Fábio Baccheretti

Minas vive nova onda da Covid, mas preocupação é com 2023, alerta secretário estadual de Saúde

Raíssa Oliveira
raoliveira@hojeemdia.com.br
19/12/2022 às 07:01.
Atualizado em 19/12/2022 às 11:49
 (Lucas Prates / Hoje em Dia)

(Lucas Prates / Hoje em Dia)

Minas vive mais uma nova onda de casos da Covid-19, desta vez impulsionada pelas infecções da subvariante da Ômicron, a BQ.1. No entanto, a preocupação maior é com  o ano que vem, que pode ter até três vírus respiratórios com maior circulação no Estado ao mesmo tempo. O alerta  é do secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti.

De acordo com o chefe da Secretaria de Estado de Saúde (SES), a onda atual deve registrar queda no número de casos nos próximos dias. A pasta mira esforços para frear as contaminações em um período mais à frente, entre março e abril, quando os casos do coronavírus podem vir associados a diagnósticos da gripe e do vírus sincicial (que pode causar bronquites).

Na pasta há quase dois anos, Baccheretti revela conversas com a equipe de transição do governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva  para a compra de mais vacinas contra a doença. Ele confirma a permanência na SES durante o próximo mandato do governador reeleito Romeu Zema (Novo) e garante novos investimentos  no Estado. Confira o balanço da saúde em Minas e a expectativa para o próximo ano em entrevista ao Hoje em Dia.

Minas vive um aumento dos casos da Covid-19. Estamos em uma nova onda? Essa realidade preocupa a SES?
O que estamos vivendo de pandemia é muito esperado, não surpreende. As ondas passaram a ser separadas após a vacinação. Nas próximas semanas já vamos ter uma queda de casos. Nosso olhar é um pouquinho mais para frente, em março, quando temos isso associado ao vírus da gripe e o vírus sincicial respiratório, que pega crianças. Isso  nos preocupa porque são três vírus, então pode ter um impacto na emergência. Não acredito em impacto na internação e nos leitos de UTI. Apesar disso, costumamos nos preparar  com os hospitais João Paulo II e o João XXIII, abrindo leitos extras.

Essa onda atual está ligada a aglomerações, como as provocadas durante a Copa do Mundo?
É uma onda muito pequena que vai começar a cair nas próximas semanas. Não tem mais vínculo relacionado aos feriados: ‘o Natal e o Ano Novo podem aumentar’... Não vemos isso mais, já tem um tempo que não vemos isso. Nada inesperado, o foco que temos é na vacinação. Do mesmo jeito que podemos ficar calmos em relação às consequências da nova onda, podemos ficar tranquilos em dizer que a vacinação faz esse efeito em uma cepa menos letal.

A Prefeitura de Belo Horizonte anunciou que precisa de mais de 700 mil doses para aplicar a 4ª dose em pessoas de 18 a 39 anos, sendo que havia apenas cerca de 20 mil  em estoque. A falta de vacinas é uma realidade em todas as cidades mineiras?
Não é recomendada a vacinação do público de 18 a 39 anos por falta de vacina, e sim porque os estudos mostram que não é necessário. Alguns municípios estão com doses sobrando e estão ampliando, mas essas doses não estão sobrando à toa, e sim porque o idoso não tomou a quarta dose, porque muita gente não tomou a terceira dose. Os municípios não têm que pensar em ampliar para um público que não está recomendado. Esse público vai tomar o reforço agora no início do ano, uma bivalente da Pfizer.

Não é recomendada a vacinação do público de 18 a 39 anos por falta de vacina, e sim porque os estudos mostram que não é necessário. Alguns municípios estão com dose sobrando e estão ampliando

Toda a população terá essa  dose de reforço no próximo ano?
Há uma cobrança. Há um mês  estivemos no Conselho Nacional de Secretários de Saúde e passamos até para a equipe de transição a necessidade de estabelecer um calendário anual. A expectativa é que toda a população tome uma dose de reforço (no próximo ano), essa vacina bivalente da Pfizer, provavelmente. Deve ser junto com a Influenza, que acontece em abril e maio, mas a gente pede para adiantar devido ao período de sazonalidade. Esse público todo que não tomou a 4° dose pode ter calma, ele vai tomar o reforço anual já no início do ano que vem junto com a da gripe.

No início da vacinação se falava em um intervalo de quatro meses entre as doses. Isso mudou?
Sim. Pela imunização ampla da população, com três doses, e com o contato direto com o vírus. A OMS (Organização Mundial de Saúde), inclusive, estima que 90% da população teve contato com a doença ou recebeu a vacina. Então, sem dúvida nenhuma a queda da imunidade é menor, ainda não se estabeleceu um prazo específico. Também não faz mais sentido dar reforço às vacinas que não cobrem as novas cepas. Porque nós vacinamos contra a gripe anualmente? É porque novas cepas aparecem em um ano. Isso deve ser uma rotina para Covid também. Novas cepas vão surgir anualmente e essas novas vacinas de reforço vem para fortalecer o sistema imunológico.

Em BH está em vigor um decreto que obriga o uso de máscaras nos transportes  e unidades de saúde. Qual a avaliação da SES sobre essa medida? O Estado também trabalha com a perspectiva de retorno da proteção?
O nosso foco é a vacinação para que tenhamos a máscara como uma recomendação. O Estado, desde o fim do Minas Consciente, mantém a máscara como uma recomendação para alguns casos específicos, como aglomerações em locais fechados, pessoas com comorbidades e quem está com sintomas gripais. A gente não vai deixar de incentivar qualquer município que entenda que a máscara é importante.

Durante a pandemia a fila para as cirurgias eletivas cresceu. Qual é a situação atual?
Sempre nos preocupou, inclusive, foi um tema tratado com a equipe de transição. Levamos ao novo governo para que faça uma ação rápida de recurso financeiro para que se combata essa fila que aumentou muito na pandemia. Mas, Minas saiu  na frente, em dezembro do ano passado criamos o Opera Mais. E esse ano vamos bater um recorde de cirurgias, mesmo sendo um ano que tivemos o comprometimento dos três primeiros meses quando muitos profissionais ficaram doentes. Expectativa é que façamos 20% a mais do que fizemos em 2019,  considerado o melhor ano cirúrgico de Minas.

Em novembro, a SES disse que vários municípios estavam sob alto risco de reintrodução de doenças, como a poliomielite. Como está a situação hoje? A imunização foi satisfatória?
Em termos gerais, a vacinação no Estado caiu muito nos últimos anos, piorou na pandemia, mas já estamos recuperando. Estamos fazendo ações ativas que têm surtido efeito. A poliomielite, por exemplo, que desde 2016 a gente estava longe da meta, esse ano estamos quase com 90%. Então estamos vendo um efeito muito positivo.

A expectativa é que toda a população tome uma dose de reforço (no próximo ano), essa vacina bivalente da Pfizer, provavelmente. Deve ser junto com a Influenza, que acontece em abril e maio

Minas teve uma preocupação em relação à meningite neste ano. Inclusive, houve ampliação do público-alvo da vacinação. Essa ação foi efetiva?
Tivemos em alguns municípios, como Extrema, grande número de casos. Mas em relação aos casos totais é muito parecido com o dos anos anteriores. Nós temos um privilégio que a Funed fabrica a vacina da meningo C. Pedimos ao governo federal para ampliar nosso grupo e fizemos isso. Sem dúvida nenhuma estamos melhor protegidos da meningite C, uma das mais letais. Provavelmente, teremos 2023 convocando os grupos com menor chances de internações e surtos de meningite.

No próximo dia 1° o governador reeleito Romeu Zema assume mais um mandato de quatro anos. O senhor vai continuar na SES?
Vou. Fui convidado e aceitei. Estou há 22 meses na secretaria e acho que conseguimos entregar muita coisa, além de combater algo histórico que é a pandemia. Mas, em quatro anos conseguiremos fazer mais. A transformação na saúde nunca é a curto prazo, mas sim a médio e longo prazo.

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