Sopra, BH: Com desfiles neste fim de semana, blocos multiplicam sopristas no Carnaval de rua

Lucas Buzatti
15/02/2019 às 18:59.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:34
 (lorena zschaber/divulgação)

(lorena zschaber/divulgação)

Laura Fonseca/Divulgação 

Pega no Piston, cujo cortejo acontece neste domingo, começou como uma oficina ministrada por Ygor Rajão

Não é segredo para ninguém que o Carnaval de Belo Horizonte está em franco crescimento. Entre os impactos positivos da transformação da folia está a explosão de sopristas pela cidade. Hoje, a “metaleira” tem lugar cativo em vários blocos e, inclusive, alguns para chamar de seus. É o caso do Pega no Piston, que surgiu das oficinas ministradas pelo músico e produtor Ygor Rajão, pioneiro dos sopros no Carnaval de rua de BH. O bloco desfila mais uma vez neste domingo (17), a partir das 13h, saindo da Praça Zamenhof, no Floresta.

Rajão relembra que, em 2009, ele, o saxofonista Henrique Staino e outros poucos sopristas começaram a tocar no Carnaval por uma demanda dos blocos. “Era uma necessidade. Não dava mais para puxar as músicas só no ‘gogó’. Então, apareceram algumas poucas pessoas para tocar as marchinhas. Era o único formato possível”, afirma, ressaltando o surgimento dos caderninhos de partituras, produzidos por ele desde 2011.

“A partir daí, a coisa começou a ficar mais séria. Vários foram colaborando na escrita das partituras e comecei a fazer a oficina, que ganhou o nome “Pega no Piston”, continua Rajão. O músico sublinha que 200 pessoas já passaram por sua oficina, entre este ano e 2016, quando ele estabeleceu nova metodologia de ensino para iniciantes. 

Explosão

Somada às oficinas de Rajão, a participação no Honk (festival de fanfarras que aconteceu no Rio de Janeiro), em 2016, fez explodir vários grupos de sopros pela cidade – como Sopra que Sara, Estação Diamante e Estagiários Brassband. “Acho que o fenômeno é fruto de um processo natural, que tem a ver com o Carnaval de rua e com o Honk”, reflete Rajão. 

Assista o Sopra que Sara tocando "Lucro", do Baiana System, no Honk 2018

O músico pontua que o Pega no Piston não é uma brassband, mas um bloco concebido para celebrar a cultura dos sopros. “É o único bloco que tem uma regência específica de sopros, que tem a estética da oficina, em que eu me preocupo com linhas de baixo, acompanhamentos e improvisos”, afirma. “E é um bloco que tem essa coisa da bateria fechada e enxuta, justamente para a percussão não cobrir os sopros, o que acontece na maioria dos blocos. É o momento dos sopros aparecerem”. Danilo Candombe/Divulgação

Babadan, que sai neste domingo, reúne sopristas profissionais que tocam em várias bandas de BH

Profissionais

Dentre os grupos recentes que enfocam os metais destaca-se o Babadan Banda de Rua, formado em 2018. O bloco aglutina vários sopristas profissionais que integram bandas de Belo Horizonte, de orquestras a grupos relacionados à temática carnavalesca. É o caso do trompetista Juventino Dias, que toca no Chama o Síndico e foi um dos fundadores do novo grupo. “O Babadan surgiu através do nosso desejo, meu e do amigo e percussionista Camilo Gan, de fazer um som que misturasse três importantes tradições mineiras: o congado, o candomblé e o som das bandas de Minas”, explica.

Veja o Babadan interpretando "Fé Cega, Faca Amolada"

O músico ressalta que o repertório do Babadan – que desfila neste domingo (17), a partir das 13h, saindo da Praça do Peixe, na Lagoinha – é predominantemente instrumental. “As influências musicais perpassam os ritmos afro-mineiros, toques sagrados do candomblé, samba, afrobeat, afro-cubano, jazz, funk, soul e tamborzão, entre outros”, descreve Dias, que vê com bons olhos o crescente interesse pelos sopros. “O reflorescimento do Carnaval de BH potencializou esse fenômeno, mas os sopros são a cara de qualquer folia de rua. É dos instrumentistas de sopros a responsabilidade de entoar melodias reproduzidas pela massa carnavalesca”. Lorena Zschaber/Divulgação

Nara Torres rege o último ensaio do Sagrada Profana antes do desfile deste sábado, com 52 sopros

Sagrada Profana e o protagonismo das mulheres sopristas

Em 2017, outro importante grupo que enfoca os instrumentos de sopro foi criado em BH. Iniciativa da musicista Nara Torres, a Sagrada Profana tornou-se a primeira fanfarra feminina da cidade – que vai às ruas pela terceira vez neste sábado (16), a partir das 13h, na Pampulha. “Em 2015, aconteceu a chamada primavera feminista no Brasil e eu comecei a pensar na minha postura como ativista dentro da arte. Após reflexões, pensei que minha forma de contribuir era com a criação de um bloco feminista” conta a artista, que é uma das fundadoras do Chama o Síndico. 

“No começo, a ideia era um bloco mais ligado à adaptação da canção, como outros que já existem. Mas eu tinha esse incômodo já com os sopros, porque tocava com o Chama o Síndico e o Iconili (banda de música instrumental mineira) que têm sopros muito fortes, e nunca tinha tocado com uma soprista”, continua. “Então, comecei a pensar na invisibilidade da mulher soprista dentro da cena musical. Somando essa invisibilidade à questão técnica, de querer fazer um Carnaval no chão, acústico, optei por essa linha da fanfarra”, completa Torres.

Relembre como foi o desfile do Sagrada Profana em 2018

A musicista conta que foi desencorajada na época, por colegas de profissão que desacreditavam que houvesse muitas mulheres sopristas na cidade. “Algo me dizia que elas estavam por aí, só não tinham espaço”, sublinha, ressaltando que chegou ao nome da trombonista Natália Coimbra para “chefiar” os sopros. “A partir daí, uma foi chamando outra, que chamou outra e saímos pela primeira vez em 2017 ”, completa. 

Para Torres, o grande interesse pelos sopros se integra ao movimento de aproximação do fazer musical. “São as pessoas se propondo a tocar um instrumento. Isso traz para todo mundo um conhecimento e um respeito maior sobre o que é fazer música”. 

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