Atlético e Figueirense são primeiras "vítimas" do novo sistema de registros da CBF

Frederico Ribeiro - Hoje em Dia
04/03/2016 às 20:35.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:41
 (Bruno Cantini/Atlético)

(Bruno Cantini/Atlético)

O pesadelo do Atlético com o registro de jogadores estava marcado para ter um fim após a novela Cazares. Mas a compra do atacante Clayton, junto ao Figueirense, há 10 dias, foi o primeiro alvo da mudança de estrutura no departamento de transferências e registros da CBF. Modernizada, com um mecanismo semelhante ao TMS (Transfer Matching System) da FIFa, a confederação nacional detectou que a transferência da joia de 20 anos burlava o artigo 66 do Regulamento Nacional de Registro e Transferência, que proibe a participação de investidores na venda de atletas.

"A CBF quer é transparência, os clubes não pedem transparência da CBF? Então, a gente quer o mesmo dos clubes, só isso. Porque está acontencendo isso agora? A gente criou regras, mudamos o regulamento o sistema. Aos poucos a gente vai mudando e, aos poucos, vamos avisando os clubes de que é preciso apresentar os direitos econômicos, isso é obrigatório. A partir deste ano a gente criou uma área de compliance dentro da área de registro que checa as transferências nacionais. Nos mesmos moldes da Fifa, que chega as tranferências internacionais", explicou o diretor do departamento de transferências e registros da CBF, Reynaldo Buzzoni, ao Hoje em Dia.

Clayton é daqueles jogadores que possui os direitos econômicos divididos entre partes. A CBF exige, então, que Atlético e Figueirense apresente os documentos da transação e que ela esteja em ordem. Ou seja, nenhuma porcetagem dos direitos econômicos do atleta podem estar nas mãos de uma "terceira parte". Se o Atlético comprou os 50% de Clayton, obrigatoriamente o Figueirense precisa ser o dono da outra metade e comprovar tal situação na CBF. Caso contrário, Clayton não poderá ser registrado no BID. Ele, que estava cotado para estrear neste domingo, ficará, por ora, apenas com o uniforme de treino.

"Eu já avisei ao Atlético desde quarta-feira que a gente só quer este contrato de transferência entre os clubes. Como ficarão os direitos econômicos? Porque é uma transferência de valores altos até. Estão especulando que são 4 milhões de euros. Mas nem sei quanto é, porque não botam o valor. . Informa, manda o contrato, quanto que irá pagar, quanto ficará dos direitos econômicos para o Figueirense, se ficará tudo com o Atlético e, assim, na hora libera (BID)", acrescentou Reynaldo.

A solução para tal imbróglio seria o Figueirense fazer negócio com os outros investidores de Clayton. No caso, o empresário Jorge Machado e o próprio pai do jogador. A ideia da CBF é não deixar que os clubes tenham direito a apenas uma pequena parcela das vendas de seus jogadores. Em relação ao Figueira, a participação se restringia a apenas 10% dos direitos econômicos do atacante.

"Essa é a informação que temos também (que o Figueirense só tem 10%). O Figueirense está notificado, não me apresentou os contratos também. Não irá sair no BID enquanto não apresentar os documentos", explicou o diretor da CBF.

"O investidor não pode mais ser dono do jogador, não pode ter nenhuma relação com o jogador. O jogador (Clayton) só pode ser do Figueirense ou do Atlético. Transferências de direitos econômicos só podem envolver o clube anterior e o novo clube. O Figueirense pode ficar com um percentual, mas ele tem que resolver a vida dele com um investidor. O dinheiro tem que ficar no clube, não tem que ficar só com o empresário".

O regulamento determina algumas sanções a quem descumprir a regra. Atlético e Figueirense correm o risco de serem julgados pela recém-criada Câmara Nacional de Resolução de Disputas - CNRD e, na pior das hipóteses, serem proibidos de registrar jogadores por até duas janelas de transferências.

"Tem a advertência, multa e até a punição de proibição no registro de novos jogadores, igual a Fifa fez com o Barcelona e o Real Madrid. Só queremos transparência, senão não vamos ajudar a melhorar o futebol", completou Reynaldo Buzzoni.

À ESPERA
Um dos interessados na resolução da venda de Clayton, o empresário Eduardo Uram, que detém 20% dos direitos econômicos do atleta, ainda não sabe qual será a solução do problema. Ele ainda acrescenta que o Figueirense, para agir de acordo com o regulamento da CBF, teria que repassar o dinheiro recebido pelo Atlético para as terceiras partes e, assim, "anular" a participação dos investidores na venda do jovem de 20 anos.

"O regulamento qualifica como terceira parte aqueles que tem direitos econômicos. Ou seja, é uma parte que não faz parte das partes envolvidas na negociação. Eu, como terceira parte, não participei de nenhuma negociação e, até agora, não tenho notícia de qual é a solução final. Eu, como terceira parte, só entro quando tudo termina. Enquanto a venda não estiver consolidada, nem eu ou qualquer terceira parte, temos qualquer envolvimento. O clube pode ter a porcentagem que ele quiser e vende. O que ele tem que fazer é que, depois de vender e receber, pagar (os investidores). Ele tem que distribuir o valor dentro daquelas pessoas que detém (participação no jogador)", afirmou o empresário, à reportagem.

ROLO COMPRESSOR
A venda de Clayton ao Atlético causou polêmica no Conselho Deliberativo do Figueirense. A venda está debaixo de uma nuvem nebulosa. O presidente do Figueira, Wilfredo Brillinger, tinha, através da empresa comandada pelos filhos - SM2 Gestão de Participação LTDA (antiga Alliance) - participação em Clayton, adiquiria quando o mandatário, antes de assumir o cargo, virou parceiro do clube e fez um aporte financeiro de R$ 500 mil aos cofres do furacão.

Brillinger e o presidente do Atlético, Daniel Nepomuceno, fizeram uma clásula de confidenciabilidade na transferência de Clayton, com duração de seis meses. Assim sendo, os conselheiros do Figueirense só poderão ter acesso ao contrato da venda de uma de suas maiores joias em setembro.

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