NEGÓCIO QUE RELUZ

Peças únicas, marcas de luxo e pedras coloridas: setor de joias espera crescer 1,79% ao ano até 2027

Rodrigo de Oliveira
rsilva@hojeemdia.com.br
29/01/2023 às 16:04.
Atualizado em 29/01/2023 às 16:15
A empresária e joalheira Graciele Reis tem um negócio de jóias feitas de forma personalizada (Divulgação)

A empresária e joalheira Graciele Reis tem um negócio de jóias feitas de forma personalizada (Divulgação)

Impactado pela pandemia, por causa da redução de eventos sociais e perda de poder de compra, o mercado de jóias tem se recuperado e ensaia um crescimento a longo prazo.

Em 2021, segundo o Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM), o segmento arrecadoou US$ 4,5 bilhões -- 20% a mais do que o ano anterior, que sofreu mais fortemente os efeitos da crise da Covid-19. Já o relatório Brazil Jewelry Market Industry, publicado pela Mordror Intelligence, aponta uma otimista previsão de crescimento anual de 1,79% até 2027.

Manoel Bernardes, diretor da marca que leva o seu nome, afirma que as marcas de luxo, já consolidadas no mercado, sentiram menos o impacto da redução de vendas. 

“Nomes como Cartier, Rolex e Louis Vuitton, que já são bem posicionadas e têm uma estratégia bem consolidada, se saíram melhor na tarefa de reter os clientes. Em tempos de insegurança, como a pandemia, os clientes buscam marcas com uma forte percepção de luxo e que tendem a desvalorizar menos a longo prazo”, analisa. 

Para ele, algumas tendências de consumo vão ajudar a “puxar as vendas” e ajudar a concretizar a previsão de crescimento feita pelo relatório Brazil Jewelry Market Industry.

“As jóias que marcam algum compromisso, como os anéis para pedido de namoro e noivado, têm crescido nas vendas. As pessoas têm buscado peças para marcar esses rituais. Outra tendência é a compra de produtos com diamante, que é uma pedra super valorizada no mercado”, diz. 

(Lucas Prates - Hoje em Dia)

(Lucas Prates - Hoje em Dia)

O empresário também aponta “um discreto” rompimento das fronteiras entre o masculino e o feminino. E afirma que a tendência do “genderless”, ou “peças sem gênero”, veio para ficar. 

“Hoje em dia é comum vermos homens usando colar de pérolas, peça que, até algum tempo atrás, só era visto no pescoço de mulheres. Estamos vivendo uma quebra de paradigmas e isso impacta nas vendas”, ressalta. 

De acordo com Bernardes, “nem tudo são flores” e a marca também tem seus próprios desafios para se manter relevante no mercado. 

“Algumas coisas estão no nosso radar, como a digitalização dos processos e a dificuldade de atrair um público mais jovem. Outra questão é a venda on-line, que ainda é usada por um público específico e para peças de menor valor. Clientes que compram peças de maior valor ainda preferem a experiência da venda física”, explica. 

De acordo com a Brasil Gemas, quase 21% das vendas de fim de ano de 2021 foram realizadas por meio do e-commerce, um crescimento de quase 15% em relação à pré-pandemia de 2019.

Raymundo Vianna, presidente do Sindicato das Indústrias de Joalherias, Ourivesarias, Lapidações e Obras de Pedras Preciosas, Relojoarias, Folheados de Metais Preciosos e Bijuterias no Estado de Minas Gerais (Sindijoias-MG) e da Associação dos Joalheiros, Empresários de Pedras Preciosas, Relógios e Bijuterias de Minas Gerais (Ajomig), concorda com a importância da venda presencial. 

“O cliente que compra uma jóia quer ver de perto, experimentar e sentir a textura. É preciso que os vendedores tenham o ‘feeling’ de ler o cliente e oferecer algo que se encaixe no gosto e personalidade de quem compra. É praticamente uma consultoria”, afirma. 

Segundo Vianna, nos últimos 10 anos, uma tendência que floresceu forte foi a venda de jóias com pedras coloridas, como a ametista e a turmalina. Essa segunda, de acordo com ele, pode ter até 100 tonalidades diferentes. 

“É uma forma de contornar o aumento do preço do ouro e as pedras coloridas também oferecem uma possibilidade maior de criações. Somos um país tropical e as pessoas estão entendendo que o nosso design pode refletir isso”, explica. 

Para ele, um dos caminhos para que a indústria de joias se fortaleça ainda mais no país é “diminuir a exportação de matéria-prima” e, claro, fortalecer o mercado interno. 

“Não adianta entregar as pedras para que outro país crie valor em cima delas. Precisamos fortalecer a nossa produção, com o nossos designers, produzindo nossas peças. Assim, mesmo que a gente exporte algumas peças, o importante já fizemos, que foi gerar empregos no país e gerar valor de mercado para o que é nosso”, acredita. 

Se a pandemia “castigou” o setor durante um tempo, ela também ressignificou negócios e abriu novas possibilidades. A Noble, empresa que nasceu em 2017 e vendia no atacado, agora vem se especializando em produtos feitos sob demanda para o varejo. 

De acordo com a empresária e joalheira Graciele Reis, o cliente chega com suas ideias, referências e começamos o trabalho do zero. Peças mais simples ficam prontas em uma semana e, as mais complexas, podem levar até 40 dias. 

“Pode ser um anel com alguma frase especial ou jóias com iniciais de amigos. A pandemia fez com que as pessoas refletissem sobre suas relações e buscassem algo único, com significado e que só elas têm. A peça vira quase um amuleto e a pessoa pode contar a história dela depois”, conta. 

Além disso, peças que já não seriam utilizadas “por ter um design datado” ou que representam um momento ruim, como uma separação, também são ressignificadas. 

Peças da Noble são feitas de acordo com a vontade do cliente (Divulgação)

Peças da Noble são feitas de acordo com a vontade do cliente (Divulgação)

“Uma cliente trouxe algumas jóias de família, que foram derretidas e virou outra peça. Houve um caso em que a cliente trouxe um anel de casamento, após ter se separado, que acabou virando uma pulseira com as iniciais dos filhos. É uma joalheria bem mais afetiva e que sai desse frisson de acompanhar as coleções e novidades do momento”, aponta. 

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