Corrupção no Brasil, Justiça e o filme La Nave Va

Do Hoje em Dia
22/11/2012 às 06:19.
Atualizado em 21/11/2021 às 18:30

O empresário Carlos Augusto Ramos pode assistir hoje em casa a leitura do relatório da CPI do Cachoeira, da qual foi um protagonista silencioso, pois obteve na Justiça o direito de não depor para os membros da Comissão Parlamentar de Inquérito. Depois de quase nove meses na prisão, ele deixou o complexo penitenciário da Papuda, em Brasília, passados cinco minutos da meia-noite desta quarta-feira, e antes das três da madrugada já repousava em casa, num condomínio de luxo de Goiânia.

A Justiça do Distrito Federal, ao julgar o processo originado da Operação Saint-Michel que investigou fraudes no sistema de bilhetagem do transporte público local, condenou Carlinhos Cachoeira a cinco anos de prisão em regime semiaberto. E emitiu, em seguida, o mandato de soltura.

O timing em certos processos judiciais poderia causar inveja a Federico Fellini, diretor do filme E La Nave Va. No momento em que a Imprensa informava que o relator da CPI, deputado petista Odair Cunha, pedirá o indiciamento de mais de 40 pessoas e, ao Conselho Nacional do Ministério Público, a investigação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, liberta-se o acusado de ser o gestor de um dos grandes esquemas de corrupção que tanto mal fazem ao país.

A CPI do Cachoeira, criada por inspiração de políticos que pretendiam desviar a atenção da opinião pública do julgamento do mensalão, nada avançou além do que já havia apurado a Polícia Federal. Mas reforçou o entendimento de que ninguém é obrigado a depor contra si mesmo. Como Cachoeira, todos os mais importantes convocados pela CPI se calaram. A partir de agora, será muito difícil a uma CPI investigar, principalmente quando a maioria de seus membros se recusa a aprovar a quebra de sigilos bancários e telefônicos de uma empreiteira como a Delta, temendo que eles mesmos ou seus partidos ou apoiadores sejam atingidos.

Para coroar tanta desmoralização, temos um relatório redigido sob fortes pressões para incluir ou deixar de incluir nomes. E que dificilmente contribuirá para a moralização da política brasileira ou servirá para lustrar as imagens do Ministério Público e do Judiciário.

De positivo, o Supremo Tribunal Federal retomou ontem o julgamento do mensalão petista, sob a presidência do relator Joaquim Barbosa, e dosou as penas de mais cinco réus. Para os denunciados no mensalão mineiro, uma boa notícia: o severo ministro Barbosa deixará de ser o relator desse processo.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por