A Copa do mimimi: ignorados pelos técnicos, jogadores resolvem abrir o verbo

Rodrigo Gini
esportes@hojeemdia.com.br
23/05/2018 às 20:43.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:13
 (Franck Fife; Christof Stache e Tiziana Fabi/AFP)

(Franck Fife; Christof Stache e Tiziana Fabi/AFP)

Não é de hoje que as convocações das seleções para uma Copa do Mundo provocam polêmica e alimentam debates. Sempre há algum jogador que não deveria ter sido chamado, outro cuja presença é considerada injustiça – e é natural que os atletas "barrados no baile" manifestem sua insatisfação. Na maioria dos casos de um modo equilibrado, para não comprometer possíveis chances futuras e não ganhar a pecha de antipáticos nos respectivos países.

Só que o surgimento das redes sociais fez o fenômeno passar dos limites e deu origem a uma seleção de indignados das mais diversas bandeiras. Um grupo que resolveu não medir palavras, abriu guerra contra os técnicos e muitas vezes, por conta própria, fechar as portas para novas oportunidades com a camisa de sua seleção. No melhor estilo da internet, é a #mimimi.

O primeiro a se manifestar foi o experiente Sandro Wagner, do Bayern de Munique. Atacante honesto, embora reserva do polonês Lewandowski na equipe bávara, e longe de ser para a Alemanha o que já representaram jogadores como Klinsmann ou Klose (recordista de gols em Mundiais). Se as chamadas de Thomas Müller e Mario Gómez para a lista prévia de 27 nomes eram inquestionáveis, os dois outros escolhidos justificaram em campo a lembrança. Niels Pedersen foi vice-artilheiro da Bundesliga pelo modesto Freiburg e o promissor Timo Werner (RB Leipzig) também superou Wagner na lista de goleadores.

Pois o renegado atacante encontrou uma justificativa curiosa para sua ausência. "Ficou claro que a minha atitude aberta, sincera, franca e direta de ser e de falar não combina com a comissão técnica”. O treinador foi igualmente incisivo ao negar a possibilidade. "Ele deve achar que os atletas convocados são idiotas. A grande maioria deles é líder em suas equipes e certamente expressa o que pensa".

No caso do volante belga Radja Nainggolan, da Roma, barrado pelo espanhol Roberto Martínez, o próprio post do atleta anunciando sua aposentadoria (da seleção) ajudou a esclarecer os motivos de sua exclusão. "Sempre fiz tudo o que pude para representar o meu país. Ser você mesmo pode incomodar. Deste dia em diante eu serei o primeiro torcedor". Por 'ser você mesmo', entenda-se um estilo de vida extravagante e de ostentação que inclui o cigarro, a bebida, as noitadas e atrasos em apresentações – em alguns casos devidamente postadas pelo próprio atleta nas redes sociais, como na última virada de ano. Martínez preferiu ser diplomático, dizendo que não poderia adaptar seu esquema de jogo para que o atleta tenha espaço.

Porta-voz

Mais surpreendente foi a revolta do volante Adrien Rabiot, companheiro de Neymar no PSG. Com excesso de jogadores de qualidade para a posição – Pogba e Kanté, entre outros, Didier Deschamps optou por deixá-lo fora da lista de 23 convocados. Frustrado, Rabiot pediu para ter seu nome retirado da relação de suplentes e viu o incidente se transformar em questão de estado – o porta-voz do primeiro-ministro Emmanuel Macron, Benjamin Griveux, falou do caso e lamentou a decisão. "Acredito que quando se tem a honra de vestir a camisa tricolor e representar seu país você diz presente, qualquer que seja o posto disponível".

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