Alta de derivados do petróleo impacta gás de cozinha, sacolão e a mesa dos consumidores

André Santos
andre.vieira@hojeemdia.com.br
22/02/2021 às 20:02.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:14
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Os aumentos de preços de derivados de petróleo nos últimos meses, especialmente do diesel – que subiu nas bombas de BH quase 16%, desde o início do ano –, já começam a encarecer o frete dos alimentos, sobretudo produtos vendidos em sacolões. Na mesma linha, os reajustes do GLP (gás de cozinha), que fizeram com que o botijão passasse de R$ 100 em alguns pontos de venda da capital, reforçam o impacto dessas altas na mesa dos consumidores. 

No caso do gás, segundo pesquisa divulgada ontem pelo site Mercado Mineiro, a elevação média do recipiente de 13 quilos foi de 12,16% em BH, saltando de R$ 77,13 para R$ 87,17. Em alguns distribuidores, contudo, o valor pode chegar a R$ 105,00. 

Em relação aos sacolões, levantamento feito pelo HD em estabelecimentos de BH, Contagem e Betim mostra que alguns produtos como a banana, o tomate e o pimentão dobraram de preço, em comparação com valores praticados no fim de janeiro – tomando como base pesquisas feitas pelo Mercado Mineiro.A banana prata foi encontrada a R$ 9,98, o quilo, ontem – no mês passado, era R$ 6,75, segundo o Mercado Mineiro. Já o tomate foi visto a R$ 5,98 – contra R$ 5,60 em janeiro.

Tais remarcações já seriam fruto do aumento dos fretes pagos pelos agricultores para transportar as mercadorias até os centros de distribuição – como o Ceasa Minas –, decorrentes, por sua vez, da salta do diesel. De acordo com o presidente da Cooperativa dos Produtores de Hortifrutigranjeiros de Minas Gerais (Coophemg), José Antônio Dias da Silveira, o frete já estaria entre 20 a 25% mais caro desde o fim do ano passado. 

“Com os custos maiores, não há como conter o repasse para frente. Existem pequenos produtores que tem o seu próprio caminhão e tiveram que aumentar o preço, pois se não perderiam a produção na lavoura”, explica Silveira.

E com o produto mais caro saindo da roça, vai ficar mais caro também para quem faz o papel de distribuí-lo para quem revenderá ao consumidor final. Na opinião de Noé Xavier da Silva, presidente da Associação Comercial da Ceasa Minas (ACCeasa/MG), a tendência é que os preços fiquem ainda mais altos ao decorrer de março. 

“Este novo aumento do diesel ainda será refletido nos preços. É uma disparada que não tem como ser contida. Se eu compro mais caro, tenho que revender mais caro. É apenas questão de sobrevivência”, garante o presidente da ACCeasa/MG.

O empresário Magno Batista, de 38 anos, tem visto os preços dispararem a cada semana que vai ao sacolão, em Contagem. Se até o mês passado as compras ficavam em torno de R$ 50 por semana, agora com menos de R$ 100, diz ele, não é possível levar a mesma quantidade de produtos. Batista reclama: manter o padrão alimentar está cada vez mais difícil. “Só estou levando os itens mais necessários, mas, mesmo assim, a compra fica mais cara”, destaca Batista.

 Especialistas não enxergam ‘freio’ na atual escalada de preços

A tendência de alta nos preços dos combustíveis aparenta estar bem longe de um “freio”, segundo especialistas ouvidos ontem pelo HD. Mesmo com a possível troca de comando na Petrobrás, sinalizada pelo presidente Jair Bolsonaro – com a substituição de Roberto Castello Branco pelo general da reserva Joaquim da Silva e Luna -, seria necessário mudar toda a atual política de preços e o modelo de gestão da estatal para que se conseguisse barrar as seguidas altas dos derivados de petróleo.

Para o economista Felipe Leroy, uma mudança na composição dos valores dos combustíveis pela Petrobras, por exemplo, poderia contrariar a lógica do mercado internacional. “Estaríamos indo contra a maré, na contramão completa de como o mercado precifica a commodity”, afirma ele.

“Mexer nisso agora seria um sinal claro para o mercado de que não há compromisso com a gestão”, completa Leroy.

Segundo a também economista Rita Mundin, a possibilidade de a Petrobras retomar algo como um “controle dos preços”, política utilizada em passado nem tão distante, poderia gerar danos enormes nas contas do país. 

“As finanças públicas já estão combalidas e qualquer impacto negativo a mais que sofram pode causar prejuízo e graves problemas para o futuro”, afirma. 

Enquanto os preços nas bombas de combustíveis continuam em alta, supermercados e sacolões, por exemplo, devem seguir com as remarcações. E o gás de cozinha deve repetir essa toada. 

Para o economista Feliciano Abreu, do Mercado Mineiro, a pressão nos preços permanece. “É muito evidente que os preços vão continuar subindo, porque não há receita mágica. Se sobe lá no início da cadeia produtiva, vai desaguar lá na outra ponta, que é o consumidor”, explica.

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