Filme 'Sob Pressão' mostra a difícil rotina de médicos em um hospital público

Cinthya Oliveira
cioliveira@hojeemdia.com.br
15/11/2016 às 16:45.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:40

Aparelhos arcaicos e danificados, deficiência no banco de sangue, falta de equipe, corredores lotados, desilusão partilhada por pacientes e médicos. O dia a dia de hospitais públicos brasileiros é levado para a telona no filme “Sob Pressão”, de Andrucha Waddington, que estreia nesta quinta-feira (17). 


Na trama, livremente inspirada no livro homônimo do médico Márcio Maranhão, uma equipe de cirurgia terá de viver momentos no melhor estilo “A Escolha de Sofia”, por conta da chegada de três baleados ao mesmo tempo em um hospital do Rio de Janeiro: um policial, um traficante e um menino. 

O interessante é que a obra aborda os mais diferentes níveis de problemas sociopolíticos vivenciados pelos brasileiros – da precariedade de um hospital ao machismo sofrido pela jovem cirurgiã interpretada por Marjorie Estiano – em um ritmo bastante acelerado. Tanto que o gênero que melhor define o longa-metragem é ação.

Realidade
“Sob Pressão’ é um filme frenético, que mostra uma realidade nua e crua”, afirma o ator Júlio Andrade, que interpreta o protagonista Evandro, chefe da equipe médica e senhor das difíceis decisões, mesmo sob o efeito de fortes remédios. 

“O filme trata vários assuntos, como a hierarquia, o machismo, a ética, a polícia, a saúde, a educação. Ali tem uma grande crítica social e estamos no momento de falar sobre os problemas, falar sobre política. Estamos vivendo uma crise gravíssima e um momento de falta de tolerância. Felizmente, está vindo aí uma geração superantenada”, diz Júlio. 

Antes de o filme ser rodado, o elenco fez uma imersão no universo médico. Tiveram contato com o doutor Márcio Maranhão (que fez questão de estar presente nos sets de filmagem) e frequentaram salas de espera de emergências.

“Também assistimos a algumas cirurgias para entender o cotidiano e o olhar dos médicos, para conhecer melhor essa profissão tão fascinante e essencial”, conta Júlio. 

Premiado este ano na categoria Melhor Ator por “Sob Pressão” no Festival do Rio, Júlio de Andrade se prepara para atuar na segunda temporada da série “1 Contra Todos”, exibida na Fox, e no longa-metragem “Domingo, de Fellipe Gamarano Barbosa


Precário
Para que o filme tivesse o tom realista necessário, as filmagens aconteceram dentro de um hospital de verdade, o Nossa Senhora das Dores, no bairro carioca de Cascadura – mantido pela Santa Casa de Misericórdia. 

Assim como no filme, o hospital tem problemas muito sérios na vida real. Hoje, uma pequena parte da capacidade instalada da unidade de saúde é de fato aproveitada, porque os repasses da Santa Casa e da Prefeitura do Rio de Janeiro não são suficientes para o pleno funcionamento. Por isso, “Sob Pressão” está longe de parecer com os sucessos do cinema e da TV que envolvem a rotina de hospitais, como “Grey’s Anatomy”. 

“Nossa realidade é diferente de qualquer realidade do mundo. O que é feito nos hospitais brasileiros é medicina de guerra”, diz o ator. “A realidade na saúde é péssima e estamos andando para trás. Triste é ver como nos acostumamos e não nos chocamos mais”. 

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