Videoclipes polêmicos garantem visibilidade para obras e artistas

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
23/12/2016 às 18:34.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:12

Função: promover o artista e ajudar na venda de discos. Exibição: nas redes de TV, em especial a MTV, canal voltado justamente para esse segmento. Isso foi há mais de 30 anos, quando o videoclipe envolvia cineastas de renome (Martin Scorsese, por exemplo, dirigiu “Black or White”, de Michael Jackson) e muito investimento. Hoje o grande alvo dessas peças musicais que provocam estímulos (o de consumir, principalmente) é uma palavra com seis letras: clique. Quanto mais visualizações, melhor. E se “viralizar”, aos olhos dos produtores tudo valeu a pena. “Hoje tem muito cálculo, no sentido de fazê-lo se multiplicar”, salienta o diretor Conrado Almada. O novo clipe de Clarice Falcão, “Eu Escolhi Você”, lançado na quarta-feira nas redes sociais, criou polêmica aos exibir diversos nus frontais, praticamente em close-up. Enquanto o YouTube não demorou a retirar a peça do ar, alimentando ainda mais a curiosidade, muita gente enxergou um objetivo único, o de “causar”. “No videoclipe, como qualquer outra obra audiovisual, o interesse é que seja visto. A forma e o chamariz podem ser vários. Pode ser uma historinha legal, uma linguagem inusitada”, destaca Conrado, um dos mais prestigiados diretores de videoclipes do país, tendo assinado peças de Skank, Paula Fernandes, Sandy e Pato Fu. “Eu nunca fiz isso (clipe para criar polêmica), mas consigo entender perfeitamente. A curiosidade é coisa natural do homem e todo mundo quer ver. Aquela frase do Andy Warhol, sobre ter 15 minutos de fama, nunca esteve tão em alta. Com o nosso tempo corrido, ter cinco segundos, já está bom, resultando em dois cliques”, registra. Oportunismo?Conrado não sabe precisar as intenções de Clarice Falcão, mas acredita que a cantora não foi ingênua a ponto de achar que o YouTube não censuraria a peça. “Esse foi o primeiro efeito. Agora tem que ver o segundo, o que vai capitalizar. Se é vanguarda ou oportunista. São duas leituras possíveis e só o tempo irá dizer”, analisa. O diretor não recebeu esse tipo de demanda, atrelado a um determinado número de views. “Sempre me pediram para fazer uma coisa legal. Claro que eu quero que seja visto, mas as pessoas já sabem o que esperar do meu trabalho”, observa Conrado, sublinhando que o clipe vive um momento bom, após a crise do mercado fonográfico, no início do milênio. “Redescobriram a sua importância e encontraram formas de fazer, sem que se precise ter um elenco de estrelas. Talvez seja mais importante do que antes, pois hoje está tudo interligado e é preciso alimentar as redes sociais. Os fãs esperam por isso. É uma página, um canal no YouTube, um perfil no Snapchat, no Instagram...”, reflete. Até a maneira de produzir esse conteúdo é bem diferente da época da MTV. Antes se pensava mais na TV, adequando-se a essa linguagem. “Tem que pensar que o clipe será visto na tela de um celular, num enquadramento mais próximo. Se o objeto estiver longe, vai desaparecer”, destaca Conrado, que prevê muito trabalho para 2017. DIVULGAÇÃO / N/A“Bicycle Race”, do Queen, trazia ciclistas totalmente nuas Críticas vão da erotização explícita à violência excessiva Clarice Falcão não é a primeira e não será a última artista a ter um videoclipe censurado. Mesmo antes do YouTube, várias peças tiveram sua exibição proibida na TV. Foi o caso de “Bicycle Race”, lançado pelo grupo inglês Queen em 1978, ainda na pré-história do clipe. No vídeo, um grupo de ciclistas – todas mulheres – pedala no velódromo do estádio de Wimbledon, em Londres, inteiramente sem roupas. A banda liderada por Freddie Mercury enfrentou a tesoura novamente, em 1992, devido ao teor erótico de “Body Language”. Na década de 90, quem “causou” e serviu de inspiração para Britney Spears, Lady Gaga e Miley Cyrus foi Madonna. Clipes como “Justify my Love” escandalizaram por conta do conteúdo de alta voltagem, com cenas de lesbianismo misturadas a imagens religiosas. Mais ou menos nessa época, Madonna ganhou sua versão masculina na pele de Marilyn Manson, em especial com a música “Coma White”, mas pela violência das imagens – como a menção ao assassinato de John Kennedy – e por letras que fazem apologia às drogas. Violência e sexoMesma trilha seguida pelo Nine Inche Nails em “Closer” (1994), que tem desde cabeça de porco girando numa máquina até uma mulher usando máscara com crucifixo. O Prodigy elevou tudo isso à enésima potência – “Smack my Bitch Up” exibe cenas de violência contra mulheres. A islandesa Björk mostrou os mamilos com piercings em “Pagan Poetry” (2002). Já Eminem pôs Michael Jackson numa cama, rodeado de crianças, em “Just Lose It”. E M.I.A. foi banida da TV ao não amenizar a letra de “Born Free”, sobre os abusos cometidos por militares.

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