Com Síndrome de Hanhart, atleticano David credita aos amigos amor pelo alvinegro

Henrique André
hcarmo@hojeemdia.com.br
20/07/2018 às 14:15.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:30
 (Arquivo Pessoal)

(Arquivo Pessoal)

"Amigo a gente conta no dedo. Mas como não tenho dedos... (risos)". É desta forma, natural e bastante bem humorada, que o atletico David César, de 29 anos,aprendeu a encarar de frente a Síndrome de Hanhart, que se caracteriza pela ausência completa de membros superiores e/ou inferiores.

Atleticano e deficiente de nascença, como ele próprio conta, o "quase advogado" deposita nos amigos Rodrigo e Henrique, cuja relação começou há 25 anos, a motivação para seguir o alvinegro nos momentos bons e ruins. Segundo ele, o clube de coração é quem sustenta por tanto tempo a amizade da turma.

"Nos conhecemos quando eu estava na primeira série do ensino fundamental. Eles me fizeram ser mais atleticano. Meu primeiro jogo foi nas semifinais do Campeonato Brasileiro de 1996, naquele empate com a Portuguesa", relata David.

"Nós íamos ao estádio sozinhos, de ônibus. Como éramos menores de idade, bebíamos escondidos dos nossos pais e fazíamos dos jogos a nossa farra", confessa.

Palestrante requisitado nos quatro cantos do país, o atleticano leva uma vida normal. A casa, inclusive, tem poucas adaptações. Orgulhoso pelo ciclo de amizades que construiu, ele agradece e muito a dedicação da mãe, quando tudo ainda era motivo para medo e desconfiança.

"Tudo sempre foi um desafio. O principal deles, o preconceito. A primeira pessoa a me inserir dentro de um contexto foi minha mãe. Ela, solteira, descobriu a gravidez aos 17 anos e sempre foi muito guerreira; criou maneiras criativas para adaptar o meu mundo. O medo do bullying na escola, por exemplo caiu por terra", relata.Arquivo Pessoal 

Tombos, pedradas e comemorações

Assíduo nos jogos do Galo, David coleciona histórias com os amigos que sempre o acompanham. Algumas divertidas e outras bem assustadoras.

Em 2005, quando o alvinegro foi rebaixado para a Série B do Brasileirão, eles não tiveram coragem de ir assistir o duelo contra o Vasco, que findou com a queda. "Fomos ver Harry Potter no cinema, para ficar escondidinho e não escutariamos buzinaço de cruzeirenses pelo rebaixamento", relembra.

Em 2006, na campanha para retornar à elite, que marcou o famoso "Vamo subir Galô", a turma acompanhou Diego Alves, Levir e Culpi e companhia dentro e fora de Minas Gerais. E nem sempre era só alegria.

"A gente ia de cadeira cativa. No Atlético x Ceará, começou um arrastão. Pegaram minha cadeira. Pulei, fiquei de baixo de uma barraquinha de tropeiro. Uma pessoa me pediu para ficar quietinho. Meus amigos ficaram loucos atrás de mim", conta David, que hoje ri do susto.

"Em 2007, na final do Campeonato Mineiro, tomei pedrada na cadeira, mas tive a felicidade de ver os 4 a 0 sobre o Cruzeiro. Estava com 40 graus de febre. O 4 a 0 foi muita coincidência", acrescenta.

Contudo, nada marcou mais do que a campanha atleticana na Libertadores de 2013. No duelo das oitavas de final, no fatídico pênalti para o Tijuana, do México, já no apagar das luzes, David viveu um dos momentos mais inesquecíveis.

"2013. Pênalti para o Tijuana. Desci da cadeira e fui para o banheiro do Independência. Tampei um ouvido com o bracinho direito e usei o braço da cadeira para tampar o outro. Fiquei cantando para nãoo escutar nada lá fora", conta.

"Três rapazes que estavam no banheiro me pegaram no colo quando o Victor fez a defesa do chute do Riascos e me levaram para comemorar. Acabei caindo. As pessoas acharam que era só uma comemoração e se jogaram em cima de mim", finaliza às gargalhadas.

Para imortalizar esta história de amor ao Atlético e, principalmente, aos amigos, David pretende lançar ainda este ano um livro. A construção da obra, inclusive, já está em andamento. Para conhecer mais do dia a dia dele, basta acessar o perfil no Instagram: @vidavidcesar.Arquivo Pessoal 

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