Depois de atrair 1 milhão de visitantes, exposição “ComCiência” chega ao CCBB-BH

Vanessa Perroni
vperroni@hojeemdia.com.br
12/10/2016 às 09:13.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:12
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

À primeira vista, o trabalho da artista plástica Patricia Piccinini pode causar certo estranhamento. Mas basta um segundo olhar para o público se render ao universo criado por ela e entender o porquê de a exposição “ComCiência” ter atraído mais de um milhão de visitantes nos CCBBs de São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro. Na capital mineira, as esculturas pautadas no realismo fantástico e que parecem ter saído de filmes de ficção podem ser vistas a partir desta quarta-feira (12), no CCBB-BH.

As obras são resultado do interesse de Patricia por engenharia genética, biotecnologia, ética e comportamento humano. “Falam sobre ciência, criações transgênicas e como nos sentimos sobre isso. É um trabalho sincero, que diz muito sobre relações de amor”, explica a artista de 50 anos, naturalizada australiana. Além das esculturas – feitas de silicone e fibra de vidro –, desenhos, fotografias e vídeos, somando mais de 40 trabalhos, integram a mostra.
Na última segunda-feira, enquanto desembrulhava algumas peças para montar a exposição, Patricia, de fala doce e olhar tranquilo, explicou parte das criações. “São criaturas com certa vulnerabilidade. Elas pedem que as olhemos além da estranheza, nos convidando a aceitá-las”, diz.

Nesse exercício, aponta a artista, o espectador pode ser tomado por questionamentos como o que seria uma razão realmente boa para modificar a natureza e se a humanidade vai amar os fracassos da tecnologia assim como ama os sucessos. Perguntas que a própria Patricia prefere não responder, deixando a reflexão para o público. 

As Obras
“ComCiência” faz um apanhado da produção da artista plástica e reúne alguns dos principais trabalhos dela. Logo na entrada principal do CCBB, o visitante vai se deparar com “The Observer”, um menino que observa o mundo de um ponto de vista privilegiado e perigoso, o alto de uma pilha inclinada de cadeiras. 

Outra peça icônica é “Big Mother” – uma figura gigante, parecida com uma macaca, amamentando um bebê. Obra com uma história especial, pois Patricia a produziu quando teve o primeiro filho. “Fala sobre aprender a amamentar e remete à quebra da fronteira entre os animais e eu”.

“The Long Awaited” abre a exposição. Nela, é possível perceber a transformação do tempo e o amor entre as espécies. A avó deitada no colo do garoto foi inspirada em um dugongo (mamífero marinho que deu origem ao mito das sereias). 

“Temos várias definições de amor. Uma delas é deixar que alguém o ame. A criatura deixa que o menino cuide dela mesmo com tantos impedimentos. Isso é difícil e forte”, comenta Patricia.

O nome da exposição é um neologismo criado pelo curador Marcelo Dantas. O título une as palavras “consciente” e “ciência”, que são eixos das obras

Mostra na capital mineira tem obra inflável inspirada no caju 
Uma das novidades da exposição é a obra inflável “BreathFruit”. Até então apresentada apenas na mostra carioca, ela foi instalada no pátio do CCBB–BH. Criada especialmente para a temporada no Brasil, tem quase 25 metros de altura é presa ao teto. 

Trata-se de um grande balão inspirado em uma fruta tipicamente brasileira, o caju, que se projeta no espaço, sendo inflado e esvaziado em ciclos de 20 minutos. Ao encher, o balão revela a escultura de uma garota ajoelhada no chão. 

“Essa obra parece uma respiração magnífica. No Brasil temos a Amazônia, o pulmão do país. Pensando nisso, é muito simbólico. Um trabalho otimista”, diz Patricia Piccinini. 

Preocupada com a forma como a mídia mostra a figura feminina, a artista quis trazer uma garota forte e bonita, mas não sexualizada. “Ela tem a beleza das pessoas que sabem quem são. O autoconhecimento que a meditação traz”, explica.

Sucesso 
O grande número de visitantes na mostra em solo brasileiro foi uma surpresa para a artista plástica. “Antes disso, meu trabalho não era tão conhecido. As pessoas abraçaram as ideias que eu trouxe”, comemora.

Para Patricia, as questões abordadas nas obras são relevantes para o Brasil. “Revelam como nos sentimos diante da diferença”, exemplifica. 

 Serviço: “ComCiência”. CCBB-BH (Praça da Liberdade, 450). Até 9/1. De quarta a segunda, das 9 às 21h. Gratuito

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