OSCAR

Indicado ao Oscar, 'Licorice Pizza' é uma nostálgica viagem pela década de 70

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
Publicado em 21/02/2022 às 16:01.
Em cena com Sean Penn, a cantora Alana Haim é uma das atrações do filme de Paul Thomas Anderson (UNIVERSAL/DIVULGAÇÃO)

Em cena com Sean Penn, a cantora Alana Haim é uma das atrações do filme de Paul Thomas Anderson (UNIVERSAL/DIVULGAÇÃO)

Um dos grandes nomes do cinema americano atual, Paul Thomas Anderson divide sua filmografia em dois pilares: um deles, mais ambicioso, parece resumir a cultura do país a partir de protagonistas fortes, megalômanos e extravagantes, como em “Sangue Negro” e “O Mestre”.

Outro pilar revela um cineasta saudosista, direcionando o seu olhar para os anos 70, época em que a sociedade teria perdido a inocência. As tramas se localizam na Califórnia, terra natal do cineasta, e geralmente se concentram num personagem ingênuo e desconfortável com as transformações socioculturais.

Indicado ao Oscar na categoria principal e já em cartaz nos cinemas, “Licorice Pizza” carrega essa ideia que transita por um doce estado de desarranjo. As situações parecem conduzir para um a perda de controle, mas o lado “criança” imprime uma dose de suavidade e nostalgia.

Todos os protagonistas de Anderson, é bom que se diga, são homens e, no caso de filmes como “Licorice Pizza”, “Boogie Nights – Prazer Sem Limites” e “Embriagado de Amor”, o avanço na idade nunca lhes tira um certo ar infantil.

O avantajado órgão de Diggler, em “Boogie Nights”, surge como brinquedo que o fará acessar, por tempo determinado, uma espécie de Disneylândia do cinema x-rated. E o fato de “Embriagado de Amor” ter Adam Sandler como protagonista já cria essa associação, de criança em corpo de homem.

Em “Licorice Pizza”, que traz no título uma referência impregnada de saudosismo ao formato dos discos de vinil, Gary Valentine (Cooper Hoffman) é construído de forma inversa: ele tem 15 anos, mas, criado sem acompanhamento da mãe, se vê como adulto.

Essa maturidade é o que o leva a chamar Alana para sair, após vê-la passando pelo corredor do colégio. Detalhe: ela tem 25 anos e já deixou os estudos há muito tempo. É apenas uma funcionária Cincumbida de organizar as fotos dos estudantes para o livro escolar.

A diferença de idade se torna um problema de difícil superação, tratado de forma dolorida e, ao mesmo tempo, divertida. O acerto de Anderson está na maneira como o cineasta “equipara” emocionalmente o seu casal, após um evidente sentimento de amizade entre eles.

O amor, aos olhos de Anderson, está incondicionalmente ligado à confiança recíproca. Parece pouco, mas estamos falando de uma época em que o american way of life foi destruído com a incursão na Guerra do Vietnã e a renúncia do presidente Richard Nixon.

Esse é o ponto-chave para o desenvolvimento de uma história de amor singela, que tenta sobreviver às novidades de uma estranha nova cultura que bate à porta, privilegiando o cinismo, o individualismo e a violência gratuita.

O amor idílico que a narrativa nos leva a torcer é constantemente ameaçado, seja por um tapa nas nádegas de Alana (o abuso ainda não era assunto da mídia) ou pela atitude dos próprios personagens, como a expectativa de vingança de Gary ao ser tomado por ciúme.

São nuvens que se avizinham, mas a amizade e o amor ainda são suficientes para espantá-las, com o filme ganhando um tom crescente de conto de fadas, em que os obstáculos são determinantes para o desfecho.

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