Filme ‘Capitão Fantástico’ explora uma aventura chamada vida

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
21/12/2016 às 17:59.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:10

Uma viagem transformadora que reúne toda a família, um veículo caindo aos pedaços, boas doses de humor e um estado constante de inadequação à sociedade: elementos de “Capitão Fantástico” – em cartaz a partir de hoje nos cinemas – que nos remetem a “Pequena Miss Sunshine”, um dos filmes independentes mais celebrados da última década.

A diferença é que a família Cash (dinheiro, em inglês) não é formada por losers, identificados de imediato como tal na produção de dez anos atrás. Se assim podemos defini-los, eles são vencedores, ao manterem por tanto tempo uma maneira alternativa de viver, na contramão do consumo e do individualismo, a partir de uma sociedade comunitária.

Liderada pelo pai Ben (Viggo Mortensen, em grande atuação), a família terá que cair na estrada para reaver o corpo da mãe, que se suicidou e será enterrada de forma tradicional, não respeitando o seu desejo de ser cremada e ter as cinzas jogadas em local público, com muita música em volta. O encontro com o “inimigo” não será tão fácil como se imagina.

DOM QUIXOTE
Além do confronto com o que o dinheiro pode comprar, as certezas de Ben começam a ruir uma por uma quando a trama assume um outro olhar sobre aquela família, principalmente sobre o pai, que passa a ter a postura autoritária contestada pelo simples fato de não dar a liberdade aos filhos de escolherem o que for melhor para eles. 

Para quem é pai, a perda do posto de Capitão Fantástico é dolorosa, com o roteiro de Matt Ross (também diretor do filme) provocando fortes derrotas, a maior delas quando a filha se machuca após uma frustrada tentativa de invasão à mansão dos sogros. Ben mais parece um Dom Quixote, brigando contra moinhos de vento, cujo idealismo sucumbe à realidade.

A leitura passa a ser política e econômica, sobre um sistema tão organizado que, mesmo com tantos furos, ele ainda surge imponente. Mas o filme ainda se permite uma terceira via, que ele aponta como ideal e que trará um desfecho de chorar, literalmente, quando o pai já não se põe acima dos filhos, mas ao lado deles nessa grande aventura chamada vida.

VALORES
Talvez esse caminho não satisfaça muitos espectadores, pela gangorra artificial que promove, para gerar os efeitos melodramáticos almejados, mas é impossível não se simpatizar com um personagem tão rico e tão frágil como o de Ben, encarregado de criar cenas duras, exigindo demais dos filhos, e cômicas, ao tentar explicar a procriação humana para a caçula.

Diferentemente de “Pequena Miss Sunshine”, a inadequação dos personagens não é resultado de uma psicopatia. Eles estão longe de ficarem satisfeitos em apenas arranhar a hipocrisia. Surge mais como um embate constante sobre os valores verdadeiros. A sequência final, com “Sweet Child O’Mine” à capela, é uma daquelas que ficarão para sempre na memória.

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