Corrupção esquenta o embate na CNBB

Patrícia Scofield - Hoje em Dia
17/09/2014 às 07:56.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:14
 (Marcos Bezerra)

(Marcos Bezerra)

O debate promovido ontem pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pela TV Aparecida esquentou no único bloco em que os candidatos fizeram perguntas entre si. Eles trocaram farpas sobre corrupção, trazendo à tona o escândalo da Petrobras e o mensalão tucano, além do caso do aeroporto de Cláudio.    Coube à candidata Luciana Genro (PSOL), taxada de “auxiliar do PT” pelo presidenciável Aécio Neves (PSDB) por ter interferido nas críticas do senador sobre o caso Petrobras, destacar a ligação do PSDB com algumas denúncias. “Aécio, o senhor fala como se não tivesse havido corrupção. Seu governo foi o precursor, com Eduardo Azeredo (PSDB).    Foi público e notório o processo de compra de apoio para aprovar a reeleição para presidente de FHC e a compra das empresas públicas que foram privatizadas. Parece o sujo falando do mal lavado”, disparou Luciana. “Auxiliar do PT é uma ova, o PT aprendeu com o seu partido”, acrescentou.  Aécio rebateu, dizendo que a concorrente do PSOL “voltou às suas origens”, em referência à antiga filiação dela ao PT, que também é partido do pai, Tarso Genro (RS), e ressaltou os feitos do governo tucano em Minas. “Depois de ter levado Minas a ter a melhor educação, o que me anima e me encanta é a vontade de fazer um governo que dê orgulho”.    Sobre as denúncias, Aécio disse que Luciana Genro teria gasto o tempo no debate para acusar por não ter propostas para o país. Ele tentou minimizar a fala da concorrente, alegando estar pronto para governar e ouvir críticas. “Aquele que se dispõe a governar o Brasil tem que ouvir impropérios, acusações levianas que gastam o tempo da discussão. Aprendi desde cedo que a ética e a política devem caminhar como siameses. Luciana é uma candidata infelizmente sem propostas”.    Aécio participou de outro momento de tensão ao opinar sobre o comentário de Pastor Everaldo (PSC) sobre as denúncias da Petrobras. O tucano afirmou que os brasileiros se sentem “envergonhados” diante das denúncias de pagamento de propina à base de governo federal e traçou paralelo com o mensalão do PT.   “Existe uma organização criminosa atuando na nossa maior empresa, fato que fez com que o mensalão parecesse coisa pequena. Não é possível que o Brasil continue a ser administrado com essa falta de valores cristãos”, falou. Para o tucano, com o dinheiro desviado, cuja quantia não foi citada, poderiam ser feitas 450 mil creches.  Em seu direito de resposta, Dilma Rousseff (PT) disse que as denúncias reforçam o papel independente da Polícia Federal.     Igreja encarou todos os temas   No inédito debate presidencial promovido pela CNBB, quem saiu na frente e ousou foi a anfitriã, a própria Igreja Católica, que abriu sua rede de comunicação para provocar os presidenciáveis e cobrar respostas aos grandes problemas nacionais perante a imensa comunidade católica do país. Para isso, tirou os candidatos da zona de conforto, dos estúdios onde gravam sob a orientação do marketing, e os submeteu a temas potencialmente polêmicos e de maneira diversa dos debates tradicionais.    Na sua iniciativa de inspiração democrática, a Igreja não engessou o encontro, ao contrário. Seus bispos e jornalistas da mídia católica perguntaram sobre tudo, desde a laicidade do estado a questões como aborto, drogas e homofobia. Como nos outros encontros, não faltaram os confrontos no bloco em que candidatos perguntaram aos concorrentes.     Fim do financiamento privado de campanha é consenso entre rivais   No primeiro bloco do debate da CNBB, os presidenciáveis falaram sobre reforma política, sendo a maioria deles contra o financiamento privado de campanha. Dilma foi única dos oito participantes que falou abertamente ser a favor dos quatro pontos apresentados pela CNBB para uma reforma política: fim do financiamento empresarial das campanhas; participação proporcional de homens e mulheres; voto em lista partidária em dois turnos; e o fim das coligações proporcional.    Dilma destacou a importância de se convocar um plebiscito popular para votar uma reforma política. E aproveitou para criticar a ideia de Marina Silva (PSB), que quando tentava viabilizar a criação da Rede Sustentabilidade via assinaturas, no ano passado, falou em fugir da tradição partidária. “Os partidos, na democracia, são essenciais. Não existe democracia sem partidos. Quando não existem, poderosos mandam atrás da cena e é caminho para a ditadura”, disse a candidata petista.    Aécio também cutucou Marina ao ponderar que sua proposta de reforma política “não foi construída no improviso nem se modificou ao sabor dos ventos”. A declaração foi feita em referência à alteração do programa de governo de Marina após as manifestações do pastor Silas Malafaia no Twitter sobre o casamento entre homossexuais. “Sou a favor do voto distrital misto, que é uma forma moderna, o fim da reeleição e mandato de cinco anos”. O primeiro presidente a ser reeleito foi o tucano FHC.    O senador mineiro recordou ainda a liderança da CNBB até a aprovação da lei da Ficha Limpa. “A CNBB ajudou muito que a Ficha Limpa fosse votada, um primeiro passo para a reforma política, que no meu governo começa no primeiro dia”, prometeu.    Lembrando as manifestações de junho do ano passado, Marina destacou a necessidade de melhorar a política brasileira. “Não há proposta pronta e acabada, mas sim para ajudar a atualizar o projeto político no Brasil”.      Mais Promessas    Dilma confirmou que para complementar o programa Mais Médicos irá adotar o “Mais Especialidades” para permitir a integração entre especialistas, pacientes e laboratórios, na tentativa de reduzir o tempo de espera pelo atendimento.  Já Marina prometeu “incentivar parcerias com a iniciativa privada” para melhorar o saneamento público nas grandes cidades, e Aécio, elevar o nível da educação no país, aos moldes do que ele “fez e se orgulha de ter feito em Minas”. l

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