Bebidas

Prejudicados pelo caso Backer e pandemia, cervejeiros só veem recuperação em 2023

Leíse Costa
leise.costa@hojeemdia.com.br
07/02/2022 às 13:06.
Atualizado em 07/02/2022 às 13:08
Marco Falcone, vice-presidente do SindBebidas-MG e presidente da Febracerva. (Valéria Marques)

Marco Falcone, vice-presidente do SindBebidas-MG e presidente da Febracerva. (Valéria Marques)

Os rumos do mercado de cerveja artesanal em Minas mudaram completamente nos últimos dois anos. O setor vinha crescendo em torno de 15% anualmente, entre 2015 e 2019, segundo estimativas do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas Gerais (SindBebidas-MG). Mas, já no início de 2020, o caso Backer – em janeiro, cervejas fabricadas pela empresa mineira, intoxicadas, atingiram 29 pessoas, com dez mortes – e a pandemia da Covid-19 nocautearam o segmento. De acordo com o sindicato, atualmente, as vendas da grande maioria das 220 cervejarias artesanais do Estado amargam quedas entre 30% e 40% nas vendas. Com esse cenário, a recuperação para os níveis pré-pandemia só deve vir mesmo em 2023.

“Nós vínhamos de um crescimento extraordinário, mas o início de 2020 foi de muito estrago para o setor”, diz Marco Falcone, vice-presidente do SindBebidas-MG e presidente da Federação Brasileira das Cervejarias Artesanais (Febracerva). “Nós tivemos o caso da Backer, que foi extremamente grave, logo depois as chuvas intensas, que atrapalharam a logística de abastecimento e produção, e a pandemia, que fechou completamente bares e restaurantes”, cita.

À época, bares e restaurantes eram os principais canais de vendas das cervejas artesanais. O SindBebidas-MG estima que as demandas destes locais caíram pela metade em função dos fechamentos e que 30% das cervejarias em Minas fecharam as portas por falta de caixa. Em relação aos empregos, a estimativa é que as cervejarias demitiram, em média, 5 funcionários em equipes de até 20 pessoas.

Demissões

Para evitar a falência, Normando Siqueira, proprietário da cervejaria Uaimii, com fábrica em Itabirito e maior parte dos consumidores em Belo Horizonte, dispensou dois funcionários e paralisou completamente a produção de 14 mil litros mensais de chope. “Foi nossa estratégia de mercado; paramos tudo e fomos para casa e só voltamos no primeiro semestre de 2021, com muitos empréstimos para pagar”, diz. 

A volta, no entanto, ainda não vingou. “Nossas vendas são 80% em bares e restaurantes e as pessoas ainda não voltaram completamente a sair de casa como antes por temor pela nova variante da Covid-19; tivemos um péssimo janeiro”, relata. Segundo o empresário, as vendas em delivery e supermercados somam apenas 20% da clientela. “Para entrar no mercado de delivery, que já estava super cheio, seria necessário investir num cenário de insegurança. A estratégia foi não fazer mais dívidas”. 

Bruno Parreiras, dono da cervejaria Küd e presidente da Amacerva-MG (Associação das Microcervejarias do Estado de Minas Gerais), que representa nove cervejarias com fabricação de até 30 mil litros mensais, relata retração de 15% no volume de produção e redução do ticket médio gasto com cervejas premium. “A perda do poder econômico da população fez com que o mercado artesanal perdesse espaço em função desse arrocho econômico que a gente vive. Cervejarias que já eram maiores e conseguem vender mais barato, se saíram bem, mas as menores têm tido muita dificuldades para arcar com insumos atrelados ao dólar e disparada da gasolina, nossas margem de lucro tem diminuído cada vez mais”, afirma. 

Para o cervejeiro, o mercado só se recupera em 2023. “O segmento praticamente voltou dez anos atrás. A preocupação com qualidade e a curiosidade de explorar novos sabores têm sido deixada de lado neste momento de crise. Vai ser necessário resgatar o interesse do público e a oportunidade para isso são os eventos, em que fazemos as apresentações cara a cara”, diz.

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