Apagão, frieza mexicana, presentes esquecidos: o outro lado do dia em que Victor virou 'Santo'

Frederico Ribeiro
fmachado@hojeemdia.com.br
30/05/2017 às 03:11.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:46

No feriado de Corpus Christi, 21 mil torcedores do Atlético transformaram o Independência num inferno. Mas presenciaram a canonização de um goleiro, que livrou o Galo de novamente viver uma eliminação diabólica. Há exatos 4 anos, Victor se transformava em Santo nas quartas de final da Libertadores 2013, no pênalti salvador aos 47 minutos e 58 segundos.

Naquela noite de 30 de maio de 2013, no Horto, a defesa no pé esquerdo de Victor mudou a história do Atlético, com um impacto jamais visto. Em apenas segundos, o velório do Independência, digno do silêncio ensurdecedor do Maracanã na final de 1950, deu lugar à explosão do inacreditável. 

Mas, assim como as milhares de máscaras do 'Pânico' não tiveram efeito algum para amedrontar o Tijuana, aquele milagre que poderia desencadear um grande e justificável dramalhão mexicano em quase nada modificou a feição dos jogadores do Xolos, que reagiram de forma passiva a derrota pelo critério de gols marcados como visitante (3x3 no agregado).Carlos Roberto/Hoje em Dia / N/A

Após o apito final, Victor estava nos céus e a Massa, em festa. Enquanto era cercado pelos holofotes do dia, o clima no lado derrotado passava longe de ser um velório. Algumas horas depois da eliminação, a delegação do Tijuana se dirigiu tranquilamente a um ônibus alugado rumo ao Hotel. Do lado oposto da área de apoio, o técnico Antonio Mohamed acendia um cigarro e, até com sorriso no rosto. 

Algo até inacreditável. Afinal, aquela defesa de Victor significada a despedida do treinador argentino da equipe mexicana. Tanto que, ainda no Horto, após a partida, 'El Turco' abraçou o presidente do Tijuana, Jorge Hank Inzuza. O sinal estava claro e, menos de 24h, o anúncio da não renovação de contrato se tornou oficial.

Ainda no vestiário do Tijuana, os dois líderes da equipe estavam na mesma sintonia do técnico Mohamed. Não demonstraram nenhum sinal de tristeza, dor ou decepção. Calmamente, o zagueiro Javier Gandolfi e o volante Francisco Arce saíram da área de apoio com a roupa de viagem e, batendo papo, entraram no ônibus. Talvez tenha sido uma resposta corporal de que "não era para a gente estar na semifinal e saímos satisfeitos aqui nas quartas". O Tijuana era novato na Libertadores, com apenas seis anos de existência. 

Arce, inclusive, era o dono da bola parada nos Xolos. Sua capacidade de bater na pelota foi inclusive determinante para o pênalti de Leonardo Silva em Aguilar. É ele quem dá o chutão para frente, Réver perde no alto e Léo chega atrasado no lance. Mas o dono do jogo era Riascos, que havia marcado o primeiro gol. Se a derrota não atingiu em cheio os mexicanos (algo que certamente não aconteceria se o eliminado fosse o Galo).

PRESENTES ABANDONADOS
O Atlético, naquela retomada da Libertadores, foi alvo de muitos gestos de hospitalidade jogando fora de casa, principalmente pela presença de Ronaldinho Gaúcho. Mas o Galo também soube fazer o papel de anfitrião. 

A direitoria alvinegra preparou um kit para presentear os jogadores adversários. No vestiário do Tijuana pós o "Milagre do Horto", foram esquecidas duas caixas do clube alvinegro, cujo conteúdo era duas mini-cachaças, um livrinho contando a história do clube mineiro e um DVD institucional do Atlético.

APAGÃO NA VÉSPERA

Entrenó @XolosOficial sin luz en el Estadio Independencia de Club Atlético Mineiro este miércoles en reconocimiento de cancha.— Xolos (@Xolos) 29 de maio de 2013


Um dos episódios mais emblemáticos e misteriosos que rondam aquela campanha inesquecível do Atlético em 2013 foi o apagão do Independência contra o Newell's Old Boys, nas semifinais. Após o retorno da iluminação no estádio, coincidentemente o Galo conseguiu o segundo gol e a disputa de pênaltis.

Mas aquela não foi a primeira vez que o Independência ficou sem luz na Libertadores. Um dia antes do "Milagre de São Victor", o Tijuana realizou o "reconhecimento" do gramado do Raimundo Sampaio às escuras. Segundo a administração do Horto, houve uma queda de energia no estádio e, quando ela foi retomada, uma peça da iluminação do estádio se danificou, e não havia como trocá-la. 

Antonio Mohamed, aí sim p. da vida, reclamou de "golpe baixo' por parte do Atlético e foi obrigado a fazer treinos de bola parada com a ajuda do flash da câmera das TV's que filmavam a atividade.

LÉO SILVA: 'MIL VEZES OBRIGADO'Reprodução/Fox / N/A

Léo Silva, incrédulo, recebe o amarelo pelo pênalti cometido; Réver reclama da marcação

O zagueiro Leonardo Silva foi um dos heróis da Libertadores, principalmente pelo segundo gol contra o Olimpia na final. Mas o defensor sabia que, no momento em que o árbitro Patricio Polic (jamais um torcedor do atleticano gravou com tanta facilidade um nome de um juiz estrangeiro) assinalou o pênalti, ele estava condenado.

Victor, entretanto, foi o purgatório do camisa 3. o agradeceu de forma bastante efusiva pela defesa do pênalti. Léo cometeu o pênalti no zagueiro Aguilar quando jogo passava dos 45 minutos do 2º tempo. Naquele jogo, o defensor voltava à titularidade da zaga do Galo na Libertadores, depois de ter fraturado um dedo da mão na semifinal do Estadual.

RÉVER: EXPULSO, MAS NAS NUVENSBruno Cantini/Atlético / N/A

Réver comemora o gol de empate, em homenagem à gravidez da esposa; seria expulso após o 'milagre'

Ao lado de Leonardo Silva, o zagueiro Réver formava as "torres gêmeas" do sistema defensivo do Atlético. E naquela Libertadores, o capitão da equipe (responsável por erguer a taça mais importante da história do clube), teve seu "Dia de Fúria" misturado com motivos de sobra para a felicidade.

Réver empatou o jogo aos 40 minutos do primeiro tempo. Na comemoração, colocou a bola debaixo da camisa, simulando a segunda gravidez da esposa Giovanna, que esperava o segundo filho da casal. Cerca de 7 meses depois do "milagre", Réver Jr. nasceria em Porto Alegre.

Mais do que comemorar a gravidez da mulher, o camisa 4 do Atlético também celebrava a convocação da Seleção Brasileira para a disputa da Copa das Confederações. Além dele, o Galo também iria ceder Bernard para o time de Felipão. Ambos foram campeões do torneio que precedeu o desastre dos 7 a 1, juntamente com o atacante Jô, chamado para a vaga de Leandro Damião, lesionado.

O lado ruim foi que o agora capitão do Flamengo, logo após Victor isolar o pênalti de Riascos, correu em direção ao árbitro e soltou os cachorros para o dono do apito. Resultado? Expulsão e suspensão de dois jogos.

Para piorar, Leonardo Silva deslocou o ombro num treino dias após aquele 30 de maio. E o Atlético passou pelo Newe'lls com a zaga reserva, Rafael Marques e Gilberto Silva. Porque tem que ser tão sofrido assim? Para que dias como esta terça-feira sejam imortais na Massa do Galo.Reprodução/Fox Sports / N/A

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