Conforto bem-vindo: na Europa, grifes propõem modelagem oversized para eles

Flávia Ivo
fivo@hojeemdia.com.br
02/07/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:20
 (Miguel Medina/AFP)

(Miguel Medina/AFP)

Uma eterna sexta-feira. Talvez seja esse o recado para um novo código do vestir masculino que as grifes quiseram passar ao desfilarem coleções nas duas principais semanas de moda voltadas para os homens na Europa.

As 84 marcas que estiveram nas passarelas de Milão e Paris, nos últimos 15 dias, mostraram que a bola da vez são as modelagens mais amplas, refletindo um desejo do consumidor em sentir-se confortável tanto nos locais de lazer quanto no ambiente corporativo.

O oversized, há pelo menos três temporadas, tem aparecido nos desfiles para apresentar uma alternativa aos modelos skinny, justos, de cintura-baixa que, muitas vezes, são incômodos no corpo.

Para Aldo Clecius, professor e cool hunter do curso de Moda do Centro Universitário Una, uma consequência da nostalgia daquilo que não foi vivido pela geração chamada millenial.

“Os nascidos no fim da década de 1990 sentem uma necessidade na busca de uma estética mais antiga, que se traduz em calças e bermudas com a cintura mais no lugar. Eles, que são os grandes propagadores de tendências, têm procurado muitas referências e peças em brechós, por exemplo”, observa.

Clecius destaca que a mudança de estética no vestir masculino atende ao homem contemporâneo, que também deseja consumir moda, produtos de beleza e preocupar-se com a aparência.

“O desfile da Dolce&Gabbana para a Primavera/Verão 2018, visto agora em Milão, deixou clara essa vontade deles, ao mostrar muitas estampas, cores e ousadia na passarela”, diz.

A vibe casual e destemida proposta pela grife italiana também chamou a atenção da consultora de imagem e estilo Juliana Marangoni.

“Estampas como as de cartas de baralho e de limão siciliano refletem homens joviais e modernos, mesmo que elas estejam aliadas a modelos tradicionais como os ternos”, coloca. 

Subversão

Além da introdução de peças menos ajustadas ao corpo, o claro caminho dos homens para a informalidade também apareceu em uma espécie de subversão do guarda-roupa corporativo sugerida por marcas como a Fendi. 

“Na parte de cima, peças mais formais. Na parte inferior, a informalidade, com bermudas e sapatos sem meias. Podemos dizer que a combinação de tecidos mais leves com mais pesados feita pela grife criou um mix equilibrado, com uma pegada esportiva”, analisa Marangoni. 

Uma tendência de futuro, acredita Aldo Clecius. “Quando o público de hoje (geração millenial) chegar à maturidade, não haverá a preocupação de usar terno para trabalhar. Um retrato do uso do home office. Atualmente, o lazer e a casa invadiram a hora e o local do trabalho e vice-versa”, observa.

O professor também considera a possibilidade de a bermuda ser uma realidade nos escritórios em um tempo não muito distante. “Eles estão procurando a mesma liberdade que elas têm para vestir, ainda mais em países de clima quente como o Brasil”.

Hoje em dia, conforme Juliana Marangoni, já é possível “brincar” um pouco no ambiente corporativo. “Depende muito da área de trabalho e do código de vestimenta da empresa. Um ponto focal de cor, por exemplo, já faz toda a diferença”.

Cores para a temporada refletem sentimentos gerados pelas crises vividas no mundo

Apesar de criarem coleções para Primavera/Verão, temporadas tradicionalmente marcadas por peças em cores claras e alegres, as grifes apostam em uma cartela de cores mais sóbria e fria para o período em 2018. 

Conforme o professor de moda Aldo Clecius, que realiza na Una um trabalho constante de análise de tendências para o setor, a moda está refletindo muito a realidade. 

“Em todo o mundo, há crises acontecendo simultaneamente. Temos a nossa aqui no Brasil, mas, na Europa, a questão dos refugiados, das mudanças nos comandos. Nos Estados Unidos, a insegurança vivida com Trump. Nesses momentos da história, a tendência é apostar em cores que transmitam segurança e confiança”, explica. Por isso, os tons de cinza e azuis, por exemplo.

O clima bélico, presente no subconsciente das pessoas, aparece na manutenção das cores ligadas ao militarismo, como o verde utilizado nos uniformes da Segunda Guerra Mundial, coloca Clecius. “Tons terrosos também ganham força, sendo reflexo de um desejo de desacelerar, de deixar o ambiente urbano e voltar ao campo, ao contato com a terra”, conclui.

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