Atriz mineira Alice Milagres fala sobre família e o trabalho em 'Malhação'

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
28/03/2018 às 11:01.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:02
 ( Sergio Baia/Divulgação)

( Sergio Baia/Divulgação)

Quando era criança, Alice seguia a mãe aonde o trabalho estivesse presente. A acompanhava em gravações de TV e cinema, observava da coxia a encenação no palco do teatro. Não demorou muito para a filha demonstrar o mesmo interesse pelo mundo das artes. “Minha mãe sempre me apoiou muito. Quando ela viu que eu gostava de dança e interpretação, me incentivou a estudar”, conta Alice, filha da atriz mineira Gorete Milagres, famosa nacionalmente pela personagem cômica Filomena.

Alice Milagres mostra ao Brasil que herdou o talento da mãe ao encarnar a protagonista da nova temporada do programa global “Malhação” – que dessa vez ganhou o subtítulo de “Vidas Brasileiras”. Na trama, a personagem Maria Alice é uma menina simples do interior que se muda para o Rio de Janeiro para viver com a mãe, uma empregada doméstica vivida por Guta Stresser.

Confira a entrevista em que a atriz mineira de 22 anos fala sobre família, trabalho, Minas Gerais e o momento delicado da atualidade no Rio de Janeiro:

 Em que momento você decidiu ser atriz? Como foi o início de sua carreira?

Eu nasci atriz, sempre me exercitei nessa área. Comecei o ballet com 3 anos e o teatro com 7, mas acredito que decidi mesmo que seguiria essa carreira em 2014, quando cursei Arquitetura e me percebi muito infeliz com a minha escolha profissional. Mudei de curso pra Comunicação Social na UFRJ, comecei a me dedicar mais ao teatro e os testes começaram a acontecer com mais frequência.

 Como foram suas experiências como atriz antes de "Malhação"?

Antes de Malhação fiz teatro e balé. Foram 12 anos de balé no Cisne Negro cia de Dança, cheguei a fazer curso em NY. E teatro fiz várias escolas em SP, fiz uma peça muito legal no Teatro Itália em SP dirigida pelo Mário Cortaz e aqui no Rio fiz cursos livres com Daniel Herz e no Tablado.

 De que forma a Gorete Milagres influenciou a sua carreira? Costumava acompanhá-la no teatro ou nas gravações de TV? Que visão você tem sobre sua mãe?

Minha mãe sempre me apoiou muito, quando ela viu que eu gostava de dança e interpretação me incentivou a estudar. Quando eu era pequena a acompanhava muito nas gravações, visitava sets de filmes e sempre estava com ela no teatro. Minha mãe é uma guerreira! Mãe solteira, não nasceu em família rica e lutou muito pra chegar onde chegou. Admiro muito a trajetória dela.

 Como foi o processo para entrar em "Malhação"? Foram muitos testes?

Faço testes para “Malhação” há quatro anos. Estava estagiando na Globosat, na parte de produção, quando me chamaram para uma primeira entrevista. Pedi demissão e fui (risos). Depois da entrevista, fiz dois workshops com a preparadora Cris Moura e, no final da segunda semana, fui testada pra Maria Alice. Depois de 10 dias me ligaram dizendo que eu estava dentro! Foi uma alegria sem fim!

 O que você acha da Maria Alice? Como foi o processo de construção da personagem?

Maria Alice é uma menina forte, carrega um segredo e passou por muita coisa apesar de ter só 15 anos. Apesar de ter uma aparência super fofa, ela é firme e nada boba! Conversei com muitas meninas da idade de Maria Alice, busquei muito minhas lembranças da adolescência e junto com a preparação da Cris Moura fui entendo os traumas que ela carregava (ela tem uma questão com o toque) e fui buscando nuances pra dar temperatura às relações dela com outros personagens.

 Num primeiro momento, a personagem me pareceu inspirada no filme "Que Horas Ela Volta?", de Anna Muylaert. A você também pareceu isso? Acredita que há pontos em comum entre Maria Alice e Jéssica?

Sim, "Que Horas Ela Volta?" é uma referencia para nós. Acredito que Maria Alice e Jéssica são meninas fortes que não abaixam a cabeça para as "patroas" e vão um pouco contra a sociedade escravocrata que vivemos, com as empregadas domésticas morando em quartinhos nas mansões. Assim como Jéssica passa no vestibular da USP, Maria Alice consegue a bolsa de estudos no Sapiência e se dá melhor que muitos alunos da escola particular, mesmo não tendo acesso aos mesmos recursos que os alunos mais ricos. São personagens conscientes do seu lugar, representam muitas meninas brasileiras.

 Como é a sua relação com Belo Horizonte?

Nasci em Conselheiro Lafaiete, mas morei até quase 4 anos de idade em Belo Horizonte. Eu amo BH demais da conta, tenho tios, tias e primos que moram aí. Minha mãe tem um apartamento e, sempre quando dá, visito a cidade. Quando eu era pequena, amava andar de bike na praça da Liberdade e almoçar no Couve Flor. Recentemente descobri o Mirante das Mangabeiras e amei! Meu coração tem um pedacinho que é de BH.

 Já se adaptou ao Rio de Janeiro? Sente falta de São Paulo?

Moro no Rio há 4 anos já, me sinto bem carioca. Até já transferi meu título de eleitor para o Rio. Mas nunca vou deixar de amar São Paulo. Morei 14 anos lá e eu amo os dias cinzas e a pressa da cidade que tá sempre em movimento. O Rio me fez amadurecer e encarar a vida mais por minha conta, sem falar que sempre fui da praia e da cachoeira e aqui temos essa natureza cercando a cidade que acaba dando um respiro no dia a dia corrido. Acho que foi assim que o Rio me conquistou.

 Como tem sido morar no Rio de Janeiro num momento tão delicado?

A cidade está vivendo um momento muito delicado, moro perto da Rocinha e diariamente mudo meu trajeto pros Estúdios Globo por conta de tiroteio. O Rio está em guerra e eu com todos meus privilégios só preciso mudar de caminho para chegar ao trabalho, enquanto tem pessoas morrendo em comunidades. Me espanta muito ver essa realidade bem perto de mim, mas me espanta muito mais um prefeito como Crivella que diz estar preocupado com a fachada "feinha" da Rocinha, enquanto vivenciamos um problema de segurança pública e confrontos diários que põe em risco a vida de milhares de pessoas. O Rio me conquistou, mas às vezes me assusta.

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