Phoenix é um jornalista atormentado que vê uma redenção na relação com o sobrinho vivido por Woody Norman (Diamond/Divulgação)
Joaquin Phoenix é um dos maiores atores da atualidade, não há dúvida. Mas quando o trabalho do protagonista se torna mais evidente que a história ou a proposta de um filme, algo está errado. É o que acontece com “Sempre em Frente”, em cartaz nos cinemas.
Dirigido por Mike Mills, o longa parte de uma ótima premissa: jornalista coordena pesquisa nacional nos Estados Unidos sobre o que os adolescentes esperam do futuro, enquanto ele não consegue se desvincular do passado, após a morte da mãe e separação da esposa.
O lado road movie, ao mesmo tempo que aponta para uma importante discussão sobre o que os próximos adultos pensam, resume o personagem de Phoenix: completamente à deriva e incerto sobre qual rumo tomar, deixando-se levar pelas circunstâncias.
É o típico papel que o ator construiu ao longo da carreira, atormentado e imprevisível, mas numa chave mais contida. Sentimentos vêm à tona a partir da relação com o sobrinho que pouco conhecia. As perguntas às crianças se voltam para o entrevistador de forma dolorosa.
O que já surge denso e sofrido ganha ainda mais peso pelas escolhas de Mills, como a opção pela fotografia em preto e branco e o fato de não haver pausas – os personagens estão sempre falando, repetindo-se, reiterando o que foi dito e expresso diversas vezes.
O equipamento de captação de áudio do tio se torna um brinquedo nas mãos do garoto, que passa a se deslumbrar com os sons comuns ao dia a dia, mas esse dado não é devidamente explorado, assim como algumas citações literárias jogadas na tela.
Esse universo criado pelo realizador é extremamente verborrágico e poluído sonoramente, sem mostrar um pensamento estético-narrativo definido em torno disso. Resultado: a atuação de Phoenix, que sempre foi precisa, acaba chamando a atenção em demasia.