Espetáculo "Estamira" leva o público às lágrimas

Miguel Anunciação* - Do Hoje em Dia
20/07/2012 às 10:58.
Atualizado em 21/11/2021 às 23:42
 (Barbara Copque/Divulgação)

(Barbara Copque/Divulgação)

Precisava ver a resposta do público à sessão de "Estamira, Beira do Mundo", na capital federal: uma recepção calorosa, emocionada, inflamada por merecidos gritos de "bravo!" e uma porção de gente enxugando lágrimas incontidas.

Não foi exclusividade do público de Belo Horizonte, portanto, emocionar-se com o solo pelo qual a formidável atriz carioca Dani Barros definitivamente se inscreve entre o que houve de melhor no teatro nacional nos últimos anos. Nesse trabalho que é uma pérola, um clássico. Absolutamente imperdível.

Profissional de vasta carreira, admirável em muitos trabalhos anteriores – no início de agosto, ela retorna a BH no elenco de "Maria do Caritó" –, Dani Barros burilou o que se pode chamar de "o trabalho da sua vida". Uma montagem fadada a estar em cartaz por muitos e muitos anos. E como o título já informa, a montagem se baseia na figura da catadora radicada durante 20 anos no Jardim Gramacho, maior lixão do Rio de Janeiro, recém-fechado.

E que figura. Portadora de transtornos mentais, Estamira surpreende também pela lucidez, pela mediunidade, pela fala muitas vezes de alta voltagem poética. A este personagem tão rico – que Dani Barros assume com delicadeza, com a estatura artística de quem se envolveu em vários projetos de porte, sem pieguices jamais –, ela entrecruza porções da sua própria vida. Ao fato que sua mãe também era portadora de transtornos mentais.

Todas essas informações são conhecidas por quem já viu "Estamira" na última edição do FIT/BH, no qual foi uma das atrações mais bem comentadas. Embora concorresse com espetáculos recomendadíssimos, do Brasil e do exterior.

É preciso, porém, tornar a dizer o quanto "Estamira" é valioso. Muita gente ainda não terá ideia da sua importância, da contribuição que ele cumpre por um novo olhar sobre todas as pessoas, de um novo convívio entre deficientes (eles) e transtornados (todos os outros), como o texto da peça assinala.

Apesar de saber de antemão o quanto ele era especial, diferenciado, um espetáculo de enorme comunicação a quem ele se dirige, o público saiu estupefato das duas sessões escaladas no Eva Herz. Mas como o teatro tem apenas 200 lugares, muita gente interessada em vê-lo ficou de fora, frustrada. O produtor que o trouxer novamente a Brasília terá boca a boca garantido. O mesmo ocorrerá em BH, onde muita gente sonha ver Dani Barros de novo. Neste personagem definitivo, "o trabalho da sua vida".


*Viajou a Brasília a convite do Cena Contemporânea 2012.

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