Trupe Chá de Boldo explora parcerias

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
19/04/2015 às 10:54.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:42
 (Pablo Saborido)

(Pablo Saborido)

Muito se fala sobre a efervescência da cena musical paulistana e isso não acontece à toa. Há na megalópole um grande número de artistas interessados em fazer uma música irreverente e instigante, sem abrir mão de ser popular. Algo como Tom Zé, Novos Baianos e a Vanguarda Paulista já fizeram no passado.

Um dos melhores nomes da atual música executada em São Paulo é a Trupe Chá de Boldo, uma big band de ares tropicalistas que lança seu terceiro disco, “Presente”, disponível para download no site da banda (clique aqui). Dessa vez, são 11 faixas, sendo dez autorais e uma regravação de “Jovem Tirano Príncipe Besta”, de Negro Léo.

Confira uma entrevista com Gustavo Galo, vocalista da banda e músico que conhece bem Belo Horizonte – sua avó mora na Sagrada Família e seus primos músicos são Affonsinho e Frederico Heliodoro.

Quais foram as principais diferenças entre "Presente" e os trabalhos anteriores?

Os outros discos surgiram de modo mais espontâneo, como resultado dos shows que a Trupe fazia. Eram discos mais ligados aos shows. "Presente" surgiu de um modo diferente. Estávamos em um momento disperso por conta dos trabalhos de cada integrante da banda e por conta dos projetos que nós mesmos realizamos como o EP e o disco com o Tom Zé. Tivemos que sentar, conversar e decidir fazer o disco. E durante uns 6 meses demos forma as canções e ao repertório. "Presente" foi o primeiro disco no qual o repertório todo foi pensado fora do palco (com exceção de "amores vão" e "diacho"). Além disso. a banda passou por transformações vitais. Há um número maior de compositores e cantores.

O álbum tem parcerias com Marcelo Segreto, da Filarmônica de Pasárgada, Tatá Aeroplano e Iara Rennó. Vejo como simbólicas para a maneira como a Trupe se insere no cenário musical paulistano, integrando um grupo de artistas jovens que experimentam bastante e brincam com humor e ironias sofisticadas (como a Filarmônica de Pasárgada, o Cérebro Eletrônico, Tulipa Ruiz...). Uma turma bem influenciada por Tom Zé, Mutantes e Novos Baianos, especialmente. Estou enganada?

Está corretíssima. Tom Zé, Mutantes e NOvos Baianos são referências mesmo. Tom Zé por conta do humor, da possibilidade de experimentações radicais no interior da canção. E em "presente" há também essa ligação forte entre as canções e o modo de encarar o mundo que para mim são efeito de experiências de Tom Zé a la "imprensa cantada". Penso que "meu tesão é outro" e "diacho", por exemplo, tem uma ligação forte com este viés. Os Mutantes não só pelo humor mas pela vitalidade, pela diluição total dos gêneros. E os Novos Baianos pelo som singular e maravilhoso conjugado com modo de vida coletivo, libertário. São três grandes referências pra gente. E somos também muito afetados pelo Cérebro Eletrônico, Tulipa. Aprendemos muito ouvindo os discos de artistas contemporâneos, conversando noite a fora antes e depois de shows. Estamos em movimento constante.

No álbum, há uma parceria com Negro Leo, que mora no Rio de Janeiro. Vocês têm feito um "intercâmbio" com músicos e bandas de outras cidades? Têm relação com alguém de Belo Horizonte?

Sim. O Negro Leo é um dos maiores inventores de sons e música do Brasil hoje. É capaz de compor canções de uma beleza extraordinária e estranha como "jovem tirano príncipe besta" e sons experimentais instigantes. Nos aproximamos do Leo e da Ava Rocha recentemente por conta de shows que fizemos no Rio de Janeiro, cidade onde eles moram. Desde "nave manha" circulamos para além dos limites de São Paulo. E isso propiciou uma troca mais frequente. Fizemos dois shows em BH nos últimos tempos. Por conta da aposta coletiva e das experimentações nos tornamos muito fãs do povo da graveola. É uma banda incrível. Gosto muito do Luiz Gabriel Lopes. Recentemente ele veio a São Paulo e fez uma apresentação maravilhosa, voz e violão, na sala da casa de um dos integrantes da Trupe. E eu como filho de mineira, crescido nas férias pelas ruas da Sagrada Família, tenho que dizer que sou muito fã de dois primos que são grandes artistas da música em BH: Afonsinho e Fred Heliodoro.

Por que o nome "Presente" para intitular o álbum?

Presente por conta do momento do mundo. Presente por entregar nosso som de volta ao mundo.

Quais são seus planos para 2015? Imagino que não seja fácil circular pelo país com uma banda grande em tempos de "crise".

Nossos planos são muito bons. Fazer o máximo de shows, circular com o disco por outras cidades, outras capitais, lançar um vinil. Estamos otimistas. Em 2016 completamos 10 anos de existência. Não foi fácil. Sobre a "crise" o que temos a dizer é que uma banda independente, uma banda independente com 13 integrantes, uma banda independente com 13 integrantes que produziu 3 discos sem editais não teme qualquer tempestade. Crescemos deste modo.

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