Elizabeth Savala se destaca em 'Êta Mundo Bom!' como a cômica Cunegundes

Folhapress
03/06/2016 às 11:16.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:44
 (Reprodução/ TV Globo)

(Reprodução/ TV Globo)

Elizabeth Savala, 61, atravessava uma rua no Rio de Janeiro quando foi surpreendida por um grito: "Ô dona Cunegundes!". Veio de um taxista que acenou sorrindo para a atriz e seguiu viagem, deixando-a paralisada no meio da via. Refeita do susto, ela ficou ruborizada com os aplausos de quem a reconheceu, por causa do sucesso na novela das seis "Êta Mundo Bom!" (Globo). "Algumas senhoras vieram me cumprimentar dizendo que se divertem com o meu trabalho. Para o ator que
 passa muito tempo na Globo gravando, esse reconhecimento no meio da rua é uma felicidade imensa", fala. "Mas eu fiquei pensando: "Não é que conseguiram decorar esse nome tão difícil? Cu-ne-gun-des"", diverte-se a atriz.

Se na história mundial Cunegundes foi rainha da Boêmia entre 1261 e 1278, a Cunegundes da ficção bem que tentou ser nobre, mas seus planos não deram certo. "Ela se casou achando que ia ter uma vida boa, e não foi bem assim. Então, teve que se impor. Para a época, a Cunegundes foi transgressora. Naquele tempo, mulher tinha que ser submissa ao marido, rezar e fechar os olhos", fala a atriz, justificando o fato de a caipira encrenqueira armar diversos planos por dinheiro e tentar, inclusive, empurrar as filhas e a cunhada para um bom casamento, a fim de salvar a única riqueza da família: uma fazenda caindo aos pedaços.

Agora, expulsa da mansão de Anastácia (Eliane Giardini) por ter maltratado Candinho (Sergio Guizé), Cunegundes tem comido o pão que o diabo amassou. Para Elizabeth, essa é a oportunidade de fazer um trabalho diferente. "Cunegundes foi de dona da fazenda a cuidadora dos porcos. Mas ela já está pensando em dar a volta por cima. Ela é esperta!", adianta a atriz. Há suspeitas de que as terras da fazenda tenham petróleo, e retomar a propriedade será uma das metas da dona Boca de Fogo, como ela é conhecida.

"O nome dela é Cu-ne-gun-des! [risos] A cada semana tem uma reviravolta nova na trama. O Walcyr [Carrasco, autor] não economiza história e surpreende tanto o público quanto nós atores", conta. "Cunegundes é o papel mais difícil da minha carreira.

 Preciso de energia para vivê-la, pois exige de mim um esforço físico maior. Ela explode, grita, pula, cai no rio e leva raio na cabeça!"

O autor da trama sabe bem como usar a energia de Elizabeth em benefício de suas personagens, afinal, os dois fizeram sete novelas seguidas, entre 2001 e 2013. Antes de Cunegundes, a veterana foi Márcia, a ex-chacrete que encantou o público em "Amor à Vida" (Globo, 2013-2014). "O Walcyr escreve mulheres e vilãs incríveis, que nunca são punidas, até que a novela chegue ao final. Ele resgatou minha vontade de fazer personagens com essa veia cômica, que são minhas preferidas. As boazinhas são sempre mais difíceis de interpretar", comenta a atriz.

Com uma carreira repleta de heroínas, como a rebelde Malvina, de "Gabriela" (Globo, 1975), e Lili, de "O Astro" (Globo, 1977), Elizabeth foi colecionando personagens que, hoje, considera não serem bem o seu perfil. "Sou uma pessoa naturalmente divertida.

Gosto de fazer graça e de ser o centro das atenções. Consigo rir de mim mesma e gosto de fazer papéis assim", fala. "As mocinhas são sempre enganadas. Elas e os heróis são feitos de bobo o tempo todo. Interpretei tipos assim por anos e sempre parecia um peso, pelo excesso de capítulos e de trabalho. Ninguém aguenta levar uma trama nas costas."

Foi no começo dos anos 1980 que a atriz tomou a decisão de pedir à direção da Globo que lhe desse outro tipo de personagem em uma novela. "A emissora tinha receio de dar errado, pois o telespectador estava acostumado a me ver como boazinha", lembra. Foi então que fizeram o teste em "Plumas e Paetês" (Globo, 1980). "Deu muito certo! A Marcela, embora mocinha, mostrou seu lado farsante e foi a primeira protagonista a morrer no final de uma novela", completa.

Em "Pão Pão, Beijo Beijo" (Globo, 1983), Elizabeth brigou para ser a vilã Bruna e provou que estava certa: podia ser má na televisão. "Na época, as pessoas queriam me bater na rua. Um grupo de mulheres me colocou contra a parede em um shopping. Foi uma
 loucura e uma consagração", lembra.

Clima bom na roça
Os bastidores do núcleo caipira de "Êta Mundo Bom!" parecem refletir a felicidade dos atores. Com Elizabeth Savala não é diferente. Além de adotar o "caipirês" entre os colegas, ela já está até acostumada com os bichos da fazenda. "No começo foi difícil.

Chegamos a gravar com uma vaca que saiu destrambelhada pelo campo e quase derrubou nossa carroça. Levei muita bicada de galinha", lembra. "Hoje já tenho o ritual de conversar com os cabritos, jogar milho às galinhas e pegar os porquinhos no colo."

Rosi Campos, que interpreta Eponina, a cunhada de Cunegundes, comenta a energia de Elizabeth nas gravações. "A personagem é o esteio daquela família, e a Elizabeth contagia todos que estão ao redor. Esse núcleo da fazenda vai deixar saudade", fala. O
 ator Anderson Di Rizzi, que vive Zé dos Porcos, completa: "Para um cara como eu, que está começando, aprender com nomes como Elizabeth Savala é incrível. Não há tempo ruim com nosso grupo", complementa.
Elizabeth sabe que há papéis que ela faz "com os pés nas costas". Mas sua experiência diz que com Cunegundes é diferente. "Vou devagar com ela, pois ela é louca, e eu não sei para onde ela está indo."

Personagens de Elizabeth Savala

Elizabeth Savala estreou na TV aos 21 anos, na pele da rebelde Malvina, que enfrentou o pai para viver um grande amor, em "Gabriela" (Globo, 1975). "Na época, achava que o mundo podia ser mudado apenas com o teatro. Pensava que a televisão não era a minha praia", fala.

Sempre mocinha
Entre 1975 e 1979, viveu mocinhas em novelas seguidas. A mais sofredora de todas foi Carina, de "Pai Herói" (Globo, 1979), que será reexibida pelo canal pago Viva em outubro. "Viver uma mocinha é difícil. Parece que você carrega o peso todo da novela nas costas", conta Elizabeth.

O começo da mudança
Antes de fazer uma nova trama, Elizabeth fez um pedido à direção da Globo. "Não aguentava mais interpretar mocinhas sofredoras e pedi que me dessem a oportunidade de fazer uma vilã ou algo diferente", lembra. Em "Plumas e Paetês" (Globo, 1980), sua protagonista, Marcela, tornou-se oportunista e trapaceira ao assumir a identidade de Roseli.

A primeira vilã
As vilanias realmente vieram quando a atriz interpretou a sedutora Bruna, de "Pão Pão, Beijo Beijo" (Globo, 1983). "Uma dia, passeando no shopping, um grupo de mulheres queria me bater por causa das maldades da Bruna", lembra

As vilãs cômicas de Walcyr Carrasco
Até 1986, Elizabeth ainda interpretou outras mulheres de bom caráter. Após uma pausa na carreira, em 1991 ela voltou ao trabalho, mas foi em 2001, com a fogosa beata Imaculada, de "A Padroeira" (Globo), que a atriz começou a fazer malvadas com pitadas de humor. "Foi meu primeiro trabalho com o Walcyr [Carrasco, autor]. Ele resgatou meu desejo de interpretar mulheres com esse perfil", fala.

Um sucesso atrás do outro
Elizabeth interpretou vilãs cômicas com frequência entre 2003 e 2013, nas novelas "Chocolate com Pimenta", "Sete Pecados" e "Morde & Assopra". A atriz também conquistou o público com a ex-chacrete interesseira Márcia, de "Amor à Vida". Todas essas tramas foram escritas por Walcyr Carrasco

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