Carrasco da Raposa, Verón ainda cogita disputar partida com camisa do Galo

Henrique André - Hoje em Dia
06/03/2016 às 09:21.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:41
 (Alejandro Pagni/AFP)

(Alejandro Pagni/AFP)

Atual presidente do Estudiantes, da Argentina, o ex-jogador Juan Sebastián Verón esteve em Belo Horizonte na semana passada e descobriu que, por essas bandas, conta com um enorme prestígio pintado de preto e branco. Reverenciado pela torcida do Atlético, ele se surpreendeu com o carinho perpetuado por longos sete anos desde aquela final da Libertadores de 2009, quando protagonizou uma das maiores tragédias da história do Cruzeiro, no Mineirão.

“La Brujita”, que herdou o apelido do pai e ex-atacante Juan Ramón Verón (falavam que era feio como uma bruxa), completará 41 anos na próxima quarta-feira, 22 deles dedicados ao futebol profissional. Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, o argentino relembra o duelo contra a Raposa, fala sobre a vida de cartola e comenta o carinho dos atleticanos.



Quais são as suas lembranças daquele jogo na decisão da Libertadores de 2009?
Eu me lembro de muitas coisas. Da viagem, da chegada a Belo Horizonte, dos dias que passamos no hotel. Da confiança que havia nas pessoas do Cruzeiro e, bem, tudo que representou a partida e o pós-jogo, com a festa.

Sentiu alguma soberba da equipe brasileira naquela partida? Um clima de “já ganhou”?
Eu acredito que, depois do empate por 0 a 0 em La Plata, eles confiaram muito que iriam sair campeões, já estavam com a Copa, poderiam ganhar da gente, e que o resultado já estava garantido. Mas, no futebol, nunca se pode duvidar que um resultado será descontado. Em uma partida, se pode passar qualquer coisa, e me parece que o Cruzeiro nos subestimou sim.

Houve algum desentendimento com o Sorín, um desafeto declarado seu, naquela final?
Não ocorreu nada naquele dia. É algo (rivalidade com Sorín) que vai muito além daquela partida final contra o Cruzeiro.

Como foi a comemoração do título em Belo Horizonte? Vocês sentiram-se “em casa”?
Ficamos todos surpreendidos quando chegamos ao hotel depois do jogo. Ficamos encantados com a quantidade de gente do Atlético nas ruas, e com o tempo isso foi tomando uma dimensão maior. Hoje em dia, isso tudo perdura. A relação entre os torcedores do Atlético e do Estudiantes é de grande respeito e carinho.

Como você encara este carinho inusitado que recebeu dos atleticanos?
Nunca vivi nada parecido, somente com as equipes onde joguei e tive a sorte de ganhar algo em campo. Não de uma equipe na qual nunca tive um passado como jogador. Me surpreende o carinho e o respeito. Considero isso tudo como um prêmio.

Ainda existe a possibilidade de acontecer um amistoso entre Atlético e Estudiantes?
Estamos trabalhando nisso. Temos que nos falar e tratar de encontrar um lugar na agenda para fazer essa excursão. Vamos ver se o tempo nos permite.

Você chegou a receber alguma proposta para jogar no Galo após 2009?
Não. Nunca se disse isso, sobretudo pelo meu passado no Estudiantes, quando voltei ao clube. Era difícil tomar a decisão de sair. Um pouco mais adiante, pode ser que haja alguma partida e que eu jogue um pouco pelo Atlético Mineiro.

O que a torcida do Estudiantes pode esperar do Verón, agora como presidente do clube?
É outra história. Tomara que eu consiga satisfazê-los, mas não sei se será com as mesmas emoções. É difícil que um dirigente dê à torcida as mesmas alegrias que um jogador produz dentro do campo, quando se vence algo. Mas eles podem se sentir tranquilos, porque são representados por uma grande diretoria e tomara que continue assim.

Você teve algum temor de, como dirigente, não ter o mesmo sucesso que teve como jogador?
O mesmo sucesso é complicado de alcançar. Na minha opinião, para tomar atitudes de dirigente, é preciso, às vezes, não pensar muito nas situações a que você irá se expor, no que você irá colocar em jogo. É preciso tomar ações de forma tranquila, sempre pensando no bem do clube. Cada torcedor tem o direito de classificar como boas ou ruins as ações do dirigente, e estou sujeito a isso.

O que falta para a seleção da Argentina voltar a vencer a Copa do Mundo?
Nos últimos anos, a Argentina chegou à final do Mundial e também foi finalista da Copa América. Fazia muito tempo que isso não acontecia. Para mim, é algo para se tomar como ponto de partida para melhores campanhas, não somente como frustrações esportivas. Tomara que, no futuro, tenha mais sorte do que teve nas decisões que foram perdidas.

Quais são suas expectativas para o próximo Mundial, na Rússia?
As expectativas são sempre boas. Houve uma esperança grande nesse grupo de jogadores para ganharem algo. Mas é o futebol, como falamos antes. Não é um esporte em que se pode cravar os acontecimentos. Há muitas coisas que se pode passar e aspectos emocionais... Estamos falando de várias pessoas em um time, não é um esporte individual. Mas creio que, no futuro, irão alcançar os objetivos, sobretudo por ser um grupo jovem.

Na Argentina, há discussões sobre quem foi melhor, Maradona ou Messi? Como você encara esta questão?
Não gosto de comparar. Acho que a Argentina tem que desfrutar da história de dois jogadores que são classificados como os melhores e são do nosso país. Jogadores que são difíceis de surgir e que a Argentina deve aproveitar. Diego, em sua época, foi o melhor. E Messi segue fazendo a sua história. Hoje, sem dúvida, é o melhor. Há um histórico de divergência entre os jogadores da seleção argentina. Falam de um grupo de Messi e um grupo de Tévez. Nos anos 80, tinha o pessoal do Maradona e o pessoal do Passarella... São personalidades fortes, e isso influencia com grupos. Mas é um assunto ao qual eu não presto atenção. Os times precisam focar em fazer o que precisam fazer nos 90 minutos. Não é algo que me preocupe.

Hoje, o futebol brasileiro está de olhos abertos para o mercado argentino. Como você encara este êxodo em seu país?
É algo bom que o futebol brasileiro contrate jogadores argentinos. Há uma questão econômica, isso está claro. Aí (no Brasil) se paga bem, e o jogador migra naturalmente. Os argentinos aceitam ir e se destacam. São jogadores importantes em um futebol importante.

Com a mudança de presidência na Argentina, o futebol deixou de ser “estatal”. Antes, o Governo é que detinha os direitos de transmissão. Agora, voltou a ser de empresas privadas. Qual a sua opinião, como presidente do Estudiantes?
Com os anos, terão que diminuir, e o futebol vai gerar lucros por outros lugares. Que seja um esporte atrativo para as empresas investirem. Para isso, há que melhorar todos os aspectos ao redor do futebol, as estruturas, o retorno das pessoas ao estádio. O Governo vai diminuindo sua interferência no futebol, e acredito que haja melhores lugares e maneiras para ele investir o recurso público.

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