Pôsteres de filmes mineiros ganham destaque e dão maior visibilidade às obras

Paulo Henrique Silva
24/07/2019 às 08:46.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:40
 (Ricardo BastosS/Divulgação)

(Ricardo BastosS/Divulgação)

Os anos 70 foram a época de ouro das “cabeças flutuantes”, nome dado àqueles cartazes recheados de rostos que rodeiam o título do filme. Quando recebeu a proposta para confeccionar o pôster de “No Coração do Mundo”, longa-metragem de Gabriel e Maurilio Martins que estreia na próxima semana, Vito Quintans também ganhou a tarefa de recriar este estilo clássico.

“A linguagem do filme tem muito a ver com uma estética dos anos 70, de histórias sobre planejamento de crimes. E o cartaz buscou imprimir essa atmosfera”, registra Quintans, paraibano de 32 anos, há três morando em Belo Horizonte, e “sem prazo para ir embora”. O designer observa que a cidade tem um cenário muito forte de produtores gráficos, “ponto de referência para o Brasil”.

Premiados

Por conta desta cena efervescente, o cinema mineiro, premiado em festivais no país e no exterior, tem sido destaque também na elaboração de seus cartazes. A pernambucana Clara Moreira, que morou por quatro anos em BH, sabe bem disso. É dela a autoria dos pôsteres dos filmes “Ela Volta na Quinta”, de André Novais, e “A Cidade Onde Envelheço”, de Marília Rocha.

Clara, que assina um cartaz especial de “Bacurau”, filme ganhador do Prêmio do Júri no Festival de Cannes, será tema de uma exposição retrospectiva no Palácio das Artes, durante o Festival Internacional de Curtas-Metragens de Belo Horizonte (FestCurtas), que acontecerá de30 de agsoto a 8 de setembro. Ela ainda participará de um bate-papo com o público sobre cinema e arte gráfica no festival.

“Eu sempre fui cinéfila e me relaciono com os filmes de uma forma muito afetiva. Os cartazes entram neste lugar, no campo do afeto. Quando comecei a fazer, há dez anos, e optei pelo desenho, a ideia já era provocar um sentimento de nostalgia, de saudade. Os pôsteres representam, para mim, uma possibilidade de um souvenir, que você quer levar de lembrança para casa”, assinala Clara.

Lápis de cor

O trabalho da artista pernambucana é todo artesanal, feito na prancheta. Ela recorre à tinta acrílica e ao nanquim, mas o grande protagonista é mesmo a caixa de lápis de cor. “Ele é meu xodó, a minha assinatura. É a técnica em que fico mais confortável”, registra Clara, que destaca a importância de estabelecer uma parceria com o realizador.

Foi assim com o curta de animação “Guaxuma”, de Nara Normande. “Ela tem um jeito de trabalhar muito intenso, como se nos levasse para esse lugar do pensamento dela sobre o filme. E como se trata de uma obra pessoal, sobre a vida dela, precisei fazer esta viagem. Fiz o cartaz com a técnica do pontilhismo, que se assemelha aos grãos usados por Nara no filme”, salienta.

Cartazes de filmes têm sido usados desde as primeiras exibições públicas de filmes, no início do século 20. Em leilões, os preços de pôsteres costumam chegar a cifras elevadas. Em 2017, o cartaz de “Drácula” (1931), filme de terror com Bela Lugosi no papel do vampiro, foi arrematado por US$ 525,8 milO trabalho em “A Cidade Onde Envelheço” também merece destaque. As questões abordadas pela narrativa, sobre duas portuguesas em trânsito, com uma chegando a Belo Horizonte e outra saindo da capital mineira, coincidiram com uma situação similar vivida por Clara. “Mexeu muito comigo. Na época, estava me organizando para voltar para Recife”, lembra.

 "A parte mais saborosa é produzir uma imagem a partir do mateiral bruto"Ao contrário do que muitos imaginam, o trabalho de quem confecciona cartazes para cinema não começa quando o filme termina. No caso de Vito Quintans, ele pode se iniciar até mesmo antes de o diretor gritar “ação!” num set de filmagem.  Com “O Uivo”, que está sendo produzido na Paraíba com parceiros internacionais, ele já trabalha, a partir do roteiro, os elementos gráficos que constarão no filme. “Eu me sinto um cocriador, pensando num conceito que está ali dentro”, observa. Quintans, que também realiza encartes para discos, salienta que a parte mais saborosa de um trabalho é produzir uma imagem a partir do material bruto a que teve acesso, “entendendo o conceito do projeto e criando coisas em cima”. Ele chamou a atenção dos diretores de “No Coração do Mundo” após fazer o cartaz de “O Nó do Diabo”, filme de episódios no gênero terror, feito na Paraíba, e lançado no ano passado. Um dos diretores era justamente o mineiro Gabriel Martins. O designer também compõe música para cinema. Trabalho, aliás, que começou antes de virar designer. “Continuo fazendo. No Nordeste, é um pouco diferente daqui. As pessoas são menos especializadas e o mercado demanda uma formação mais generalista”. LUCAS PRATES / N/A

Paraibano Vito Quintans confere no Cine Belas Artes o cartaz do filme “No Coração do Mundo”, produzido por ele

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