'Julieta' de Pedro Almodóvar estreia amanhã em BH

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
05/07/2016 às 20:35.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:10
 (Universal / Divulgação)

(Universal / Divulgação)

Criado por mulheres, o cineasta Pedro Almodóvar tem uma visão particular do universo feminino, em que se misturam paixão, força, tradição, dor e culpa – e de uma forma tão intensa que geralmente nos conduzem ao bolero, ao melodrama e à mitologia, sempre pinceladas com cores fortes, em especial o vermelho.

E é justamente essa cor que abre o mais recente filme do espanhol, “Julieta”, em cartaz a partir de amanhã nos cinemas. A imagem é indefinida e pode ser confundida com a parte externa do órgão genital feminino. Logo depois o plano se abre e vemos o robe de uma mulher, a personagem-título.

Apesar de a tragédia amorosa do bolero (na verdade, de seu parente próximo, a música ranchera mexicana) e do melodrama – gênero associado a praticamente todos as produções de Almodóvar – estar presente, “Julieta” se agarra mais à questão mitológica, a partir da concepção de destino e inexorabilidade.

As referências a Hitchcock são muitas, desde a vontade de Almodóvar em fazer um filme num trem e usar uma citação a “Pacto Sinistro” à trilha sonora de suspense, passando por suas protagonistas loiras

 Carma
A história é bem simples e não vale dizer muito mais do retrato de uma mulher em dois momentos capitais de sua vida, quando as dores do passado retornam de forma idêntica a outras mulheres de seu convívio, como se elas, obrigatoriamente, carregassem esse carma por gerações e gerações.

Essa ideia talvez não agrade às feministas, por exibir papéis destinados às mulheres que não se rompem com o tempo, atrelados fundamentalmente à fertilidade e ao carregamento de uma culpa por suas escolhas e perdas. Já o homem é idealizado, bonito, apolíneo, quando não é inteligente e compreensivo.

O que vemos é um ciclo, à medida que o realizador avança a história, verticalizando em passado, presente e futuro. A mãe de Julieta enlouquece e o pai a substitui por uma mulher mais nova e fértil. Uma traição também é abrandada devido à tragédia, deixando a entender que era melhor a dor da traição à culpa. 

Deuses e lendas são evocados constantemente, por ser Julieta professora de literatura clássica e ter uma amiga que cria esculturas de significados folclóricos. Não por acaso, a água tem uma função importante: do líquido amniótico ao palco de morte, passando pela amargura de deixar seu corpo numa banheira.

A água também é indicativo da transparência da narrativa, que deixou tudo muito claro ao espectador, tendo como pilares a longa carta de desculpas de uma mãe e a resposta abreviada da filha. Mas desenvolvida de uma forma envolvente e não previsível, com a condução sempre precisa e emotiva de Almodóvar.

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