Há 105 anos, surgia o clube que honraria o nome de Minas

Wallace Graciano - Hoje em Dia
25/03/2013 às 00:00.
Atualizado em 21/11/2021 às 02:13
 (Atlético/Flickr oficial)

(Atlético/Flickr oficial)

Em uma manhã de quarta-feira, de um longínquo 25 de março de 1908, uma turma de estudantes resolveu deixar os cadernos de lado e se reunir no coreto do Parque Municipal, em Belo Horizonte. O objetivo era colocar em prática o projeto de um grupo esportivo, que iria praticar o tal “football”, esporte que ganhava espaço em meio às ruas da capital das alterosas, que acabara de completar sua primeira década. Mal sabiam eles que ao criarem o Athlético Mineiro Football Club – o anglicismo foi deixado de lado anos depois, com a oficialização do nome Clube Atlético Mineiro – aqueles adolescentes seriam os responsáveis por um dos maiores acontecimentos da história da cidade. Nascera ali a equipe que arrastaria multidões e honraria o nome de Minas Gerais pelo Brasil e pelo Mundo.

Eles só viriam a atuar de forma oficial somente um ano depois, quando encararam o Sport Clube Futebol, no dia 21 de março de 1909. Coube a Aníbal Machado marcar aquele que seria o primeiro gol da história alvinegra. Ao final da disputa, o placar apontou 3 a 0. Sete dias depois, a pedido do rival, houve uma revanche. E o Atlético não fugiu à regra, ganhando o jogo por 2 a 0. Em mais um embate, desta vez em 21 de abril do mês seguinte, outro triunfo dos garotos de Lourdes, desta vez por 4 a 0. O Sport seria extinto a partir daquele momento, e o Galo começava a traçar sua trajetória de vitórias.

Pioneirismo

Nos anos seguintes, outros clubes foram surgindo na capital mineira para a prática do esporte bretão. As partidas se tornaram mais frequentes e a rivalidade foi crescendo. Assim, em 1914, Atlético, América e Yale se reuniram para realizarem o primeiro torneio oficial do Estado, a Taça Bueno Brandão. O título ficaria com os alvinegros. No ano seguinte, a Liga Mineira de Esportes Terrestres (LMET), atual Federação Mineira de Futebol (FMF), organizou o primeiro Campeonato da Cidade. Como outrora, o pioneirismo de levantar a taça coube também ao Atlético, com a campanha de cinco vitórias, um empate e uma derrota.

Mesmo sendo fundado por membros da aristocracia da capital, o Atlético também foi pioneiro ao abrir seus quadros para qualquer atleta. Assim, o clube se fortaleceu e ganhou carisma da população, apesar do hiato de títulos no Campeonato da Cidade (só voltaria a conquistar em 1926). Em 1927, outro troféu foi erguido, mas o feito mais marcante da Década de 20 foi a inauguração do estádio Antônio Carlos, para 5 mil pessoas (em uma época que Belo Horizonte tinha 40 mil habitantes). O jogo de inauguração do Estádio de Lourdes foi em 30 de maio daquele ano, contra o Corinthians. Na data, o Galo venceu por 4 a 2, gols de Mário de Castro (3) e Said. No ano seguinte, Jules Rimet, então presidente da FIFA, viria ao principal palco do futebol mineiro para assistir a uma partida noturna, feito raro no período, uma vez que os refletores eram pouco populares.

No final daquele ano, o grande ídolo da equipe, Mário de Castro, também se tornou um personagem ímpar. Coube a ele ser o único jogador de fora do eixo Rio-São Paulo a ser chamado pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD) para a Seleção Brasileira, que disputaria a Copa do Mundo de 1930. Ele recusou afirmando que não vestiria outra camisa que não fosse a alvinegra, mas, posteriormente, admitiu que também só iria ao Uruguai para ser titular de Carvalho Leite, do Botafogo, que tinha o apreço da comissão técnica. Quem perdeu foi o futebol tupiniquim. O “doutor” era um jogador raro. Seus números comprovam isso. Em 100 jogos pelo clube alvinegro, anotou 195 gols, média incrível para um centroavante.
 
Comandada pelo Trio Maldito (Jairo, Said e Mário de Castro), a equipe Alvinegra conquistou o seu primeiro bicampeonato Mineiro, em 1927

 




Rompendo fronteiras

 

Nas décadas de 30 e 40, o Atlético provou sua hegemonia no estado. Em 20 torneios disputados, conquistou a metade. Mas o ano que ficou para a história foi 1937, quando o clube se sagrou o Campeão dos Campeões do Brasil. O torneio foi organizado pela Federação Brasileira de Futebol (FBF), e reuniu os campeões estaduais de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo.

O tempo passou e entre novembro e dezembro de 1950, o Galo obteria um de seus feitos mais emblemáticos. Naquele período, o clube excursionou pela Europa enfrentando times da Alemanha, Áustria, Bélgica, Luxemburgo e França. Foram dez partidas no total, conquistando seis vitórias, empatando duas vezes e perdendo em outras duas oportunidades. A bela campanha fez com que a imprensa mineira apelidasse o Galo de “Campeão do Gelo”, feito eternizado no Hino Oficial do clube, composto por Vicente Motta.

Anos áureos

A Década de 50 trouxe sete títulos estaduais para a sala de troféus do clube. A supremacia não se confirmou nos dez anos seguintes, quando somente um bicampeonato (em 1962/1963) e uma vitória sobre a Seleção Brasileira (em 1969) ficariam para a memória. O jejum seria compensado nos anos 70. Quatro títulos Mineiros foram conquistados. Parece pouco, mas duas gerações mudariam os rumos da história do clube.

Logo em 1970, Telê Santana chegara para quebrar a série de cinco conquistas do arquirrival celeste no estadual. O “mestre” montou uma equipe quase que invencível, uma vez que triunfou em 20 de suas 22 partidas no certame. Em 1971, ainda sob o comando do “Fio de Esperança”, o Galo obtinha seu maior feito ao faturar o Campeonato Brasileiro. Na campanha, o clube passou por Cruzeiro, São Paulo, Santos e Botafogo, equipes que contavam com jogadores que foram tricampeões do Mundo no ano anterior.
 

Atletas comemoram a conquista do Campeonato Mineiro de 1970, ao vencer o Atlético de Três Corações por 2 a 0. Na foto, Vaguinho, Dario Peito de Aço e o goleiro Careca. Em 71 o Galo é o primeiro Campeão Brasileiro


Ao mesmo tempo em que se afirmava como potência, o clube lapidava talentos que despontavam de sua categoria de base. De lá surgiram pedras preciosas como Reinaldo, Cerezo, Paulo Isidoro e Marcelo, que levaram a equipe a um título invicto de 1976. Eles também foram figuras constantes em alguns dos anos imponentes da equipe, como o período hegemônico no estado, que se estendeu de 1978 a 1983, e quando o Galo só não faturou o bicampeonato nacional por capricho do destino, como em 1977 e 1980. A geração seguinte também não desapontou. Nomes como Sérgio Araújo, Elzo e Batista mantiveram a hegemonia e só não levaram o estadual para Lourdes nos anos 80 em duas oportunidades.

Boas campanhas, poucos títulos

A década de 90 trouxe duas conquistas importantes para a história alvinegra. Em 1992 e 1997, o Atlético faturou a Copa Conmebol, sobre Olímpia e Lanús, respectivamente. No período, a massa alvinegra gritaria “é campeão” em outras três oportunidades, todas pelo Campeonato Mineiro (1991, 1995 e 1999). E foi só. O Galo até que fez boas participações nos demais torneios. No Brasileirão, por exemplo, foi três vezes semifinalista (1991, 1994 e 1996) e uma vez vice-campeão (1999). Na Conmebol, um 2º lugar, em 1995. Retrospecto que deixava sua torcida reticente.  

Anos sombrios

Se antes o quase era uma tônica, o que se viu nos anos 2000 foi um período de agonia para a massa atleticana. O clube até que prometia voos altos, com a conquista do estadual no ano de 2000, porém, no segundo semestre, uma campanha pífia no Brasileirão (à época chamado de Copa João Havelange) só não culminou em tragédia porque o regulamento não previa rebaixamento. Em 2001 e 2002, boas campanhas terminaram em eliminações trágicas, para São Caetano, nas semifinais, e Corinthians, nas quartas, respectivamente.

Já em 2004, o Atlético flertou perigosamente com a Série B e só escapou na última rodada, após uma vitória por 3 a 0 ante o São Caetano. No ano seguinte, porém, não teve perdão. A campanha irregular culminou no rebaixamento do clube para a Segunda Divisão. Felizmente, a passagem foi curta e em 2006 o clube voltava à Série A com o calor da torcida alvinegra, que apoiou o clube durante toda a trajetória para o acesso.

Em 2007, o clube pôs fiz ao incômodo jejum de sete anos sem conquistar um estadual, com uma expressiva vitória por 4 a 0 sobre o maior rival, Cruzeiro. No segundo semestre, porém, o clube apenas fez uma campanha pouco expressiva no Nacional.

O ano seguinte marcaria um centenário de história do Atlético. Para a memória, ficaram as festas para celebrar os 100 anos, uma vez que dentro de campo o clube não correspondeu às expectativas. O calendário mudou e em 2009, o Galo ao menos voltou a fazer boas campanhas no Brasileirão, quando chegou a ser um real candidato ao título da peleja. Porém, a queda de rendimento no final do torneio fez o clube sair da disputa. 

  O ano de 2010 trouxe mais um Estadual. O feito foi repetido em 2012, desta vez de forma invicta, pela sexta vez na história da equipe. Porém, o que ficará guardado na memória de cada atleticano foi a bela campanha que o clube fez no Campeonato Brasileiro. Sob o comando de Ronaldinho, o Atlético encantou o país jogando um futebol ofensivo, de movimentação rápida entre os três setores do time. O título não veio, é verdade, mas ficou a esperança de que aquele segundo semestre foi um prenúncio de que o Galo voltará a cantar alto em território nacional, assim como fez em seu passado, quando ditou rumos e foi protagonista.   Ao Atlético, parabéns por seus 105 anos de história!  

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