Entrevista

'As pessoas estão de olho para saber como lucrar no metaverso', diz CEO da Monetizze

Izamara Arcanjo
Especial para o Hoje em Dia
09/05/2022 às 06:30.
Atualizado em 09/05/2022 às 07:31
Márcio Motta, CEO da Monetizze (Fernando Michel)

Márcio Motta, CEO da Monetizze (Fernando Michel)

Depois que Mark Zuckerberg lançou, em julho do ano passado, sua nova marca, Meta, e se autointitulou uma “metaverse company”, o assunto metaverso não sai de pauta. De acordo com especialistas em tecnologia, o metaverso poderá ser utilizado por diversos segmentos, como a moda, educação, recursos humanos e saúde. Mas, afinal, o que é metaverso e como ele impacta a vida real das pessoas? “Na verdade, não é nada novo, ainda é pouco acessível, mas tem futuro”. O alerta é do especialista e CEO da Monetizze, Márcio Motta, empresa líder de Minas Gerais em sistema de pagamentos para o e-commerce. Embora tenha sido criada em 2015 com um investimento de R$ 30 mil, a plataforma só começou a dar lucro em 2016. Hoje, a Monetizze conta com mais de 700 mil usuários cadastrados, entre donos de e-commerce e afiliados, e disponibiliza para venda cerca de 8.000 produtos. Motta não revela o valor do faturamento, mas diz que hoje a receita mensal é de alguns milhões. Márcio Motta conversou com a equipe de reportagem do jornal Hoje em Dia sobre a tecnologia que envolve o metaverso.

O que é o metaverso?
O metaverso é qualquer software virtual em que você interage com ele e tenha um avatar, algo que te represente, um espaço virtual, em que você pode fazer alguma coisa. Então, o Facebook apenas mudou o nome da holding para Meta para investir mais no metaverso e todo mundo acha que o metaverso foi criado agora porque o Marck Zukerber fez aquela apresentação com o seu avatar o representando, mas, na verdade, o metaverso já existe a muito tempo, desde a década de 1990, quando foram lançados jogos como o The Sims e o Second Life, em que você tinha vida, você se casava, tinha filhos, comprava carro, comprava casa, tudo dentro da plataforma. Só não era tão imersivo como hoje, com a utilização dos óculos que as empresas já estão desenvolvendo há algum tempo, mas já era um tipo de metaverso.

Então podemos dizer que o metaverso não é nada novo e que se trata deste espaço virtual onde muita gente já está inserida?
Sim, não é novo, mas com as novas atualizações, ele está se tornando muito mais imersivo, o que garante que ele se torne mais atrativo e procurado pelas pessoas e pelas empresas.

E com relação à acessibilidade? Nem todo mundo tem acesso fácil à internet no Brasil. Essa tecnologia pode ser considerada cara ainda?
Essa tecnologia dos óculos 3D, que permite a imersão total, é muito cara. Os óculos, no Brasil, custam em torno de R$ 3.500 a R$ 4.000, então, não é uma tecnologia acessível ainda. Mas o que tem interessado mais o pessoal é a parte de venda online, a possibilidade de vender nestes espaços virtuais que serão criados. Ou seja, há mais interesse no software do que no hardware. Eu acredito que, com o tempo, essa tecnologia vai ficar muito mais acessível, à medida em que houver mais aderência ao produto.

As tecnologias se desenvolvem em uma velocidade muito grande e as empresas estão tendo que se adequar a essa agilidade. Na sua perspectiva, em quanto tempo as empresas devem aderir ao metaverso?
Eu acredito em uns 15 a 20 anos já vai ter muita gente fazendo parte da tecnologia de um metaverso mais imersivo. Se a gente parar para pensar, em 2005 quase ninguém tinha um site de vendas. Hoje, após 18 anos, se você não tem um site, você está perdendo vendas. Isso ficou muito claro com a pandemia. Pequenos restaurantes que não estavam no Ifood ou fazendo delivery, faliram. Ainda bem que muitos deles conseguiram se adequar rápido, mas alguns não conseguiram. Em contrapartida, quem já estava na rede conseguiu reduzir os custos da venda presencial e investir no online. Teve caso de restaurante que vendeu três vezes mais na pandemia e que fechou o espaço físico, isso por causa do on-line. Então no metaverso vai ser a mesma coisa. Trata-se de mais um canal para você ganhar dinheiro. Não vai substituir o físico e nem os canais de vendas tradicionais. É mais um canal para conseguir clientes.

Mas você acha que os empresários brasileiros estão preparados para esta conversa, Márcio?
Infelizmente, não, principalmente os que ainda estão muito apegados aos espaços físicos. Quem está entrando agora no mercado vai ter mais facilidade de se adaptar. Há vários comércios que só vendem on-line e vendem muito. Só a título de exemplo, posso citar o caso da Netshoes, que não tem loja física. O que eu acho é que quem não se adequar será substituído.

Quais as áreas podem ser mais bem-sucedidas no metaverso?
Eu acho que a área que vai receber mais investimento inicialmente será a de entretenimento, porque ela acaba atraindo um público maior, inclusive os mais jovens. Mas eu vejo como uma área com grande potencial a de educação. Porque muitos jovens vão para a escola por obrigação. Quando os jovens voltam da escola e terminam o ‘para casa’, eles retornam para a tecnologia, é disso que eles gostam. Imagine se, ao chegar na sala de aula, eles tivessem o metaverso para estarem imersos ali, juntamente com a professora, ensinando-os a matéria com um avatar e utilizando a gamificação, onde os vencedores, poderão ter mais poderes no jogo, ganhar uma roupa nova para seu avatar, enfim, ganhar esse jogo aprendendo? Eu acho que seria um bom investimento, mas sabemos que, para as escolas públicas, isso ainda não é acessível. Este é um problema atual.

Você acha que é o momento de as empresas investirem no metaverso?
Na verdade, o metaverso não é algo muito palpável e uma realidade para o mercado brasileiro ainda. O Mark Zuckerberg fez toda aquela apresentação, a publicidade, mais para mostrar que em algum momento vamos chegar neste ponto. Você não consegue baixar um software oficial do Facebook de metaverso. Você tem alguns jogos que você joga no metaverso. Você não tem por exemplo a possibilidade de dizer: estou na cidade tal no metaverso e vou te encontrar. Não existe o metaverso do jeito que ele foi pintado e, por enquanto, é ficar de olho para acompanhar e, quando tivermos algo mais plausível, investir, pois quem chegar na frente vai beber água limpa.

Você se tornou um caso de sucesso no universo das empresas de tecnologia principalmente depois da criação da Monetizze. Hoje você é o maior concorrente da Hotmart, uma das maiores empresas no setor de marketing de afiliados. Como se deu este processo?
Eu comecei a desenvolver a Monetizze em 2013, a partir da ideia de amigo, que me alertou que o mercado de afiliados estava começando a se desenvolver no Brasil e, nos Estados Unidos, já existia há muito tempo. Foi a partir daí que comecei a fazer pesquisa no mercado para entender qual seria o sonho tecnológico das empresas para que elas pudessem vender mais. Qual era o intuito? Melhorar a vida deles no aspecto online e tecnológico para que este empresário precisasse só cuidar de fazer a venda. Toda outra parte do pagamento, como emissão de nota fiscal, nossa tecnologia iria resolver, de modo que ele focasse no produto e melhorasse o desempenho nas vendas. Assim, consegui desenvolver um software, levei dois anos para desenvolver esse software, ele foi para o ar em 2015 , que é a Monetizze. A empresa foi crescendo, sempre ouvindo os clientes, sempre solucionando problemas para esses clientes e ele cada vez agrega mais gente.

Hoje quantos clientes tem a Monetizze?
De produtores que vendem com frequência são mais de 30 mil. De cadastrados, a gente tem milhares e, de vendas, são alguns bilhões de reais de vendas dentro da plataforma em apenas sete anos.

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