Frederico Ayres Lima

'O Brasil está em posição de destaque na agenda ESG', diz presidente da Aperam South América

DA REDAÇÃO
portal@hojeemdia.com.br
03/07/2023 às 06:00.
Atualizado em 03/07/2023 às 09:51
Frederico Ayres Lima, CEO da Aperam South America (Francisco Pereira Neto/ Divulgação)

Frederico Ayres Lima, CEO da Aperam South America (Francisco Pereira Neto/ Divulgação)

É possível conciliar siderurgia com responsabilidade ambiental, diz Frederico Ayres Lima, presidente da Aperam South America. Primeira no segmento de aços planos especiais a conquistar neutralidade de emissões na produção, a empresa também foi, em 2022, pioneira na América Latina ao realizar uma transação de venda de certificados de remoção de carbono. E o momento permite fazer mais, trazendo para o Brasil a chance de se tornar personagem importante no processo de descarbonização em âmbito global, diz o executivo. Nesta entrevista, ele também fala do uso de energia renovável na produção de aço em Timoteo, no Vale do Aço, e de investimentos na região do Jequitinhonha. 

A Aperam divulgou recentemente que formou uma parceria com a Ferbasa para investir no Vale do Jequitinhonha. De que se trata esse negócio?
Maior produtora de carvão vegetal do mundo, a BioEnergia é a unidade da Aperam South America dedicada à produção de energia renovável que abastece a usina siderúrgica de Timóteo (MG), onde é fabricado o Aço Verde Aperam. Como o nosso foco central é produzir aço de forma responsável, utilizando energia renovável, estamos sempre atentos à oportunidade de desenvolver novos negócios não só na indústria, na área florestal também. Então, formamos uma joint venture com a Ferbasa, uma das principais produtoras de ferroligas do mundo, para ampliar a área plantada de eucalipto da atual da BioEnergia em 20%. É das florestas plantadas no Vale do Jequitinhonha que vem o carvão vegetal, uma fonte de energia renovável, que usamos aqui em Timóteo. Com a transição energética em curso na indústria, apostamos no crescimento desse mercado.

O senhor pode dar mais detalhes?
A joint venture a ser formada entre as duas empresas terá o nome de Bahia Minas BioEnergia Ltda, celebrando a parceria entre duas relevantes indústrias dentro dos respectivos estados. A Ferbasa na Bahia e a Aperam em Minas Gerais. As novas áreas florestais estão localizadas na região nordeste de Minas Gerais, no Vale do Jequitinhonha, próxima ao município de Carbonita, região em que a Aperam já tem atuação e contribui diretamente com o desenvolvimento local através de diversos projetos sociais, culturais, ambientais e econômicos.

Serão quantos hectares?
Serão cerca de 28 mil hectares, dos quais aproximadamente 50% são dedicados às áreas de conservação e vegetação nativa, que continuarão sendo preservadas dentro dos mais altos padrões de certificações nacionais e internacionais.

Quando a nova empresa entrará em operação e qual a estimativa de produção?
A nova empresa entrará em operação tão logo aprovada sua constituição pelo Cade. Quando a área estiver disponível para cultivo por parte da Aperam BioEnergia, estima-se uma capacidade adicional de cerca de 70k ton/ano de carvão vegetal.

Quais as matérias-primas produzidas pela Aperam BioEnergia?
As florestas de eucalipto plantadas pela Aperam BioEnergia são a fonte para a produção de carvão vegetal. Por ser obtido por meio de um processo de produção sustentável, é considerado uma fonte de energia limpa e renovável. Hoje, o Brasil é o maior produtor mundial de carvão vegetal, que é consumido pelas indústrias de ferro-gusa, aço e ferro-ligas. A madeira de eucalipto para a produção do carvão provém de plantações obtidas de materiais genéticos selecionados e adaptados ao clima e solo das regiões produtoras. Na Aperam BioEnergia, as modernas práticas de silvicultura e melhoramento genético utilizados auxiliam na produção de carvão de boa qualidade e, ao mesmo tempo, na preservação dos recursos naturais. A Aperam também vende bio-óleo, créditos de remoção de CO2, sementes, clones, equipamentos e projetos na produção de carvão para todo o mercado, pois é a empresa que detém o mais avançado pacote tecnológico de produção de carvão vegetal em grande escala.

E na siderúrgica, não há previsão de investimentos?
Sim, estamos adiantados na execução do plano anunciado em maio de 2022, que contempla investimentos totais R$ 588 milhões, principalmente na usina siderúrgica de Timóteo, mas também na BioEnergia. A modernização do sistema de laminação à quente, entre outras ações, além de expandir o nosso portfólio de aços especiais, vai proporcionar uma melhoria de performance geral nos nossos processos. E existe perspectiva de novos investimentos, estamos estudando ainda.

A siderurgia é um setor altamente poluente, emite 7% dos gases de efeito estufa globais. O que a Aperam tem feito para reduzir esse impacto?
A Aperam South America tem dois resultados recentes e históricos de sua política ESG. Em 2022, graças, principalmente, às nossas florestas plantadas no Jequitinhonha, nós nos tornarmos a primeira siderúrgica do mundo em nosso segmento, o de aços planos especiais, a conquistar neutralidade de emissões na produção de aços especiais, nos escopos 1 e 2 (que envolvem nossos processos). Também nos tornamos, em 2022, a primeira empresa da América Latina a realizar uma transação de venda de certificados de remoção de carbono. Esse é um trabalho que não para, pois já estamos agora focados em consolidar essas conquistas neste e nos próximos anos e nos tornarmos carbono neutro também no escopo 3, que envolve nossos fornecedores. 

É possível traçar um comparativo entre o posicionamento da siderurgia brasileira e o resto do mundo no que tange à questão da ESG, principalmente no que diz respeito ao “E”, de Environmental?
Por uma série de condições bastante singulares, o Brasil está em uma posição de destaque na agenda ESG quando olhamos para a nossa siderurgia, principalmente no “E”. O país tem uma matriz energética mais limpa que a média mundial. Para você ter uma ideia, a geração de energia elétrica representa 90% da matriz nacional, segundo balanço de março do Operador Nacional do Sistema - a participação das usinas hidrelétricas, eólicas, solares e de biomassa no total de energia gerado pelo Sistema Interligado Nacional (SIN). No caso da Aperam, 95% de nossa energia elétrica é renovável. Temos no Brasil uma “jabuticaba” chamada carvão vegetal, um bio-redutor renovável com todas as condições de produção em larga escala, o que a Europa e a Ásia não têm. Portanto, o momento traz uma grande oportunidade para a siderurgia brasileira, de ajudar a conduzir o processo de descarbonização do setor globalmente.

Em que estágio a Aperam South America está na agenda ESG que extrapola as questões ambientais?
Estamos colhendo grandes frutos também do nosso programa de Diversidade com Inclusão, criado em 2021. Temos cinco grupos de afinidade atuando para fortalecer a cultura da pluralidade na Aperam, seja de raça, gênero, idade e demais aspectos do ser. Compreender, respeitar as diferenças e ter empatia às necessidades de todos é o principal caminho para alcançarmos uma empresa verdadeiramente inclusiva. E é exatamente isso que a Aperam tem feito: abrindo os horizontes a todas diferenças e se adaptando à realidade das particularidades de cada colaborador. O S, de Social, é conduzido principalmente pela nossa Fundação Aperam Acesita, que na última terça-feira publicou o seu balanço social. Em 2022, investimos R$ 5,3 milhões em ações de desenvolvimento social. Só no ano passado aprovamos 23 projetos comunitários para implantação em 2023, além de formação e capacitação de jovens, artesãos, associações comunitárias e, principalmente, de fortalecimento da inclusão e diversidade. E na área de governança, temos a ética e a transparência como pilares, e investimos para que nossos colaboradores estejam plenamente alinhados com nossa política.

O senhor poderia destacar algum programa específico com a comunidade?
Estamos colhendo os primeiros frutos de um programa inovador de agricultura familiar no Vale do Jequitinhonha, no qual estamos oferecendo talhões de nossas terras, em regime de comodato, para que famílias das comunidades onde atuamos possam plantar hortaliças e melhorar a renda. Cerca de 30 famílias fizeram agora a primeira colheita de feijão, mostrando que o projeto é viável. Temos parceria da Emater, preparamos a terra e os pequenos produtores entram com a mão-de-obra. Queremos chegar a pelo menos 70 famílias das cidades onde a BioEnergia atua. Esse é um projeto muito bacana.

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