Chapecó são várias: os exemplos de cidades que abraçaram o esporte

Rodrigo Gini
rgini@hojeemdia.com.br
12/12/2016 às 21:07.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:03

A tragédia envolvendo o avião que transportava a delegação da Chapecoense rumo à decisão da Copa Sul-Americana, na Colômbia, e a onda de comoção despertada na cidade do oeste catarinense evidenciaram um fenômeno que é mais comum do que se pensa no Brasil. Não são poucos os municípios que abraçaram suas equipes esportivas e têm, nelas, um motivo de orgulho. Uma relação que vai além da "simples" presença da torcida nos estádios e ginásios – é possível falar em cumplicidade, carinho, proximidade dos ídolos e exemplo para os mais jovens. Isso sem contar a capacidade de gerar investimentos e melhorias e o retorno de imagem.

Não é exagero, por exemplo, associar a pequena (27 mil habitantes) Carlos Barbosa, na região serrana de Rio Grande do Sul, ao futsal. Uma história que começou há quatro décadas, quando era fundada a Associação Carlos Barbosa de Futsal (ACBF), com o suporte de uma empresa que também se tornou sinônimo da cidade, a Tramontina, tradicional na produção de facas e utensílios domésticos.

Por duas décadas, o time lutou para chegar à Divisão Especial do Gaúcho (um dos estaduais mais fortes do país) e à Liga Nacional e, uma vez com estrutura de ponta e condições de atrair promessas e nomes consagrados, iniciou uma sequência impressionante de conquistas, com destaque para o penta brasileiro e o tricampeonato mundial interclubes. Não por acaso, a cidade se autodefine hoje "a terra da faca, do futsal e do queijo".

Minas também tem um bom exemplo, guardadas as devidas proporções. Montes Claros já era uma cidade de porte médio bastante conhecida no país quando, em 2009, o ex-jogador Vítor Oliveira, o Vitão, resolveu levar adiante o projeto de criação de uma equipe adulta masculina de vôlei. Com a ajuda do empresariado e da prefeitura e a soma de patrocinadores que enxergaram a boa oportunidade, surgia um time que rapidamente passaria a ser conhecido pelo apelido carinhoso: Pequi Atômico. Capaz de alcançar uma notoriedade não conseguida por Ateneu e Montes Claros FC, representantes no futebol profissional.

O projeto rendeu a reforma do Poliesportivo Tancredo Neves, a melhor média de público da Superliga e, acima de tudo, resultados que justificavam o orgulho da população, como o título mineiro em 2009 e o vice-campeonato da Superliga na temporada seguinte, com direito a caravana para acompanhar a decisão com a Cimed – a notoriedade e o sucesso levaram inclusive amistosos internacionais da Seleção Brasileira e colocaram a cidade no mapa do esporte de alto nível do país.

Divergências políticas e a saída de alguns apoiadores acabaram determinando o encerramento das atividades em 2012, mas bastou uma temporada e novamente a cidade estava representada, desta vez com o projeto iniciado pelo Montecristo, de Goiânia, que se transferiu para o Norte mineiro. "Repaginado", o Pequi Atômico voltou a ser atração e, não por acaso, conta com o melhor público da atual Superliga – na derrota para o Cruzeiro, semana passada, nada menos que 7.045 pessoas estavam no ginásio. Melhor de tudo é que a campanha tem sido bastante positiva: passadas nove rodadas da fase classificatória da temporada 2016/2017, a equipe ocupa uma mais do que honrosa quarta posição.

"A cidade não se vê mais sem o vôlei. Vai muito além da quadra, os jogadores participam de ações sociais e iniciativas beneficentes, acaba se tornando uma grande família. No fim de cada temporada fazemos questão de premiar o grupo numa festa e ao menos uma vez por ano viajamos para acompanhar jogos fora. Não por acaso quem passa pelo clube sempre leva uma lembrança boa e fala com carinho de Montes Claros, e quando volta para jogar na cidade é sempre um reencontro. Criamos um vínculo muito próximo", revela o analista de sistemas Renato Rodrigues de Souza, um dos líderes da Orkutorcida, criada nas redes sociais ainda logo que o time foi fundado, e que não parou as atividades no ano longe das quadras. Risco, aliás, que ninguém quer correr mais.

"Como torcedores sempre acreditamos que o vôlei não morreria, e a retomada foi uma ótima notícia, mesmo que o recomeço tenha sido marcado por um último lugar. De lá para cá só tem crescido, e não queremos que essa paixão se perca", completa.

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