Trabalho desenvolvido por bonequeiros encanta crianças de todas as idades

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
12/10/2014 às 09:24.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:34
 (Frederico Haikal)

(Frederico Haikal)

Hoje é dia de falar de crianças... de todas as idades. Enquanto vários pequenos ganharam brinquedos fabricados em grandes indústrias, tem muito marmanjo sonhando com uma outra linha de presentes lúdicos. Criações exclusivas, feitas com o cuidado e dedicação de artistas, em vez da frieza de plásticos que saíram das máquinas
 
A demanda por brinquedos diferenciados foi importante para as três décadas de trabalho de Agnaldo Pinho como criador de bonecos artesanais, com articulação nos braços e pernas, além de rostos expressivos e roupinhas cuidadosamente costuradas. Palhaços, bailarinas, cozinheiros e boxeadores são alguns personagens que fazem parte da Bonecaria.com, empresa sediada no bairro União que possui clientes em todo o mundo – inclusive, o canal de TV infantil Nickelodeon e o festival Anima Mundi.

“As crianças gostam de nossos bonecos, mas o nosso principal público é o adulto”, explica o bonequeiro Agnaldo Pinho, que começou suas criações depois de ir trabalhar com Álvaro Apocalypse (1937–2003) no Giramundo, na década de 80. “Já fizemos mais de 6.000 bonecos. Mesmo que parte do processo de produção seja em série, dificilmente um boneco será igual ao outro. Isso porque as peças são colocadas de forma aleatória”.

O segredo do bonequeiro está na veracidade das criações. “É um boneco que possui uma proporção próxima da realidade, é mais humano. Não possui os exageros de proporções e cores que costumam existir na maioria dos bonecos e palhacinhos. É lúdico, mas tem a pegada de realismo, especialmente porque são articulados”, diz.

“A paixão por bonecos vem da infância. Eu queria quebrar a televisão para pegar as pessoas e cavalos que estavam ali dentro. Só depois, no Giramundo, que fui compreender melhor o meu interesse por miniaturas”, explica Agnaldo.
Amor

A Bonecaria.com não é a principal fonte de renda de Agnaldo, que também possui uma empresa de cenografia. Mas o amor pela criação, que antes era de papel machê e hoje é de borracha, contribui para que o processo se mantenha constante. Quem coloca a mão na massa são os bonequeiros Maria do Rosário e Vitor Gabriel, que contam ainda com o trabalho de duas costureiras.

Ex-integrante da Zero Cia de Bonecos, Vitor vai além da ação de dar vida às criações que saíram da mente de Agnaldo. Ele também viaja para diferentes eventos culturais – como o Circovolante, a Mostra de Cinema e o Festival Gastronômico de Tiradentes – para vender os bonecos, que custam de R$ 190 a R$ 280. Atualmente, ele também está restaurando os “integrantes” de Os Improváveis – banda roqueiros de bonecos criada há alguns anos por Agnaldo. A intenção é que o projeto volte aos palcos.

“É muito edificante ver um pedaço de madeira ou de pano se transformando em um boneco, que depois vai fazer a alegria de uma criança ou de um adulto que quer voltar a ser criança”, afirma Vitor.
 
Bonecos: uma arte acessível em diferentes cantos
 
Magrelos, expressivos e cheios de expressividade. Impossível não se encantar pelos personagens desenvolvidos pelo artista plástico Daniel Baptista, que tira a maior parte de sua renda da venda de bonecos criados a partir da modelagem de papel. Mais um exemplo de bonecos que se tornam objetos de desejo de adultos de alma lúdica.

Seus palhacinhos completamente brancos – somente o nariz é vermelho – e suas versões para Charles Chaplin – como essa, que ilustra a página – são muito requeridos em lojas de presentes bacanas, como o Café Book, no Santa Efigênia, e o Balaio de Gato, no Mercado do Cruzeiro.

“Com o palhacinho, procuro exercitar a ideia de que o mínimo é o máximo. Diferentemente das outras criações de palhaço, que são mais complexas e coloridas, e busco a simplificação”, conta Daniel, que já realizou cerca de 1.500 peças ao longo de quase seis anos.

Cada boneco, que demanda aproximadamente um dia de trabalho, é vendido por valores que variam de R$ 120 a R$ 170. Um preço que não é muito elevado, se levarmos em conta a beleza e o tempo dedicado à confecção das peças.

“Já me disseram que eu deveria aumentar o preço do meu trabalho. Mas acho que temos que parar de achar que um produto de arte tem que ter um preço elevado, ser inacessível para todos”, diz o artista, que já ouviu a história de um cliente que criou um móvel para a sala somente para expor o palhacinho da melhor forma em sua casa.

Para ser brincado
 
Bonecos artesanais não precisam, necessariamente, serem objetos de decoração. Quem frequenta bares e restaurantes da capital mineira já viu alguns bonequeiros apresentando suas criações, vendidas a valores bastante acessíveis e bem fáceis de serem manipuladas.

Anderson Teixeira Lemos é um dos discípulos de Marco Aurélio Costa, o criador de um boneco de espuma manipulado por varetas chamado de Me Leva. Mas Anderson quis ir além do boneco que aprendeu a fazer há 13 anos, quando pretendia variar o seu trabalho com artesanato.

O bonequeiro pegou as bases de criação do Me Leva e desenvolveu versões com rostos e mãozinhas de látex (de borracha de seringueira, ele faz questão de frisar). Assim, os bonecos puderam ganhar expressões mais humanizadas, com direito a detalhes nas orelhas, narinas e língua.

O artista passa o dia em casa produzindo os bonecos com sua esposa, Lúcia França, e segue à noite para as ruas de Belo Horizonte, percorrendo bares e restaurantes atrás de clientes. Aos finais de semana, a peregrinação começa na hora do almoço e não tem hora para acabar. Seus bonecos custam, em média, R$ 25.

“Quero ser reconhecido por esse trabalho com o látex. Mas isso não quer dizer que seja um boneco que possa ser usado no teatro ou alguma coisa sofisticada. É um boneco para ser brincado”, afirma o bonequeiro, que pretende desenvolver um boneco feito completamente com material orgânico.

Contar com a rua para garantir o sustento de casa não é tarefa fácil. Além da possibilidade de voltar para o lar sem ter feito uma venda, tem que se deparar com perguntas como “você tem a Peppa Pig?”. “Mas tem momentos muito legais. Às vezes, na hora de vender, acabo descobrindo um movimento novo para o boneco”.
 
Tilda é exemplo de delicadeza
 
Uma boneca que tem agradado as mulheres é a Tilda, uma criação da jovem norueguesa Tone Finnanger que virou febre em todas as partes do mundo. Trata-se de uma peça delicada e muito feminina, embora tenha características que provocam estranheza: a personagem não possui boca, enquanto seus braços e pernas são bem finos e um pouco desproporcionais em relação ao corpo levemente triangular.
 
Lília Santos é uma das especialistas nesse tipo de boneca em Belo Horizonte. Formada em Belas Artes, a artista deu aulas de educação artística em escolas por alguns anos. Quando perdeu o emprego, decidiu se dedicar ao artesanato para ter uma fonte de renda.

“Eu adorava bonequinhas. Quando era criança, eu queria ir para a rua brincar com os meninos, mas minha mãe não deixava. Então, ficava em casa com minha irmã preparando roupinhas para as nossas bonecas”, lembra Lília.

Foi no Clube das Gerais (um ateliê onde eram ensinadas as técnicas de patchwork e quilt para artesãs) que Lília aprendeu o básico – até mesmo a usar a máquina de costura. Há 12 anos, ela percebeu que a boneca era o produto com melhor aceitação no mercado.

“No início, a boneca Tilda não foi muito bem compreendida no Brasil por não ter boca. Então várias mulheres passaram a trazê-la da Europa e dos Estados Unidos para enfeitar suas casas”, conta.

Em média, duas bonecas são confeccionadas por dia e cada uma é vendida pelo preço médio de R$ 80. Uma clientela comum são as noivas. “Mas Belo Horizonte é um mercado ainda um pouco difícil porque as pessoas tendem a dar mais valor ao que é feito lá fora. Há quem compre a mesma boneca no Rio Grande do Sul por mais de R$ 100”.
 
Onde comprar essas produções
 
A Bonecaria.com pode ser encontrada no Facebook e no site bonecaria.com. Os palhaços também estão à venda na Traquitana (rua Major Lopes, 63, São Pedro)

Daniel Baptista está finalizando seu site. Suas obras podem ser encontradas no Café Book (rua Padre Rolim, 616) e no Balaio de Gato (Mercado do Cruzeiro)

As Tildas de Lília Santos são vendidas na feira das Mercadoras da Arte (próxima edição nos dias 24 e 25, no Mercado do Cruzeiro). O site oficial da boneca é tildasworld.com
 

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