Mostra de Cinema de Ouro Preto começa, destacando a questão da preservação

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
21/06/2016 às 17:08.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:59
 (LEO LARA/UNIVERSO PRODUÇÃO)

(LEO LARA/UNIVERSO PRODUÇÃO)


Preservar é mais barato e eficaz que restaurar – um verbo que, infelizmente, teima em se fazer presente no cinema brasileiro, que sempre deixa para o último instante a preocupação em conservar uma história de 120 anos.


O tema volta à discussão na 11ª Mostra de Cinema de Ouro Preto (CineOP), com início hoje na cidade histórica mineira, que homenageia justamente um dos pioneiros no trabalho da restauração no país, Francisco Moreira, falecido nesse ano.


“O mais lógico é preservar antes de o material se danificar e deteriorar. Além de mais cara, a restauração é mais trabalhosa”, observa Rafael de Luna Freire, professor e especialista em preservação audiovisual e um dos convidados do festival.


Ele destaca que o cinema do país perdeu muitos filmes nas últimas décadas por não terem sido bem preservados, com os restauradores sem nada poder fazer diante do “estrago” deixado em algumas matrizes.


“Aos poucos, essa discussão tem saído dos guetos, até porque hoje em dia existe mais possibilidades de exibição, com a TV a cabo. Economicamente também é importante que o material esteja preservado”, analisa Rafael.


Segundo ele, o que preciso ser feito é uma política de ações integradas, com planejamento a longo prazo. “O que temos são iniciativas isoladas, como editais e financiamentos, que não suprem. A estrutura tem que ser permanente e contínua”, registra.


E não são só os filmes antigos que correm risco. Produções dos anos 60, 70 e 80, em U-matic, Beta, VHS e outros suportes, sofrem com a obsolescência dessas tecnologias, necessitando de preservação em novas mídias.


Laura Bezerra, presidente da Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA), destaca que a película, apesar de estar sendo trocada pelo digital, continua sendo o suporte mais garantido para a sobrevivência dos filmes.


“A gente sabe lidar com o filme em película para que ele sobreviva. Ele se deteriora aos poucos. Com o digital, porém, o desgaste não acontece lentamente como no analógico, ocorrendo de uma vez, sem nos dar nenhum alerta”, compara Laura.


Mestre em Literatura e Ciência da Mídia pela Universität Trier, na Alemanha, ela lamenta que hoje não há um padrão que possa ser considerado seguro. “A única solução é estar permanentemente recopiando o seu material”, recomenda.


Essa constatação vai na contramão da opinião de muitos dirigentes culturais, que já se dão por satisfeitos ao digitalizarem os acervos. “Acreditam que digitalizando resolveram o problema, quando, na verdade, estão criando um outro problema”, critica.

Além do restaurador Francisco Moreira, a Cineop celebrará a memória do documentarista Eduardo Coutinho, com a exibição de “Cabra Marcado para Morrer”. Até o dia 27, a mostra apresentará 91 filmes em pré-estreias e retrospectivas. A programação completa pode ser conferida em cineop.com.br

  

Durante a CineOP, os presentes farão a versão final de um documento a ser entregue ao governo federal, destacando ações a longo prazo que devem ser tomadas em relação ao tema.


“Temos que pensar numa política nacional, com metas voltadas para períodos mais longos. Não podemos ficar ligados a um governo. Só assim para conseguirmos uma boa salvaguarda para o audiovisual brasileiro”, pondera.
 

SUPORTES
Você tem um filme para ser guardado e preservado. Em qual suporte deve fazer isso? “Em todos”, sugere Fernanda Coelho, coordenadora de Preservação na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, hoje o principal depositário de filmes no país.


“É o único procedimento a ser feito para dar longa vida ao filme. Tem que ser em várias tecnologias diferentes. Se for em uma só, morrerá em alguns anos. Essa é uma das poucas conclusões sobre preservação que chegamos”, observa.


O “lugar” ideal não existe e as escolhas irão depender fundamentalmente da sua capacidade de “atualizar” tudo depois. Mas ela sugere o Linear Tape-Open (LTO), tecnologia de armazenamento de dados em fita magnética, desenvolvida na década de 90.


Outra matriz deverá estar, segundo Fernanda, num arquivo em HD, que pode ser ”multiplicado” pela rede de internet e facilmente copiado para outro arquivo. Por último, num bom e velho DVD, que será usado mais como consulta.


Se no cinema a preservação já é assunto complicado, nas redes de TV é mais ainda. “A televisão tem um papel cultural muito forte no Brasil. É um lugar onde nossa memória está guardada”, destaca Laura Bezerra.

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