Crescem as oportunidades de emprego para transgêneros na capital mineira

Fábio Corrêa
fcaraujo@hojeemdia.com.br
26/01/2018 às 22:59.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:59
 (LUCAS PRATES)

(LUCAS PRATES)

Apesar da crise e do elevado índice de desemprego no país, os trabalhadores transgêneros, que praticamente viviam na informalidade, estão conseguindo aos poucos superar os preconceitos e obstáculos e ingressar no mercado formal de trabalho.

Dados da ONG Transgender Europe mostram que 90% dos indivíduos que fizeram a transição para um gênero diferente daquele com o qual nasceram ou estão nesse processo, vivem sem registro na carteira de trabalho, levando inclusive a atividades vulneráveis, como a prostituição.

No entanto, iniciativas específicas de empresas e entidades da sociedade civil têm buscado derrubar essa barreira à empregabilidade de transgêneros. “Nunca houve uma política das empresas, de um modo geral, nem do estado, de contratação e qualificação de transsexuais. O que existe são empresas que, em situações pontuais, contratam algumas pessoas”, diz Duda Salabert, presidente da ONG belo-horizontina Transvest, que faz a capacitação e a inclusão de pessoas trans no mercado de trabalho.

Duda contesta os dados da Transgender Europe e estima em apenas 1% a parcela dos transgêneros que estão em empregos formais. Para ela, quem consegue uma assinatura na carteira de trabalho acaba tendo que aceitar menor remuneração em relação à população cisgênero, além de enfrentar problemas como o assédio. “Isso ocorre porque os corpos travestis são hiperssexualizados pela sociedade e acabam como se fossem um objeto sexual”, afirma a militante.
Além de um curso pré-vestibular para capacitar transexuais, a Transvest, por meio de uma parceria com a produtora de eventos Macaco, conseguiu empregos freelancer para 50 pessoas desse grupo, que vão ocupar, no Carnaval, vagas como de segurança, barman e caixa. 

<EM>A experiência já foi testada neste pré-Carnaval. A sócia-proprietária da Macaco, Carol de Amar, diz que a experiência tem superado as expectativas. “Elas dão muito mais valor, trabalham com envolvimento. Não estão ali só por causa do cachê, pois sempre tiveram que provar que são capazes, e abraçam as oportunidades”, avalia Carol.

Mudança
Primeira advogada do Brasil a conseguir o nome social pela OAB, Márcia Rocha, coordenadora desde 2014 do site Transempregos, voltado para gerar oportunidades para pessoas transgêneros como ela, vê uma melhora na situação. “Tem surgido cada vez mais empresas, grandes e pequenas, dando oportunidades de todos os tipos. Há centenas de trans trabalhando, alguns inclusive como gerentes de multinacionais”, observa Márcia. Hoje, a Transempregos tem cerca de 3 mil currículos cadastrados – a maioria de profissionais com cursos superior ou profissionalizante. 

Márcia também ressalta que os próprios empresários têm percebido que o preconceito é contraproducente. “Se você disser que é preconceituoso e for tirar do seu negócio mulheres, gays, negros, pessoas com deficiência e trans, vai vender pra quem?”, diz.

Diversidade
Ciente da importância da promoção da diversidade no ambiente de trabalho, a empresa de call center e tecnologia AeC, com sede em Belo Horizonte, possui há sete meses a coordenadoria #DiversificAeC, parte da ouvidoria da companhia. A empresa conta com um processo simplificado para aquisição de nome social nos crachás. “Temos 12 pessoas que solicitaram a mudança e metade deles começou a transição de gênero enquanto trabalhava na AeC”, conta Mônica Figueiró, coordenadora do #DiversificaAeC. 

Na visão dela, acolher os funcionários desse grupo específico diminui, por exemplo, o número de faltas no trabalho. “A falta no call center gera muito prejuízo para a empresa. A partir do momento que a pessoa trans não falta, se sente confortável e amparada, ela aumenta a produtividade, fica mais colaborativa e cresce dentro da empresa”, analisa.

Luiz Felipe Lopes Domingues, 23 anos, entrou na AeC há um ano e sete meses, ainda como Elisa. Há um ano, começou a transição de gênero e, no meio tempo, passou de atendente de telemarketing a auxiliar de planejamento. Semana passada, Luiz recebeu a notícia de que foi admitido na escola de liderança da empresa, último passo antes de virar supervisor de operações. “As pessoas não podem desistir. Sei de gente que passou coisas piores que eu e é também por causa delas que estou onde estou hoje”, afirma, lembrando que ainda há um longo caminho para a tolerância. 

Por ocasião do Dia Nacional da Visibilidade Trans, comemorado hoje, o Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais (Cellos-MG) realiza uma série de eventos durante a semana sobre o tema da diversidade. A programação completa podeser acessada no link facebook.com/semana.devisibilidade.9
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