CINEMA

O complexo e o banal das relações humanas comandam narrativa do filme 'Encontros'

Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br
05/09/2022 às 06:49.
Atualizado em 05/09/2022 às 08:39
Filme sul-coreano de Hong Sang-soo ganhar o prêmio de melhor roteiro no Festival de Berlim (Pandora/Divulgação)

Filme sul-coreano de Hong Sang-soo ganhar o prêmio de melhor roteiro no Festival de Berlim (Pandora/Divulgação)

A palavra encontro geralmente nos transporta para uma ideia de troca e proximidade. Em seu mais recente filme, premiado no Festival de Berlim, o diretor sulcoreano Hong Sang-soo dá um sentido oposto a ela, como sinônimo de distanciamento.

A cada encontro de seus personagens, a narrativa parece dar um passo em direção a um afastamento irreconciliável. Por mais que troquem palavras amenas em situações triviais, num restaurante ou na rua, o estranhamento é evidente.

Com uma fotografia em preto e branco bastante contrastada, em que geralmente o exterior é mostrado com um clarão indistinguível, a sensação é de que há muito mais internamente do que os três grandes encontros revelam.

Preencher alguns desses “gaps” é um dos combustível de “Encontros”. Ao mesmo tempo em que a trama dá saltos no futuro, ela deixa para trás várias perguntas que só serão respondidas a partir de conjecturas do espectador.

Há um pai “rico” que roga por uma chance a Deus – mas não sabemos o motivo. Ele solicita o encontro com o filho, mas não descobrimos a razão. Assim como o término do namoro de Young-ho e Ju-won ganha ares misteriosos.

Não deixa de ser curioso que a primeira cena de “Encontros” mostra o desespero do pai acupunturista, em seu diálogo com Deus, enquanto a última nos traz novamente esse elemento religioso, como “punição” ao casal de namorados.

Há culpa e arrependimento, mas diferentemente dos filmes tradicionais, eles não oferecem nenhum tipo de recompensa. Até porque esses momentos parecem deslocados, como se fizessem parte de um sonho.

Young-ho está cochilando na sala de espera do pai quando é acordado pela simpática secretária. Os dois trocam palavras afetuosas diante do tempo gélido. É como uma despedida e, de fato, aquele cenário não será mais retomado.

Em outra cena, ele acorda no carro após beber em almoço com a mãe, com quem também mantém relação distanciada.  Ju-Won aparece na praia, após retornar da Alemanha. Há um corte brusco, deixando no ar se era imaginação.

Em seguida, vemos  Young-ho na rua, olhando para um  hotel onde  a mãe está hospedada. Ela repentinamente aparece na sacada e, apesar dos pedidos do amigo, o filho  prefere não acenar, evidenciando o fosso geracional.

Se a ex-namorada surge cheia de desilusões após experiências frustrantes em outro país, Young-ho ainda está alguns passos atrás, tentando compreender seu lugar no mundo em relação às principais questões da vida.

Cena presente em vários filmes de Sang-soo, num restaurante os convivas dividem anseios e frustrações, exibindo um humor melancólico que sintetiza o cinema do realizador. Para ele, a existência pode ser dura e também trivial.

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