Corrupção suspende investimentos em infraestrutura e trava a economia

Tatiana Lagôa e Tatiana Lagôa
tlagoa@hojeemdia.com.br / tmoraes@hojeemdia.com.br
06/07/2016 às 22:14.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:11
 (WESLEY RODRIGUES 26/02/2016)

(WESLEY RODRIGUES 26/02/2016)

O efeito cascata do roubo de dinheiro público faz vítimas em todos os setores da economia. E vai mais longe do que se imagina, conforme mostra a quarta matéria da série “O Custo da Corrupção”. Somente em 2015, mais de R$ 160 bilhões deixaram de girar no Brasil em decorrência da redução dos investimentos em obras, grande parte interrompidas devido às ações da operação “Lava Jato”, que investiga e pune desvios de recursos, lavagem de dinheiro, recebimento de propinas e ligações fraudulentas entre órgãos e empresas do governo e as maiores empreiteiras do país. 

Em 2010, auge dos investimentos em infraestrutura, e, também, marco das denúncias de financiamentos ilegais de campanhas eleitorais de diversos partidos, o governo federal aportou R$ 114,7 bilhões em obras no país. Um ano após a instalação da Lava Jato, em 2015, os aportes caíram para R$ 12,7 bilhões, diferença de R$ 102 bilhões. 

Segundo levantamento do Sindicato Nacional da Indústria da Construção (Sinicon), a cada R$ 1 milhão investido na construção, R$ 1,6 milhão é injetado na economia. Nesta proporção, os R$ 102 bilhões deixados de lado em 2015 na construção se transformariam em mais de R$ 160 bilhões distribuídos em setores diversos. 

“O país tinha um programa de investimento em infraestrutura avançado em 2010. E esse programa deveria ser mantido. Em 2015, ele voltou ao ritmo lento de 2008”, ressalta o diretor-executivo do Sinicon, Petrônio Lerche Vieira. 

Em Lagoa Santa, por exemplo, as obras de construção do Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica (Ciaar), tocadas pela Schahin Engenharia, estão paradas, após falência do braço de construção da empresa – investigada na “Lava Jato”. Inicialmente orçado em R$ 216,4 milhões, o valor do Ciaar foi revisto para R$ 237,6 milhões após uma sucessão de erros e atrasos .

Além da própria construção, o comércio é um dos setores mais afetados pela redução no ritmo de obras. A cada R$ 1 milhão investido[/TEXTO] em obras, R$ 173 mil giram no varejo. Se o ritmo do investimento em construção de 2010 fosse mantido em 2015, mais de R$ 17,7 bilhões circulariam no setor. 

O montante poderia dar alívio ao desempenho negativo do comércio brasileiro em 2015. No ano, houve recuo de 4,5% nas vendas na comparação com 2014, o pior resultado da série histórica, iniciada em 2001, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Empregos que foram ceifados no segmento também poderiam ter sido poupados. Segundo o Cadastro Geral de Empregos (Caged), do Ministério do Trabalho e da Previdência Social, 246.406 vagas foram encerradas no varejo em 2015.

A relação entre corrupção, interrupção de grandes obras públicas e queda vertiginosa no comércio é clara e direta, segundo o vice-presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marco Antônio Gaspar. 

Ele ressalta que a economia é cíclica e que as demissões provocadas no setores da construção civil e pesada fazem com que as pessoas coloquem o pé no freio quando o assunto é consumo. Como reflexo a indústria produz menos e há um descompasso geral no país. 

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