(Reprodução/Instagram)
MOSCOU - O clube surgido sobre as mãos da Polícia Secreta da União Soviética, terceiro maior vencedor do futebol russo e a casa do maior goleiro de todos os tempos passou os dez últimos anos adormecido. Mas basta descer na estação homônima para se deparar com o despertar de um gigante, que espera fazer da onda criada pela Copa um marco para seu renascimento.
Com 95 anos de história, o Dinamo Moscou virou a quarta força do futebol da capital russa, atrás de CSKA, Spartak e Lokomotiv, situação bem diferente da que vivia nos tempos de Guerra Fria. Uma nova era, porém, parece surgir no horizonte. E muito graças à construção do novo estádio, a Arena VTB, prometida há uma década.
Neste tempo, o antigo dono de 11 taças da Liga Soviética se viu banido de competições europeias pela Uefa por problemas financeiros, além de ser obrigado a jogar em um minúsculo estádio na cidade de Khimki, a 15quilômetros de Moscou. O pior ainda estava por vir: rebaixamento inédito para a Segunda Divisão em 2015-2016.
Dentro do cenário de incertezas e afastamento da torcida, que já não se destaca pelo aspecto quantitativo, um personagem se destacou. Criado na base do clube, 11 anos como profissional, o goleiro Anton Shunin teve propostas para sair. Recusou e lutou pelo retorno à elite, bem-sucedido. Em passos curtos, o Dinamo sonha em ser um time vencedor na Rússia, tendo concluído a última temporada no oitavo lugar, apenas três pontos da zona de classificação para a Liga Europa.
“Foi a época mais difícil para nós, porque o Dinamo nunca havia saído da Primeira Divisão antes. Agora temos uma nova equipe, nova administração e tenho certeza de que o clube vai subir na classificação. Pode levar algum tempo, mas voltaremos a competir por medalhas e nosso novo estádio estará lotado”, afirma o jogador de 31 anos.
A Arena VTB, que leva este nome graças ao banco russo que patrocina o Dinamo e chegou a controlar o clube na época das vacas magras, será um estádio de futebol (26 mil lugares) dividindo o mesmo teto com um ringue de gelo para o hóquei (10.900 cadeiras) que também virará um ginásio de basquete.
Apesar do nome baseado no naming rights, o local, que custou cerca de R$ 5 bilhões em obras marcadas por atraso e encarecimento, terá como nome de batismo “Lev Yashin Stadium”.
Vizinho e herdeiro do eterno ídolo russo Aranha Negra
Anton Shunin ficou fora da lista dos 23 jogadores convocados pelo seu ex-técnico Stanislav Cherchesov para representarem a seleção russa na Copa do Mundo de 2018. Mesmo esquecido, se mantém como um dos principais goleiros do país. A ligação com o Dinamo o faz remeter, invariavelmente, à história do lendário Lev Yashin.
Ainda que tenha carreira mais modesta, Shunin apresenta conexões familiares com o Aranha Negra, que começa pelo local de nascimento. O camisa 1 do Dinamo conta que nasceu numa rua vizinha à casa do falecido goleiro. Herdeiro de seu posto no tradicional clube moscovita, o atleta conta com a bênção da viúva do Aranha Negra.
“Eu morava na rua vizinha com sua casa. Para mim, Yashin é um grande homem e goleiro. Claro, eu sempre quis jogar dignamente como goleiro. Sua esposa, Valentina Timofevna, sempre me apoia e deseja boa sorte. Eu também conheço o neto de Yashin (Vasily Frolov), jogamos juntos no time de juniores do Dinamo. Eu sei que agora ele abriu uma escola de futebol e trabalha como treinador de crianças”, conta Shunin.
Em dezembro de 2017, Shunin recebeu uma camisa comemorativa do Dinamo por ter completado 200 partidas. Longe dos 326 jogos do único goleiro Bola de Ouro do futebol (1963), mas igualmente honrado de servir o posto de quem mudou a posição.
“Quando criança, assisti a muitos filmes e histórias de TV diferentes sobre a vida e a carreira no futebol de Lev Yashin. No ano anterior, o Dinamo empatou por 0 a 0 com o Rubin e os jornalistas me disseram que eu fiz uma atuação digna de Yashin. E foi no seu aniversário de 88 anos (21 de outubro). Foi uma grande honra para mim”.