(Reprodução)
O que você colocaria no seu varal de recordações? A resposta deveria estar na ponta da língua, mas parece cada vez mais difícil nesses tempos em que a instantaneidade deleta da memória até bons momentos da vida.
Talvez por isso a história de Lívio Lavanda, personagem do livro homônimo de Michael Roher, traga tantas reflexões. É que Lívio tem um varal onde coloca tudo o que merece ser lembrado.
Com pregadores, ele gruda na mente e no coração o que sentiu quando viu o mar pela primeira vez, o inusitado encontro com um vizinho e o cachecol cheio de poesia que tricotou para a amada.
Tudo com um texto levíssimo, tanto quanto o semblante do personagem principal, um daqueles caras boa-praça que a gente queria encontrar todo dia no caminho.
Boa companhia
No passeio pelas páginas, Lívio nos faz mergulhar em nossa própria história, obrigando-nos a pensar no que reles-mortais-atarefados-e-cheios-de-prioridades-questionáveis deixam para trás todos os dias.
Nos deixa também uma certa dose de culpa, principalmente se a leitura for feita ao lado dos filhos que muitas vezes não curtimos o tanto que gostaríamos.
Lamentos à parte, é para eles as perguntas colocadas no fim de cada página, tipo “O que você faz num dia chuvoso”, “Como você imagina o céu” e “Que gosto tem a neve”.
Um recurso que outros autores certamente já usaram, mas que em Lívio Lavanda serve como atalho para a imaginação e ainda pode deixar seu varal um pouquinho mais pesado. Afinal, ouvir de uma menininha que o que a faz feliz é o abraço de quem ela ama não merece jamais cair no esquecimento.