Peça registra a história de santa reformadora

Thais Oliveira
taoliveira@hojeemdia.com.br
11/08/2016 às 18:42.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:19
 (Laercio Luz/Divulgação)

(Laercio Luz/Divulgação)

Ana Cecília Costa, quando decidiu montar um espetáculo dedicado à Teresa d’Ávila (1515-1582), não sabia que a estreia cairia bem nos 500 anos de nascimento da santa e poetisa espanhola. Outra “coincidência”, é que a verba para execução do projeto, disponibilizada via Lei Rouanet, foi aprovada exatamente em 15 de outubro, data escolhida para comemorar a festa litúrgica de Teresa. “Brinco que ela estava me convocando para celebrar seu aniversário no Brasil”, diz a atriz. A peça, chamada de “A Língua em Pedaços”, chega nesta sexta-feira (12) à capital mineira, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-BH).

Baseado em “O Livro da Vida” (1565), autobiografia de Teresa, o espetáculo tem direção de Elias Andreato e o texto, de Juan Mayorga, é inédito no Brasil.

A trama se passa na cozinha do Mosteiro São José, primeiro convento de Carmelitas Descalças, dos 17 fundados pela santa. Ana Cecília, que faz Teresa, divide o palco com Joca Andreazza, o Inquisidor. Os dois protagonizam um embate, no qual o oficial acusa a religiosa de subversão e heresia por ter percepções teológicas distintas das dela. “O espetáculo se chama ‘A Língua em Pedaço’ porque a linguagem, o racional, não consegue explicar a experiência mística, assim como não explica o amor. Teresa tem uma profunda intimidade com Deus, com o qual mantém uma relação sensorial. Já o Inquisidor é um dogmático”, explica a atriz.

Naquele contexto, da Inquisição Espanhola (século 15 ao século 19), Teresa era mais uma das mulheres perseguidas que deveriam ser queimadas na fogueira. “Ela foi considerada por alguns como uma endemoniada, justamente porque a racionalidade não abarca Deus. Era uma carmelita, que se voltava para os valores cristãos mais puros de pobreza, causando uma reforma ao trazer uma fé que não passava pela riqueza, poder e vaidade, aos quais a Igreja estava dominada”, pontua.

Imersão
Para compor a personagem, Ana Cecília, que é baiana de Jequié, esteve no Carmelo de Salvador, onde buscou por orientação das monjas de leituras e filmes. “A peça não deixa de ser um aprofundamento espiritual”, revela.

Apesar da identificação com a santa, por ter formação católica, Ana Cecília considera este um dos maiores desafios da carreira – perdendo apenas para a peça “Hahnem Kammen” (2001), que apresentou em Berlim, em alemão. “É desafiante porque tenho que ter um domínio técnico sobre o texto, de português antigo, que não me permite fazer improviso e, ao mesmo tempo, me é pedido uma entrega, um arrebatamento próprio da figura extremamente emocional de Teresa”, afirma.

Mesmo tendo um cunho católico, a atriz garante se tratar de um programa para todos. Para ela, a mensagem é atemporal, porque fala de valores, como amor, que ultrapassam a questão do tempo. “É uma peça que independe de crença religiosa, pois ela comunica por meio do debate entre esses dois personagens inteligentíssimos, que são Teresa e o Inquisidor”, finaliza.

Serviço: “A Língua em Pedaços” tem sessões de 12/8 a 5/9, de quinta a segunda, às 20h, no CCBB BH (Praça da Liberdade, 450). R$ 20 e R$ 10 (meia), à venda na bilheteria e no eventim.com.br

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