CASA DO POVO

Novo gestor, Sérgio Rodrigo Reis quer aumentar a conexão do Palácio das Artes com o interior

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
01/08/2022 às 07:25.
Atualizado em 01/08/2022 às 07:39
Reis esteve à frente da Empresa Mineira de Comunicação por dois anos (Mauricio Vieira)

Reis esteve à frente da Empresa Mineira de Comunicação por dois anos (Mauricio Vieira)

A distância da Fundação Clóvis Salgado (FCS), na região central de BH, para a Rede Minas, no Barro Preto, é de cerca de três quilômetros. Um percurso que, no sentido da cooperação, sempre pareceu difícil de ser cumprido. É um dos aspectos que o jornalista Sérgio Rodrigo Reis pretende mudar ao assumir a presidência da FCS.

Após dois anos à frente da Empresa Mineira de Comunicação, que administra a emissora e a rádio Inconfidência, ele espera encurtar de fato a distância entre as duas instituições. Um passo já será dado com o acordo de cooperação que levará, por meio da tecnologia do audiovisual, ações da FCS para o interior.

“A pandemia nos ensinou a usar a tecnologia para nos aproximarmos e estabelecermos estas trocas de conhecimento. Vamos usar esses recursos a favor da democratização do conhecimento cultural”, registra Reis, antecipando a intenção de disponibilizar os cursos de formação do Cefart por meio da EMC.

O desafio é grande, já que não se trata apenas de distâncias. O tempo é fator primordial. Reis assume o comando da FCS faltando apenas cinco meses para o fim do mandato de Romeu Zema no governo estadual. “Serão iniciativas a curto e médio prazos com impactos para o futuro”, avisa.

O que lhe motivou a aceitar o convite para assumir a presidência da Fundação Clóvis Salgado, faltando menos de seis meses para o término desta gestão do governador Romeu Zema?
A principal motivação foi a de buscar soluções e estratégias para contribuir para ampliação da atuação da Fundação Clóvis Salgado – hoje instalada em unidades em Belo Horizonte – pelo interior de Minas Gerais e também abrir oportunidade para manifestações culturais ainda com pouca visibilidade nestes espaços. A FCS, em seus 50 anos, se tornou uma instituição singular no Brasil. Nesse ambiente múltiplo convivem, diariamente, maestros, diretores artísticos, cineastas, artistas de teatro, dança, música e artes visuais, curadores, produtores, gestores, pesquisadores, estudantes de arte e o público, oferecendo algo singular para a vivência de todos os passos do fazer artístico. Contudo, salvo raros momentos, essas oportunidades de transformação social e humana por meio da vivência da arte, da cultura e do conhecimento estão, historicamente, limitadas a quem pode vir a Belo Horizonte. Democratizar essas oportunidades para os municípios é o grande desafio que nos motiva neste momento.

Com um período tão curto, como você pretende trabalhar as ações do Palácio das Artes? Serão iniciativas de curto prazo?
Serão iniciativas a curto e médio prazos com impactos para o futuro. Ao longo dos últimos anos desenvolvemos um diálogo muito próximo com os municípios mineiros, por meio, por exemplo, de articulação institucional com as 44 Instâncias de Governança Regionais (IGRs) e a Associação Mineira de Municípios, além das inúmeras viagens de trabalho pelos quatro cantos de Minas. Legado que aproximou esta gestão do povo. Não é uma gestão de gabinete. É uma gestão próxima, que ouviu, compartilhou desafios e, hoje, conhece as demandas da sociedade. A Fundação Clóvis Salgado tem o desafio de seguir esta lógica aproximando suas ações da população de forma ampliada. Vou citar um exemplo: o Circuito Liberdade é uma potência do turismo cultural. E com poucos dias já assumimos a gestão dele, com seus 32 equipamentos culturais instalados na capital mineira. A atuação do circuito, com seus mais de 2 milhões de visitantes anuais e sua diversidade de programação artística, cultural e de eventos, movimenta uma economia criativa potente. Em nossa primeira reunião já definimos o fortalecimento de uma agenda conjunta de programação, quando todos se unirão em torno de uma grande ação cultural em torno do Bicentenário da Independência do Brasil e do Natal Luz. Além da criação de grupos de trabalho para estabelecer uma sinergia maior com os programas educativos e as ações de comunicação e promoção do Circuito. 

Qual a importância do turismo cultural para o Estado?
É a principal ferramenta da ampliação da economia criativa, gerando emprego e renda para milhares de profissionais em várias cadeias produtivas. Cerca de 72% do nosso turismo é cultural. Oportunidades como a do Circuito Liberdade revelam como é possível transformar, por meio da atividade cultural. A Fundação Clóvis Salgado pretende ampliar esta lógica por meio de unidades consorciadas em várias regiões, oferecendo possibilidades de trocas de experiências e vivências entre essas instituições e fortalecendo uma rede descentralizada de intercâmbios.

O Palácio das Artes foi muito afetado por um contexto de gestão pública em que há a necessidade de contenção de gastos, dependendo do apoio da iniciativa privada que, nos últimos anos, tem investido pouco em cultura. Como pretende driblar essas dificuldades?
A situação de contenção de gastos é uma realidade de Minas Gerais, que estava em uma situação muito delicada, com profundos impactos na prestação da maioria dos serviços públicos. O choque de realidade e os ajustes foram necessários para colocar o Estado novamente no rumo e voltar a oferecer uma série de serviços e oportunidades para melhoria da qualidade de vida do cidadão comum. Na cultura não foi diferente. Houve ajustes necessários para voltarmos a ter uma gestão eficiente dos gastos públicos. Já a questão do apoio da iniciativa privada, por meio da captação de recursos pelas leis de incentivo à cultura, a situação foi outra. Tivemos recorde de captação no último ano, por exemplo, mas ainda dependemos da liberação pelo governo federal destes gastos para movimentação. Estamos empenhados para que estes recursos possam ser liberados, ampliando assim, nossa capacidade de atuação e nossas entregas, sobretudo para o interior do Estado. Enquanto esta realidade não se altera, estamos, num esforço coletivo e colaborativo, bastante produtivo, adaptando nossas ações, com criatividade e empenho, à realidade. A cultura, como poucos setores, tem a capacidade de se reinventar e se fortalecer nos momentos difíceis e ressurgir mais potente. Tenho convicção que sairemos fortalecidos deste momento.

Você observou recentemente que pretende transformar o Palácio das Artes na “casa do povo”. Como pretende mudar esse conceito?
A cultura é um direito. A inclusão e a democratização do acesso à transformação social e humana proporcionadas pela vivência da cultura e de todo conhecimento que gravita em torno desta atividade, não pode ser um direito de poucos. O Palácio das Artes, instalado num imponente prédio no meio de uma das principais avenidas de Belo Horizonte, não é, historicamente, destino da maioria. Inverter esta lógica com programações mais inclusivas, que conversem com as expectativas de jovens, crianças e de demais setores da sociedade que pouco usam este espaço é nosso desafio; além, é claro, de fortalecermos as estratégias para manutenção de nosso público cativo. Essa mudança de paradigma não é um processo rápido. Mas é uma cultura que já começamos a mudar com fortalecimento de estratégias em nossa programação e prestação de serviços.

Nos últimos anos, o Palácio das Artes perdeu o protagonismo com a inauguração de novos espaços para eventos em Belo Horizonte. Como você analisa esse momento?
Com a inauguração de dezenas de centros e equipamentos culturais na capital mineira, o Palácio das Artes deixou de ser a única casa de espetáculo de grande porte na cidade. Isto é fato. Porém, não vejo como algo ruim. Pelo contrário. A diversidade é muito positiva para a sociedade e para o estabelecimento de uma concorrência sadia entre os espaços. Quem ganha é o público, que passa a ter mais opções. Mas não concordo com a afirmação de que o “Palácio das Artes perdeu o protagonismo” porque é talvez o único local, não só de Minas, mas do país, que reúne formação, produção artística, promoção e difusão de tantas manifestações culturais diversas em um só lugar. Não que isso seja algo positivo para a sociedade. Feliz de nós se tivéssemos mais equipamentos culturais que não apenas funcionassem como receptores de eventos e pudessem fomentar a cadeia produtiva e a economia criativa. Certamente teríamos muito mais oportunidades de transformação social e humana por meio da arte e do conhecimento que gravitam em torno deste ofício transformador.

Com a experiência de quem ficou dois anos na EMC, você pretende estreitar os vínculos entre as duas instituições? 

Já estreitamos. Iremos assinar um acordo de cooperação, nas próximas semanas, entre Fundação Clóvis Salgado e a Empresa Mineira de Comunicação (Rede Minas, Rádio Inconfidência e EMC PLAY), para levar e ofertar, por meio da tecnologia do audiovisual _ televisão aberta, rádio e streaming (vídeo sob demanda) _, o conteúdo e o conhecimento da FCS para os mineiros. Hoje as distâncias físicas não são mais um impedimento para essas trocas. A pandemia nos ensinou a usar a tecnologia para nos aproximarmos e estabelecermos estas trocas de conhecimento. Vamos usar esses recursos a favor a democratização do conhecimento cultural, que gravita em torno de nossas atividades, oferecendo essa possibilidade de intercâmbio de formação e difusão com os municípios mineiros. A intenção, por exemplo, é disponibilizar, por meio da tecnologia, algumas formações de extensão do Cefart para as cidades e também transmitir, até nacionalmente, alguns de nossos concertos e apresentações, ampliando, e muito, nos próximos meses, nossa capacidade de entrega.

Você sente que cumpriu os seus objetivos na passagem pela EMC?

Quando cheguei à Empresa Mineira de Comunicação tinha o objetivo de ampliar o alcance e a abrangência da Rede Minas para o interior, promover uma programação que saísse dos estúdios e dialogasse com as várias regiões do Estado, além de buscar um diálogo com as novas tecnologias e aumentar  o alcance da Rádio Inconfidência AM e FM. Na época, a Rede Minas estava sendo sintonizada em 312 cidades e, se nada fosse feito, em 2023, quando o sinal analógico de transmissão deverá ser desligado no País, chegaria a apenas 51 cidades que já tinham, sido digitalizadas. Com investimento inédito de cerca de R$ 300 milhões, que captamos junto ao Governo Federal (R$ 200 milhões) e ao Governo Estadual (R$ 100 milhões), revertemos este quadro. Já estamos digitalizando o sinal em vários municípios mineiros neste que será o maior projeto de inclusão digital do Brasil _ dada a sua amplitude _, levando o sinal digital de multiprogramação para os 853 municípios mineiros ao longo dos próximos meses. A Rede Minas será a maior rede de comunicação em alcance de todo Estado e irá acompanhada de, pelo menos, mais dois outros canais dedicados ao ensino à distância, por meio de uma parceria com a Secretaria Estadual de Educação.

Já as rádios Inconfidência AM e FM ganharam programações mais competitivas e voltaram a disputar a audiência. Outro ganho foi a ampliação do sinal destas emissoras com a aquisição de um novo transmissor e equipamentos. Ainda no universo do rádio, tivemos a felicidade de inaugurar em BH a Rádio MEC, por meio de uma parceria com a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC). A emissora especializada em música instrumental e de concerto é uma referência nacional e, até então, sem atuação em Minas Gerais, estado que, historicamente, se desponta pela produção artística nesta área. Com a Rádio MEC operando em Minas poderemos exportar para todo País nossa produção cultural, transmitindo nossos concertos, entrevistando nossos músicos e cantores e, com isso, ganhando em abrangência e relevância para nossos eventos. A mesma estratégia de diálogo nacional foi adotada na programação da Rede Minas. Em parceria com mais de 300 municípios, inauguramos o projeto Gerais+Minas, que permitiu que saíssemos dos estúdios da emissora em Belo Horizonte, e pudéssemos produzir nossos programas, nos cenários reais espalhados pelos quatro cantos do Estado. Com isso, a diversidade cultural, humana e as nossas paisagens ganham destaque inédito na emissora revelando o que de mais particular nos temos: o jeito acolhedor e mineiro de ser e ver o mundo. Essa nossa característica hospitaleira e acolhedora que nos singulariza chamou a atenção das emissoras nacionais e, com essa produção diferenciada, exportamos nosso conteúdo, fomentando nosso turismo e nossa cultura.

Um outro desafio importante foi a criação da EMC PLAY. A plataforma de vídeo sob demanda é a única do mercado voltada para o fomento do conteúdo audiovisual mineiro com esta abrangência. Além do conteúdo da Rede Minas (que possui um incrível acervo de 37 anos de produção), das Rádios Inconfidência, ainda teremos espaço para promoção e divulgação do audiovisual mineiro. Trabalhamos muito. As metas eram ambiciosas, mas posso dizer que, nem no mais otimista dos cenários, imaginava que o esforço coletivo de todos os colaboradores da EMC, poderia nos levar a este novo patamar e com estas entregas tão potentes.

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