Chega de saudade: torcedores comemoram retorno do clássico a BH

Wallace Graciano - Do Portal HD
22/08/2012 às 15:16.
Atualizado em 22/11/2021 às 00:40
 (Arquivo pessoal)

(Arquivo pessoal)

Quando a bola rolar às 18h30 do próximo domingo (26), no estádio Independência, Cruzeiro e Atlético escreverão mais uma página na história de embates entre os clubes. Porém, esse capítulo será especial. Ainda que de forma exclusiva para os celestes, o clássico marcará o fim da saudade dos encontros entre os rivais nos gramados da capital mineira, extinguindo o hiato de dois anos e meio. E como fez falta esse duelo.

Desde aquele “longínquo” 20 de fevereiro de 2010, quando se enfrentaram pela última vez em Belo Horizonte, no Mineirão, a capital mineira não se colore nas vias de acesso ao estádio, enquanto torcedores pulsam a tensão de enfrentar o maior rival. No período, Cruzeiro e Atlético se enfrentaram por oito vezes, todos os embates com torcida única. Os azuis precisaram percorrer 1.526 km para assistir sua equipe jogar por três vezes na Arena do Jacaré e uma vez no Parque do Sabiá como mandante. A massa alvinegra, por sua vez, enfrentou duros 616 km que ligam a capital a Sete Lagoas, para vibrar junto com o Galo.

A distância deixou um vazio nas torcidas, acostumadas a colorir a cidade em preto e azul nos dias de jogos. Nesse meio tempo, mudou-se também a forma de acompanhar o clássico nas arquibancadas. Antes, com estádio dividido, se um lado gritava “a”, o outro queria o “abecedário”. Se um levantasse uma bandeira, o outro tinha uma maior. Era a exaltação das diferenças. Preocupada com a segurança, a Polícia Militar e o Ministério Público determinaram que não haveria mais essa divisão até que o confronto retornasse ao Mineirão, em 2013. Mesmo assim, a paixão continuou evidente dos dois lados. Basta ver como os dois adversários se empolgam, mesmo com a exclusividade nas arquibancadas do Independência e já planejam a comemoração posterior.

Confiança e saudosismo

O administrador de empresas Geraldo Ferreira, de 23 anos, não esconde a expectativa pelo clássico que se aproxima. Por mais que tenha vivido a adrenalina e emoção dos confrontos nos últimos anos no interior, o jovem cruzeirense acredita que o retorno a capital traz benefícios a ele e ao time estrelado. “Fui em todos os jogos em Sete Lagoas e também em Uberlândia. Mas em BH fica bem mais fácil. É menos tempo de locomoção e bem mais perto de casa. Além do mais, gasto menos”, avalia.

E quando o assunto é dinheiro ou tempo, torcedor nenhum mede esforços para assistir ao seu clube do coração. Geraldo não é diferente. Nesses dois anos e meio de ausência da capital, o administrador teve de fazer alguns sacrifícios para ver o Cruzeiro jogar. “Toda vez que ia para Sete Lagoas, não gastava menos de 50 reais, isso sem o ingresso. Ao todo, fui a mais de 50 jogos. Por aí você tem uma base. Para ir, preferia o carro próprio e dividia o combustível com amigos. Só fui de caravana para Uberlândia. Mas confesso que deixei de ir a vários compromissos. Felizmente, com o tempo, já sabiam que não abriria mão de ir aos jogos. Até pararam de me chamar”, conta.

Para Geraldo, distância nunca foi um problema (Foto: Arquivo Pessoal)

Ir a um clássico, por sinal, é uma rotina na vida de Geraldo. Torcedor assíduo nas arquibancadas do Mineirão, o cruzeirense assistiu seu time em jogos memoráveis. Mas um, em especial, não sai de sua cabeça (e nem da dos atleticanos): a acachapante goleada por 6 a 1, em dezembro de 2011, que livrou a equipe do fantasma da Série B. “Tenho meus clássicos memoráveis. No Mineirão, fui a um quando o Dorival Júnior era técnico. O Cruzeiro estava ganhando por 2 a 0, o Galo empatou e teve um pênalti a seu favor na sequência, mas o Gatti, que não pegava nada, salvou o Cruzeiro. De quebra aumentamos e o Guilherme (hoje atuando no Atlético) fez o quarto gol, liquidando o jogo em 4 a 2. Na Arena (do Jacaré) não tem como comentar os 6 a 1. Confesso que fui ao jogo com medo, pensando em ser rebaixado pelo rival, mas vi o Cruzeiro deitando e rolando. Jogou tudo que não mostrou durante o campeonato inteiro. Não tinha maneira melhor de sair do rebaixamento”, recorda.

Nem mesmo a boa fase do Galo e o momento de instabilidade de seu time deixam o cruzeirense cético. Com um misto de sobriedade e paixão, contradição peculiar aos torcedores fanáticos por seus clubes, Geraldo aponta a importância do embate sem deixar de lado um “cutucão” no rival. “O clássico é o único jogo que começa uma semana antes e acaba uma semana depois. É a chance de quem está em uma má fase virar totalmente o jogo. Uma vitória renova todos os ânimos, o time passa de desacreditado a cotado ao titulo. Mesmo com a fase boa, o Galo não coloca medo em ninguém. São eternos fregueses e estão como cavalo paraguaio neste campeonato. Nem libertadores vão pegar, vamos tirar a vaga deles no último jogo”, analisa e provoca o cruzeirense.

Contra tudo e contra todos

O atleticano é um otimista por natureza. Ainda que o time não corresponda nos gramados, como aconteceu nos últimos anos, e se passe por “sofredor”, ele mostra que isso tudo é apenas um fingimento. Basta uma boa campanha para ele levar a paixão quase que infantil de um torcedor fanático ao estádio. O gráfico digital Pablo Pimentel, de 32 anos, é exemplo disso. Mesmo sem ter a oportunidade de acompanhar o Galo no próximo domingo,  dentro do Independência, ele se mostra confiante e feliz com o retorno do clássico à capital.

“O clássico para mim é um jogo muito especial. Chega a ser um campeonato à parte. A vitória sobre o maior rival tem um sabor diferente, a emoção e a comemoração são infinitamente maiores do que em uma partida contra outro adversário. E essa volta a BH está sendo espetacular. É muito bom poder pegar um ônibus e em 20 minutos estar no estádio. E, ainda por cima, o Galo com esse time qualificado brigando pelo título do Brasileiro, pode fechar com chave de ouro à volta para a capital”, afirma.

A distância entre Belo Horizonte e Sete Lagoas, onde o Atlético mandou quatro de seus jogos contra o rival, foi sentida por Pablo. Para ele, apesar da presença única dos alvinegros, o clima na Arena do Jacaré não era o mesmo. “Eu não gostava do clima nas arquibancadas. Sempre senti que a torcida lá era bem diferente. Não sei explicar o porquê, mas a torcida não inflamava, não cantava tanto e esse apoio da massa sempre foi importante pro Galo”, avalia.

Frequentador assíduo dos jogos do Atlético, Pablo quer ver neste domingo o mesmo desempenho que o Galo teve em jogos que não sai da sua memória. “O primeiro que tenho lembrança foi em 89, quando o Galo recebeu as faixas de campeão estadual e venceu por 3 a 0, com dois gols de Renato. Outros marcantes são as duas vitórias no mata-mata do Brasileiro de 99, em que Marques e Guilherme acabaram com o Cruzeiro. Claro, não posso esquecer do  4 a 0 na final do Mineiro de 2007, com o Fábio levando o gol de costas. No interior, o do Ipatingão em 96, foi especial, com Taffarel na meta e Super Ézio virando o jogo com 2 gols. Mas as grandes recordações que levo são os clássicos nos anos 80 e 90, quando em todos os jogos o público se aproximava e até superava as 100 mil pessoas, e o Mineirão literalmente balançava. Era fantástico”, lembra.

Pablo não esconde seu otimismo com o Galo (Foto: Arquivo pessoal)

Como não deixaria de ser, Pablo já planeja o jogo da volta, em dezembro. Confiante no Galo, ele deixa de lado até mesmo o fatídico clássico vencido pelo Cruzeiro por 6 a 1, em dezembro do ano passado. Para ele, o troco virá com a faixa de campeão no final do ano. “Estou muito confiante. Nunca vi, em todos esses anos que acompanho o Galo, um time com tanta qualidade individual e com uma consciência tática e coletiva tão grande quanto a desse ano. Sei que os cruzeirenses irão aproveitar os 6 a 1 para tentar nos abater, mas hoje já não me importo mais. As vitórias são muito mais marcantes do que as derrotas. E troco com tranquilidade aquela derrota por um clássico de entrega de faixas de campeão nacional só com a torcida atleticana, o que está em real possibilidade de acontecer”, conclui o esperançoso atleticano.

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