Espetáculo de Denise Stoklos abre flancos à crítica

Miguel Anunciação - Do Hoje em Dia
20/09/2012 às 11:20.
Atualizado em 22/11/2021 às 01:26
 (Divulgação)

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PORTO ALEGRE (RS) – Maria Bethânia veio ao "Porto Alegre em Cena 2011" e até hoje as pessoas por aqui comentam as atitudes de prima donna que teria dirigido aos que dela ousaram se aproximar. Grosserias marcam. Mas não é por também ter ares de prima donna, como se comenta, que Denise Stoklos desagrada. É que "Preferiria Não?" abre muitos flancos às críticas.

Bem instalada na cena há décadas, até no exterior (o que sempre faz questão de ressaltar, nos espetáculos e entre jornalistas), a paranaense possui méritos inegáveis como performer. Num nível semelhante ao de Cacá Carvalho. Basta entrar em cena e dizer boa-noite para se constatar seus dotes vocais.

Que voz poderosa, que dicção! Equivalente ao domínio que demonstra ter do corpo. Como suas ações físicas preenchem o palco quase que nu, afora uma luminária e alguns pedestais de partitura. Em todos está escrito "Bartleby", do clássico de Melville, no qual o espetáculo se inspiraria.

Generalizações

Assim como os espetáculos de Zé Celso Martinez Correa, os de Stoklos se servem de algum tema, de algum personagem, para falar sobre Deus e o mundo. Para falar de si mesmo, principalmente.

Acontece que, enquanto os espetáculos do Oficina, tomam, por exemplo, a revolta ocorrida em Canudos (BA) para especular sobre a geopolítica do poder dos EUA no mundo de hoje, sobre as expectativas em relação a Barack Obama, Denise se limita a falar mal do Brasil, como um país fadado ao fracasso.

E a fazer generalizações rasteiras sobre o comportamento humano, sobre seu acesso privilegiado a pessoas importantes, como se ela fosse um privilégio de perspicácia. Como blablablá de boteco, que abusa de sínteses toscas pronunciadas como alta filosofia.

Cabelo descolorido, uniforme negro

O espetáculo "Preferiria Não?" incomoda inclusive pela recorrência de Denise Stoklos ao mesmo cabelo tingido de louro, desgrenhado, ao mesmo uniforme negro ao qual ela invariavelmente recorre, seja lá qual for o assunto que cada nova peça deseje tratar no palco.

A impressão que fica é que quem já assistiu a um espetáculo de Denise Stoklos – que iniciou sua carreira em 1968, quando contabilizava 18 anos de idade, enquanto cursava jornalismo na Universidade Federal do Paraná – teria visto todos.

Já sabe que embora sua expressão corporal seja muito rica, bastante versátil, suas caras e bocas reduzem à caricatura o que e quem ela menciona.

O que não explica porque seus espetáculos costumam durar tanto. Talvez porque a inteligência que ela se esforça tanto em fazer crer que acumulou como uma fortuna ainda não tenha lhe ajudado a ser sintética.

Quase duas horas de encenação

O espetáculo de Stoklos se alonga por quase duas horas, extraindo algumas risadas do público nos momentos em que é ainda menos profundo, interessante, quando recorre aos palavrões. E se alguém foi ao teatro esperando travar contato com o personagem – clássico por desnortear o trânsito burocrático, ao externar ingenuamente preferir não servir a um regime neurótico de trabalho –, muito pouco lhe será dado.


* Viajou a convite da produção do 19º Poa em Cena

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