélia Deluiz Wanick)

Sebastião Salgado confessa um certo desconforto ao passar para frente das câmeras. Como um dos fotógrafos mais conceituados da atualidade, sempre preferiu estar do outro lado, viajando pelo mundo para registrar excluídos sociais e a relação do homem com a Natureza. Após dedicar oito anos ao projeto “Genesis”, agora ele se vê transformado em imagem, pelas lentes do cineasta alemão Wim Wenders (“Paris, Texas”, “Asas do Desejo”) e pelas da brasileira Betse de Paula.


“Wenders é um amigo de muitos anos, temos a mesma paixão pela fotografia. Mas tomou muito do meu tempo ao ficarmos trabalhando por uma semana em Paris, com discussões profundas e altamente interessantes que iam da manhã até à noite”, registra Salgado à reportagem do Hoje em Dia, pouco antes de embarcar para o Rio de Janeiro, para receber, no sábado, um prêmio na área de educação, durante a conferência Rio + 20.


“A Luz e a Sombra” estreia em 2013


O resultado da dobradinha firmada com Wenders será visto no próximo ano, quando o documentário “A Luz e a Sombra” chegará aos cinemas, dentro de um projeto que ainda engloba exposição e livro. [/LEAD][TEXTO]
[/TEXTO]Codirigido pelo filho de Salgado, Juliano, o filme acompanha aquela que deve ser última jornada do fotógrafo mineiro, nascido há 68 anos em Aimorés, por locais inacessíveis do planeta, onde ainda se preserva um ambiente selvagem. “Foi o meu último grande esforço de trabalho”, confirma ele.


Apesar de avaliar que a condição física ainda está, sim, ok, Saklgado pretende se dedicar mais ao Instituto Terra, organização não-governamental sediada em sua terra natal e presidida pela esposa Lélia Wanick, que também recebeu o prêmio concedido pelas Nações Unidas.


Fundada em 1999, a ONG vem tentando reverter um quadro de degradação na região do Vale do Rio Doce, recuperando a rica diversidade de sua Mata Atlântica.


“Quantas pessoas no mundo plantaram um milhão e novecentas e sessenta mil árvores?”, indaga Salgado, ao falar da transformação de uma área de 767 hectares. Trabalho que deverá fazer parte do documentário, com a vinda de Wenders ao Brasil para conhecer de perto o Instituto Terra. O alemão ficou responsável pelas entrevistas, enquanto Juliano acompanhou o pai em suas viagens a territórios que Salgado prefere chamar de “puros”, com paisagens praticamente intocadas pelo homem.


Durante oito anos, a cada 12 meses, o fotógrafo permaneceu pelo menos oito fora de casa. Tanto esforço para chamar a atenção a um dado importante em torno do nosso ecossistema: “Uma única espécie destruiu pouco mais da metade do planeta, mas a outra está aí, com grandes faixas de terra em estado de pureza muito grande e que precisam ser protegidas. Minha esperança é a de que se crie uma consciência com frutos reais”, anseia.



Colocando ênfase na palavra ação


Ele enfatiza a palavra ação. Após 20 anos do primeiro da Rio-92, Salgado analisa que a situação melhorou em relação a uma maior conscientização sobre a questão. “Mas é difícil julgar se houve um avanço efetivo. No caso brasileiro, a Amazônia continua sendo desmatada, mantendo a média das últimas duas décadas. Do ponto de vista ambiental, o avanço foi relativamente pequeno”. Tanto o projeto “Genesis” quanto o filme apontam a necessidade de sair da teoria para a prática.


A fotografia tem, para ele, uma vocação política e social, relacionada a seu passado de economista. “O fato de ter vindo do Brasil, de uma época na qual 80% da população viviam nas zonas rurais, me fez ter essa preocupação. Meus projetos eram concebidos em prol da dignidade, do direito de existir e de se apresentar como ser humano. Minhas fotografias são a história de minha vida, do que senti e sinto agora”.


Nesse seu último grande projeto, previsto para tomar a forma de exposição a partir de 9 de abril de 2013, no Museu de História Natural de Londres, seguindo depois para Paris, Roma e Rio de Janeiro, será a primeira vez que a paisagem é a protagonista, fazendo a ponte entre a fotografia e a causa ecológica, trabalho que se dedicará com maior afinco a partir de agora. “Fotografar animas e plantas não é diferente dos humanos. São seres vivos e é preciso respeitar o momento deles”, ensina.


Instituto Inhotim abrigará fotografias


Salgado sublinha que a atenção maior a Minas Gerais não se resumirá ao Instituto Terra, adiantando que estará mais integrado à cultura do Estado. A novidade é que, em breve, ganhará um núcleo com seu nome no Instituto Inhotim de Arte Contemporâ nea e Jardim Botânico, localizado na cidade de Brumadinho (Região Metropolitana de Belo Horizonte), onde suas principais fotografias serão expostas.

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