(Divulgação)
A greve de metalúrgicos ocorrida na região do ABC paulista, em 1979, serve de pano de fundo para o espetáculo “O Pão e a Pedra”, que tem sessões a partir de amanhã em BH, no CCBB.
Novo trabalho da Companhia do Latão (SP) – conhecida por seu teatro político –, a obra mistura elementos realistas, fantásticos e documentais para problematizar o encontro entre o movimento operário e a igreja na década de 70. “Muitas igrejas atuavam em situações de injustiças sociais, políticas e econômicas. E chegaram a evitar que os grevistas fossem presos. Esse movimento foi simbólico na luta pela redemocratização do país”, recorda o diretor Sérgio de Carvalho.
Tanto que o título foi retirado da Bíblia, e soa como uma convocação: “Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão?”, declama o diretor.
Três Alas
No plano narrativo, as complexidades vividas pelo movimento são desmembradas em três grupos: o novo sindicalismo, a igreja progressista e o movimento estudantil de esquerda. “Foram as três vozes que engrossaram a greve. Elas estão representadas por personagens fictícios”, diz.
A peça mostra não só a interlocução entre as três alas, mas suas transformações internas. Exemplo disso é a história de uma operária que se disfarça de homem para ganhar um salário melhor. “Essa mulher apoia e ajuda à causa, mas não adere à greve quando se veste de homem. E gera toda uma situação”, comenta o diretor.
Momentos como esse, de pequenas histórias isoladas dentro do contexto da peça, mostram os aprendizados políticos e a luta pela sobrevivência dos personagens. A montagem brinca com o tempo da história e o da cultura. “Tudo é fictício, a não ser o fato em si ocorrido em 1979. Assim trabalhamos no tempo da arte. Isso causa certa estranheza no público, mas o deixa curioso”, acrescenta.
No final, segundo Carvalho, ficam sentimentos de indignação e esperança, muito próximo do que o país experimenta atualmente. “Apesar de não ter referência direta ao momento político do país, os sentimentos são os mesmos”.
“O Pão e a Pedra” no CCBB-BH (Praça da Liberdade, 450). De amanhã a segunda (11), às 19h. Entrada: R$ 20 e R$ 10 (meia)