Um dorama para chamar de seu

No país das telenovelas, as produções asiáticas têm conquistado cada vez mais espectadores

Alexandre Fonseca
Especial para o Hoje em Dia
Publicado em 19/11/2022 às 10:34.
 (Divulgação)

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Em um primeiro momento, a palavra pode soar estranha, o que não a impediu de ser sucesso entre os fãs e “figurinha fácil” nas redes sociais. Dorama é a forma como os japoneses leem a palavra drama (do inglês) com o katakana, silabário utilizado para “niponizar” palavras estrangeiras. Mas do que se trata, afinal? Bom, na web, o uso do termo para séries japonesas engloba uma variedade de produções asiáticas, como as novelas coreanas (K-drama) e chinesas (C-drama). 

O sucesso dessas produções é tão grande por aqui, que em 2020 o Brasil, o país das telenovelas, ficou em 3º no ranking de países que mais consumiram “doramas” durante o período pandêmico, conforme mostrou a pesquisa da Fundação Coreana para Intercâmbio Cultural Internacional (Korea Foundation for International Culture Exchange – KOFICE).

Mas o que essas novelas ou series têm que outras produções ocidentais não possuem? Para alguns dorameiros, como são conhecidos os aficionados por dorama na internet, a principal diferença seria a forma como as relações são abordadas, principalmente as românticas. 

A assistente administrativa Kenya Ramos, de 20 anos, acha que as telenovelas brasileiras banalizam a troca de afeto, fazendo com que o romance aconteça rápido demais. “Estamos tão acostumados a ver o relacionamento rolar tão rápido, que um beijo é algo super comum aqui no Brasil. Nos doramas é diferente: demora para acontecer. A importância que eles dão a esses temas é o que nos prende. O beijo demora a acontecer e até para pegar na mão tem aquele suspense”, observa a jovem. 

A opinião de Kenya é corroborada pelo fotógrafo João Paulo Andrade, de 33 anos. Espectador de produções asiáticas desde a infância (na década de 1990 houve a primeira “invasão” da cultura oriental no Brasil, com os animes), ele considera que nos doramas a questão comportamental tem um desenvolvimento amoroso melhor construído. “A questão é que o amor aqui acaba se resumindo muito ao contato físico e libidinoso. No dorama está muito mais ligado aos conflitos externos e culturais, assim como uma idealização do amor e das normas culturais”, destaca. “Sempre é pensado no que a sociedade vai pensar, no que os pais vão pensar e acabam dando ênfase a esses pontos. Enquanto na nossa cultura, apesar de ter tudo isso nas telenovelas, acaba muito mais indo para uma conjunção carnal que um desenvolvimento de amor”, reitera.

O estudante de 17 anos Hitalo Lopes conta que sua incursão pelo mundo dos doramas se deu graças ao k-pop, a música pop produzida na Coréia do Sul. “Minha banda favorita de k-pop é o Twice. Uma coisa acabou puxando a outra”, lembra, destacando gosto pelo dorama “Woo, uma advogada extraordinária”.
“Gosto dessa cultura porque o estilo é muito variado, então você acaba gostando de muitas coisas diferentes”,revela o estudante.

Operação Hallyu

Além do apreço pelas produções culturais asiáticas, o que Kenya, João Paulo e Hítalo têm em comum? Todos foram fisgados por uma estratégia de marketing coreana para impulsionar o consumo dos produtos daquele país, como os programas de entretenimento, filmes, música, animações, games, produtos de beleza, comida e até a indústria da moda. Conhecida pelo termo HALLYU, que significa “onda coreana”, curiosamente, em chinês, a estratégia dessa “onda iniciada na década de 1990 é a de atravessar fronteiras, tanto geográficas, quanto midiáticas. 

Reportagem publicada pela BBC News Brasil mostra que após ocupação japonesa, regimes militares severos e uma crise financeira, a Coreia do Sul apostou tudo na indústria criativa. Dessa forma, após anos de tentativas e erros, conseguiu desenvolver uma onda cultural que deixou quase todos imersos.

Conforme o jornalista, pesquisador da cultura asiática e organizador de um dos maiores eventos de cultura japonesa do Norte de Minas, Rodrigo Alkmim, a onda asiática atingiu o Brasil muito antes da populari-zação dos streamings, em meados de 1990. Mas a consagração só veio em 2012, quando o cantor Psy e seu hit chiclete Gangnam Style fizeram o mundo dançar. “Graças a ele, o mundo pode conhecer as músicas de bandas K-pop como Black Pink, Exo e BTS, hoje considerado um dos dez maiores artistas globais e detentor do clipe de maior visualização em 24 horas de estreia. Se me perguntarem se a cultura asiática veio para ficar no Brasil, responderei que sim”. 

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