Chamado de 'louco' no Real Madrid, 'novo' Cicinho mostra maturidade e busca desafio no Brasil

Guilherme Guimarães
gguimaraes@hojeemdia.com.br
10/03/2017 às 20:38.
Atualizado em 15/11/2021 às 13:41

O auge no futebol muda a vida do jogador, que, diante de muito dinheiro e glamour, às vezes se perde em um caminho sem volta. Quem experimentou esse perigoso mundo da fama, das baladas regadas à álcool e sensações efêmeras do sucesso foi Cicinho, ex-lateral-direito do Atlético, Seleção Brasileira e do espanhol Real Madrid. 

Longe desses prazeres mundanos há cinco anos, Cicinho, que busca um novo clube após passagem de sucesso pela Turquia - onde foi premiado como melhor lateral do futebol local -, conta detalhes da sua carreira, e da nova rotina pós-período “vida loka”. Já chamado de louco por um dirigente do Real Madrid em meados dos anos 2000, hoje, aos 36 anos, o jogador espera aproveitar o momento de tranquilidade para mostrar seu talento por mais algumas temporadas.

Você passou pelo futebol da Turquia, onde ficou por três anos. Sem clube agora, quais suas pretensões para 2017?

Meu contrato acabou na Turquia, onde tinha possibilidade de renovação. Mas machuquei o joelho e optei por me tratar no Brasil. Tinha o desejo de voltar ao país e isso pesou bastante. Foram três anos como melhor lateral-direito lá, conquistei um espaço muito bacana. Mas, conversando com a minha esposa, preferimos retornar. Os últimos tempos foram de guerras, não tinha mais tranquilidade para viajar e deixar minha família em casa. Mas sou realizado de tudo que fiz lá. Estou 100% recuperado da minha lesão e aguardo algumas situações para voltar a jogar.

Você já revelou problemas antigos com o alcoolismo e gastos desenfreados de dinheiro. Hoje você vive mais ligado à religião e sem esses problemas. O que te fez mudar de vida? 

A minha esposa foi um instrumento de Deus para que eu mudasse de vida. Hoje eu sou feliz pelo que tenho, com a vida que levo, e realizado tanto no profissional quanto no pessoal. Nesses cinco anos de nova vida só colhi bons frutos. Agradeço minha esposa por tudo.arquivo pessoal / N/A

 

Seu ápice no futebol aconteceu ao vestir as camisas de Real Madrid e Seleção Brasileira. Mas você ficou pouco tempo em alta. Por que? 

Fui um cara que me preparei para atingir e conquistar todo o sucesso. Infelizmente, não me preparei para, quando o alcançasse, me manter no topo. Hoje a gente vê muitos jogadores alcançando o sucesso e dando sequência, pois são bem estruturados. No meu caso não foi assim, fui mais para o lado da ilusão. Quando cheguei ao topo, achei que já tinha tudo. Aí, não consegui me manter como o melhor jogador da minha função. Mas isso aconteceu por tudo que plantei. Hoje tenho outra cabeça. Me preparei sim para ser o melhor da minha posição, só não estava preparado para levar a vida com o sucesso que adquiri.

Porque você não foi o “herdeiro da camisa 2” na Seleção?

Fui titular da Seleção Brasileira. Depois da Copa do Mundo de 2006, eu assumi o posto no começo da “Era Dunga”, em 2007. Acabei machucando meu joelho no Real Madrid e, de lá para cá, tive problemas. Extracampo me prejudicou bastante. Depois que atingi o topo, deixei o profissionalismo de lado. Isso me trouxe lesões.PEDRO ARMESTRE/AFP / N/A

 E sua saída do Real Madrid?

No meu caso foi apenas pelo dinheiro e acabei deixando um clube onde todo jogador quer trabalhar. Eu nunca deveria ter saído do Real para ir para a Roma, Me chamaram de louco. Não deveria ter voltado para o São Paulo em 2010. Tudo isso de forçar saídas dos clubes eu causei por ser um jogador mal-assessorado. Quis fazer da minha maneira e me prejudiquei com isso. 



Seu nome está na história de um elenco do Real Madrid considerado como “Galáticos”. O que isso representa para você?

Essa é uma coisa boa que posso contar. Eu fiz parte dessa equipe incrível do Real Madrid. Joguei apenas dois anos, como falei. Quando pintou a possibilidade de ir para a Roma por mais dinheiro, não pensei duas vezes. Futebol tem isso. Hoje, com mais cabeça e maturidade, penso que poderia ter ficado muito mais em Madri.Arquivo/Hoje em Dia / 

Em seus tempos de Atlético, o seu nome vez ou outra era envolvido quando o assunto dizia respeito às baladas. Festas e álcool são mesmo os grandes inimigos dos jogadores de futebol?

Essas tentações são, sem sombra de dúvidas, grandes inimigos dos atletas. Hoje eu sirvo de testemunha para esses jogadores que estão começando. Do mesmo jeito que o sucesso vem, ele vai. É preciso se preparar, trabalhar muito bem para lidar com o sucesso. No futebol as coisas ficam muito fáceis. 
 

Ainda em relação ao Atlético, sua saída do clube foi bastante polêmica. Como você considera sua passagem pelo alvinegro?

Minha passagem pelo Atlético foi maravilhosa, vivi três anos intensos no clube. Quando houve o problema na Justiça, meus empresários e advogados fizeram todo o processo. Eu desconhecia tudo. Eles depois me explicaram que era por falta de pagamento de salários e garantias trabalhistas. Saí escondido, de uma forma conturbada. Mas agradeço demais ao Atlético, que me lapidou para chegar ao São Paulo, onde conquistei grandes títulos. O clube me ajudou muito, pois convivi com assédio, cobrança. Cresci bastante. Sou grato ao Galo, clube que gosto e tem uma torcida fantástica. 

E a caixa-postal do telefone, ainda faz sucesso com aquela conhecida mensagem: "Você ligou, você ligou para o Cicinho?"

Eu até tentei investir na carreira de cantor, mas não deu muito certo. Preferi ficar como jogador. Época boa que vivi em Belo Horizonte, tenho amigos aí, familiares. Espero poder retornar em breve à cidade. 

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