IPCA abaixo do piso da meta se deve à deflação de alimentação no domicílio, diz BC

Estadão Conteúdo
10/01/2018 às 17:21.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:41
 (Wilson Dias/Agência Brasil)

(Wilson Dias/Agência Brasil)

O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, pontuou nesta quarta-feira, (10), em carta aberta ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que a inflação medida pelo IPCA situou-se "ligeiramente" abaixo do limite inferior de tolerância da meta, "em razão da deflação dos preços dos alimentos no domicílio".

Na carta, Goldfajn chamou a atenção para o fato de este subgrupo ter acumulado, em 12 meses, 16,79% em agosto de 2016, 9,36% no encerramento de 2016 e -4,85% no fim de 2017. "A queda de 14,21 pontos porcentuais (p.p.) entre o fim de 2016 e o de 2017 na inflação do subgrupo alimentação no domicílio contribuiu com 2,39 p.p. para a queda da inflação medida pelo IPCA, de 6,29% em 2016 para 2,95% em 2017", disse Goldfajn.

Segundo ele, se for excluído do IPCA o subgrupo alimentação no domicílio, "fazendo posteriormente a reponderação do índice, a inflação passaria de 5,68% em 2016 para 4,54% em 2017, valor muito próximo à meta de inflação para esse ano".

Goldfajn afirmou ainda, na carta, que o comportamento dos preços dos alimentos refletiu, preponderantemente, as condições de oferta, "que permitiram níveis recordes de produção agrícola". Ele lembrou que a produção agrícola de grãos foi recorde para a safra 2016/2017, "com crescimento em torno de 27% sobre a safra anterior de 2015/2016".

"A excepcionalidade do comportamento dos preços de alimentação no domicílio fica evidente quando observamos que a variação acumulada em doze meses representou a maior deflação da série histórica, que começa em 1989, e a primeira desde 2006", acrescentou. "No mesmo sentido, entre 2005 e 2016, período com meta para inflação de 4,5%, a inflação anual média do IPCA situou-se em 5,63%, enquanto a do subgrupo alimentação no domicílio esteve em 7,24%."

Para Goldfajn, considerando o comportamento excepcional dos alimentos, decorrente de choques fora do alcance da política monetária, o BC "seguiu os bons princípios no gerenciamento de política monetária e não reagiu ao impacto primário do choque".

De acordo com o presidente do BC, "não cabe inflacionar os preços da economia sobre os quais a política monetária tem mais controle para compensar choques nos preços dos alimentos". "A política monetária deve combater o impacto dos choques nos outros preços da economia (os chamados efeitos secundários) de modo a buscar a convergência da inflação para a meta", acrescentou Goldfajn.

A carta aberta divulgada nesta quarta traz as justificativas do Banco Central para o fato de a inflação oficial de 2017, divulgada nesta quarta pelo IBGE, ter ficado abaixo de 3,0%, em 2,95%. O centro da meta de inflação perseguida pelo BC em 2017 era de 4,5%, com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual (inflação entre 3,0% e 6,0%). Pelas regras do regime de metas, sempre que a inflação fugir do intervalo estabelecido, o presidente do BC precisa enviar uma carta aberta ao ministro da Fazenda - que é, tecnicamente, o presidente do Conselho Monetário Nacional (CMN), responsável pelo estabelecimento das metas.

No passado, o descumprimento havia ocorrido nos anos de 2001, 2002, 2003 e 2015. Em todos esses casos a inflação havia ficado acima do teto do intervalo da meta. Em 2017, porém, o problema foi uma inflação muito baixa, inferior ao piso.Leia mais:
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