Brinde à nova fase: após crise, restaurantes, bares e supermercados voltam a investir

Tatiana Moraes
tmoraes@hojeemdia.com.br
10/08/2018 às 22:42.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:52
 (MAURÍCIO VIEIRA)

(MAURÍCIO VIEIRA)

Depois de amargar quase quatro anos de desempenhos pífios, os setores de bares, restaurantes e supermercados recuperam o apetite e voltam a lucrar. E a ascensão tem sido rápida. Embora os representantes dos segmentos estimem aumento de 2,8% para supermercados e de leve recuperação para as casas do ramo alimentício, empresários fazem investimentos milionários e preveem incremento de até 30% nos negócios.

Nos últimos quatro anos, 25% dos bares e restaurantes de Belo Horizonte encerraram as operações ou não conseguiram gerenciar o negócio e mudaram de mãos, conforme afirma o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG), Ricardo Rodrigues. 

Depois de tanto dissabor, a expectativa do segmento para 2018 era de, pelo menos, empatar o faturamento do ano passado. Porém, Rodrigues afirma que tem sido surpreendido por resultados positivos. “Temos percebido uma alta no faturamento do setor como um todo. Mas algumas casas têm apresentado desempenho bem acima da média”, diz Rodrigues.

Nas nuvens
Esse cenário de bonança tem sido vivenciado por alguns empresários que apostaram forte no setor.Entre eles está o proprietário do Chopp da Fábrica, Bruno Delli Zotti, que investiu pesado em uma nova unidade do restaurante, localizada em um ponto nobre, na orla da Pampulha. O estabelecimento, que será inaugurado no próximo dia 20, está instalado em uma área de 2,5 mil metros quadrados, com capacidade para 520 pessoas. 

“O plano de ir para a região da Pampulha era antigo. Porém, no ano passado, percebemos uma boa oportunidade de negócio. Conseguimos alugar o espaço onde funcionava o Juscelino, um ponto bem tradicional”, comemora o empresário. De acordo com ele, a região é carente de boas casas. “Tem bons bares e restaurantes, claro, mas são poucos”, diz. 

Com a abertura da nova casa, ele espera aumentar em 15% o faturamento em 2018, na comparação com o ano passado. No local, além dos pratos tradicionais servidos na unidade do Santa Efigênia, uma estação de chope vendido à granel com 12 torneiras, conhecido como growler station, será utilizada para atrair os clientes. “Também teremos uma pão de queijaria e espaço kids”, adianta o proprietário. 

‘A’ padaria

Outro investimento milionário inaugurado na última quinta-feira é o Casa Grão.Localizado na divisa de Lourdes com o Santo Agostinho, na rua Gonçalves Dias, o estabelecimento tem 1,2 mil metros quadrados e abriga padaria, lanchonete, hamburgueria, hortifrúti, restaurante, pizzaria, cafeteria, sushi house e outros. 

Oriundos do segmento de aluguel de máquinas e equipamentos, que registrou forte declínio no faturamento em decorrência da crise econômica, os sócios apostam no setor alimentício para diversificar os negócios.  “Fizemos dezenas de pesquisas e fomos a vários países da Europa e aos Estados Unidos para ver o que dá certo lá fora. Foi uma extensa pesquisa de campo. Chegamos à conclusão de que o setor alimentício realmente é o último a entrar em crise e o primeiro a sair dela”, afirma. O investimento não foi revelado, mas ele garante que o montante aportado no local foi altíssimo.

Macroeconomia

O economista Marcus Renato Xavier explica que em 2015 e 2016, especialmente, houve uma brusca queda na renda per capta do brasileiro devido ao avanço das taxas de desemprego. O número de desempregados subiu 37%, passando de 8,6 milhões para 11,8 milhões

“Alguns especialistas afirmam que a crise alcançou patamares de recessões registradas em séculos passados”, compara.
Como reflexo, alguns segmentos da economia demorarão mais para recuperar o fôlego. Os bares, restaurantes e supermercados não. O motivo é que o consumidor responde rapidamente a esses tipos de negócio.

Capital ganha casa de frutos do mar com aporte de R$ 10 mi

Com investimento de R$ 10 milhões, a Coco Bambu, uma das casas mais tradicionais de frutos do mar do país, escolheu Belo Horizonte para abrir a 30ª unidade. Inaugurada em julho, a marca fortalezense tem planos robustos para a capital mineira. Conforme o sócio-proprietário da unidade, Fernando Costa, a previsão é de aumentar em 15% o faturamento já no primeiro ano.

Engenheiro e ainda sem experiência no setor gastronômico, Costa viu na recuperação do setor de bares e restaurantes uma oportunidade de faturar. “Belo Horizonte estava carente de uma casa de frutos do mar do porte da Coco Bambu. Além disso, o segmento de bares e restaurantes tem mostrado potencial enorme”, afirma.

Na avaliação do empresário, embora o gasto dos belo-horizontinos ainda esteja restrito para produtos duráveis, o investimento em lazer tem voltado a patamares registrados no passado. “Estávamos muito animados com a abertura da casa, mas ficamos surpresos com o movimento, que está altíssimo”, diz. 

A unidade BH da Coco Bambu tem 2 mil metros quadrados e capacidade para 7 mil pessoas. Para incrementar ainda mais o faturamento, no futuro Costa vai implantar serviço de delivery e ampliar o setor de eventos.

Da Boca

 Flávio TavaresCom investimentos de R$ 8 milhões, Mercado da Boca conta com 18 unidades de restaurantes badalados de BH


Mediante investimentos de R$ 8 milhões, o Mercado da Boca foi inaugurado há pouco tempo no Jardim Canadá, mas já ganhou o coração da Grande BH. No prédio de dois andares, que no passado abrigou um shopping de móveis e decoração, funcionam 18 operações de restaurantes badalados. Ivo Faria, por exemplo, dono do tradicionalíssimo Vecchio Sogno, tem um espaço no local.

Por mês, 40 mil pessoas passam pelo Mercado da Boca, que abre de quinta a domingo. “Temos como atrativo os preços acessíveis. Um prato do Ivo Faria custa em média R$ 39,90. Também é possível comprar petiscos por R$ 15, R$ 20”, afirma Renato Badaró, um dos sócios do complexo. 

Outro estabelecimento que desembarcou na Grande BH em busca da recuperação do setor gastronômico foi o Topo do Mundo, que funcionava na Serra da Moeda. Inaugurado em maio na Torre Altavila, o estabelecimento ficou mais próximo da cidade, sem perder o charme da vista exuberante. 

“Quando estávamos na Serra da Moeda nosso faturamento era forte nos fins de semana. Agora, temos público todos os dias. As pessoas voltaram a gastar com lazer, com um momento para elas mesmas”, comemora a proprietária, Ludmila Tamietti. 

Ela não informa o investimento, mas garante que foi alto. O espaço, que abrigou um restaurante japonês por muito tempo, estava abandonado há dois anos. Foi necessário reforma-lo completamente. “Mas valeu a pena!”, garante. Este ano, ela espera aumentar o faturamento em até 30% na comparação com 2017.

Setor supermercadista aposta em expansão neste anoRiva Moreira 

Amis prevê a inauguração de 60 novas lojas neste ano e reforma de outras 74

Depois de atravessar uma intensa crise e registrar queda nas vendas em 2011, o setor supermercadista volta a crescer com intensidade. Para 2018, a previsão é a de aumentar em 2,8% as vendas na comparação com 2017 e faturar R$ 35,33 bilhões. Ampliar os pontos de vendas é uma das estratégias para atingir o objetivo, que tende a ser ultrapassado.

Em 2018, conforme dados da Associação Mineira de Supermercados (Amis), a previsão é a de inaugurar 60 novas lojas e reformar outras 74, mediante investimento de R$ 440 milhões. Como reflexo, 7 mil empregos serão criados. A estimativa, conforme o superintendente da entidade, Antônio Claret Nametala, é conservadora. “Possivelmente, os números serão maiores”, afirma.

O grupo Super Nosso, que concentra as marcas Super Nosso e Apoio, pretende faturar 10% a mais do que o registrado em 2017. De acordo com o proprietário, Euler Nejm, a projeção ousada é consequência direta dos investimentos realizados pela marca. “Inauguramos recentemente um Super Nosso no Salgado Filho e um Apoio no Guarani. E estamos construindo outras lojas”, adianta.

Neste mês, será inaugurada uma unidade em Contagem, na avenida Babita Camargos. Em novembro é a vez do bairro São Benedito e em dezembro serão abertas lojas em Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), e no Cidade Nova.

“Percebemos que o consumidor voltou às compras. O carrinho está mais cheio. Ainda não chegamos ao ritmo que gostaríamos, mas trabalhamos com uma retomada de longo prazo. Não podemos parar de investir. O ramo exige escala e produtividade para ganhar share”, pondera Nejm. 

Outra estratégia utilizada para ampliar as vendas é a inauguração do Apoio Entrega, o serviço de compras on-line do atacarejo. “Será possível parcelar as compras. É um serviço inédito em termos de atacado”, adianta Nejm.

O supermercado Verdemar também aposta na expansão para faturar mais. De acordo com o sócio do estabelecimento, Alexandre Poni, duas lojas estão em obras. Uma no bairro Cidade Nova e outra em Nova Lima. “Não é um momento fácil da economia, mas acreditamos nos nossos diferenciais. Agora, trabalhamos para chegar mais perto do cliente”, diz. Com a inauguração das unidades, a previsão é de gerar mais 600 postos de trabalho. 

  



 

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