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Guerra Rússia X Ucrânia agrava ainda mais o mercado de carros novos

Hermano Chiodi
hcfreitas@hojeemdia.com.br
10/03/2022 às 06:30.
Atualizado em 10/03/2022 às 07:52
REVENDA – Para o empresário Flávio Maia, o mercado de seminovos e usados tende a ganhar ainda mais sobrevida por conta do prolongamento da crise dos componentes (Divulgação)

REVENDA – Para o empresário Flávio Maia, o mercado de seminovos e usados tende a ganhar ainda mais sobrevida por conta do prolongamento da crise dos componentes (Divulgação)

Com o prolongamento da guerra entre Rússia e Ucrânia – iniciada em 24 de fevereiro –, a possibilidade de faltar matérias-primas indispensáveis à produção de veículos novos em todo o mundo aumentou, agravando ainda mais a oferta de modelos saídos de fábrica no Brasil. A situação deve, inclusive, provocar já no curto prazo um aumento nos preços dos seminovos, admite a Assovemg (Associação de Revendedores do Estado de Minas Gerais).

A situação se agravou porque os dois países são as principais fontes dos gases químicos C4F6 e neon, vitais para a produção dos semicondutores usados na fabricação de veículos novos. Além disso, a Rússia é fonte importante de metais usados em toda a indústria fabril como níquel, alumínio, titânio e paládio, sendo responsável por grande parte do fornecimento de petróleo mundial. Já a Ucrânia é responsável por abrigar não só fábricas de peças para automóveis, conectadas com cadeias de suprimentos da indústria russa e europeia, mas algumas das principais montadoras do mundo. 

A expectativa era que a crise no fornecimento mundial dos microchips terminasse ainda neste primeiro semestre, mas com o conflito, já não há previsão de quando o mercado irá se normalizar.
Uma das primeiras consequências desse cenário se dará no incremento ainda maior na venda de carros seminovos e usados, que já vem de uma forte alta em 2021, com um crescimento de 17,8% em relação a 2020. 

O cenário em Minas Gerais é um exemplo do que acontece no restante do Brasil. Em fevereiro, foram comercializados 104.437 carros seminovos e usados, totalizando um aumento de 3,4% em comparação ao mês de janeiro, indicando uma tendência de crescimento, segundo a Assovemg. 

A gerente regional da assessoria de investimentos XP Inc em Minas Gerais, Jéssica Oliveira, explicou que, em relação à guerra, “o que se espera é um aumento no preço de insumos essenciais para a produção de veículos, como o aço e semicondutores, o que vai acabar por encarecer o produto final. “Esse cenário pode agravar ainda mais o desempenho do setor, que já vinha sofrendo com o desequilíbrio entre a oferta e a demanda por componentes eletroeletrônicos dos carros no pós-pandemia”, disse.

Essa expectativa chega até as revendas. Segundo Flávio Maia, proprietário de uma loja de automóveis em Belo Horizonte e diretor de Marketing da Assovemg, “o crescimento de vendas não deve chegar aos níveis de 2021, mas com certeza vai ter um crescimento bastante satisfatório”, diz.

Redução de IPI

Dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) mostram que a produção e o licenciamento de veículos novos está em queda no Brasil desde o início da pandemia, com redução anual de 21,7% na produção, só entre janeiro de 2021 e fevereiro deste ano. A entidade também alerta para os riscos de a guerra entre Rússia e Ucrânia agravar a situação.

Para reverter o cenário e aumentar a venda de veículos zero quilômetro, a Anfavea conta com a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). A expectativa dos produtores é que a redução de 18,5% no tributo provoque quedas de entre 1,4% e 4,1% no preço dos veículos novos.

Outros fatores

Além da crise mundial no fornecimento de semicondutores, o surgimento da variante Ômicron da Covid-19 e as fortes chuvas do início de 2022 levaram a atrasos na produção de veículos novos. Segundo a Anfavea, houve uma leve queda na fila de espera por veículos novos, mas ainda há modelos com até seis meses de fila.

Além disso, o Proconve (Programa de Controle de Emissões Veiculares) determinou que os automóveis leves fabricados a partir do dia 1º de janeiro de 2022 deveriam emitir menos poluentes que os fabricados em 2021 o que, segundo a Assovemg, pode dificultar ainda mais a entrega de veículos novos.

O cenário econômico também não ajuda. A alta de 3,9% no PIB registrada em 2021 comparada ao lento 2020 não deve se repetir neste ano, conforme expectativa da Anfavea, que projeta alta de 0,5%. Outro fator importante é a alta da Selic (Taxa Básica de Juros) que subiu 1,5% no mês passado e deve seguir pressionando o setor de financiamentos.

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