Tema tabu

Filme francês em cartaz nos cinemas aborda a questão da morte assistida

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
06/06/2022 às 08:29.
Atualizado em 06/06/2022 às 08:29
 (Divulgação)

(Divulgação)

Em “Está Tudo Bem”, filme em cartaz nos cinemas, as escolhas de François Ozon sobre morte assistida refletem menos sobre o direito de escolher dar um fim à própria existência do que as consequências de uma vida mais longeva para quem tem o papel de cuidar dos idosos.

Enquanto exige da filha uma ajuda para interromper a vida, após sofrer um AVC, André parece concentrar todas as atenções. A morte assistida, assim, seria defensável (para os espectadores) pelo simples fato de o cotidiano de familiares ter drasticamente sucumbido à doença do patriarca.

Ozon se vale desse artifício ao “esvaziar” os personagens das filhas Emmanuelle e Pascale. Sem a sombra da figura paterna, nenhum conflito ou informação nos chama a atenção. Num espaço de um ano, nada parece ter se modificado substancialmente na vida delas.

É essa rotina que nos leva a um veredicto, sem que Ozon deixe o filme resvalar em polêmicas religiosas ou filosóficas sobre a questão, de certa maneira naturalizando-a. Na visão do cineasta, a morte (aceita) de um pode significar a continuidade da vida para os demais. 

Essa abordagem é tão natural que o cineasta francês se permite um não-fim, justamente porque a morte de André representa a libertação, o início de outra narrativa. Podemos até pressupor que irá emergir uma outra mulher, mais exuberante e “viva”, em Emmanuelle.

Não é por acaso que algumas ações de Emmanuelle são interrompidas, nunca completadas. Numa determinada cena, ao comemorar com a irmã uma informação sobre a saúde do pai, ela prontamente recebe uma ligação que estraga o momento familiar festivo. 

Indústria

Com esses ingredientes, Ozon se priva até mesmo de discutir a indústria por trás desses postergamentos de vida, que mais parecem atender a um lucrativo mercado envolvendo hospitais e laboratórios. Os médicos são neutros e nada sabemos sobre os valores de hospitalização.

Qualquer mudança no processo de morte assistida parece vir tão somente de André. A trama trabalha essa perspectiva, mexendo com um imaginário construído por filmes de Hollywood. Quanto mais próximo do fim, mais uma sensação de apaziguamento se caracteriza.

Serviço

“Está Tudo Bem” – Direção: François Ozon. Com Sophie Marceau, Géraldine Pailhas, André Dussolier.

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