Garoto da base celeste brilha no campo de futebol e na leitura

Gláucio Castro - Hoje em Dia
16/12/2014 às 07:54.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:24
 (FREDERICO HAIKAL)

(FREDERICO HAIKAL)

Hugo Henrique, 19 anos, queria ser jogador de futebol. Largou tudo em busca do sonho que não deu certo e hoje é servente de pedreiro no interior paulista. Oito anos mais novo, o primo Wendell Lopes Júnior, de 11, também pensa em brilhar com a chuteira nos pés. Entre um lançamento e outro, o pequeno lateral-direito das categorias de base do Cruzeiro e do Centro de Futebol BH pensa no plano B. “Quero fazer concurso e ser delegado”, diz.

Determinado em alcançar uma carreira vitoriosa, dentro ou fora de campo, hoje Wendell receberá sua primeira medalha de campeão. Assim como outras crianças e jovens, ele será um dos premiados do projeto Ler é Viver, do Instituto Gil Nogueira com atletas do Centro de Futebol BH. Wendell foi um dos que mais leram livros neste semestre e que melhor interpretaram os textos.

Apesar do sonho de ganhar o Mundo jogando futebol, Wendell não se esquece dos estudos, como acontece com boa parte dos atletas profissionais. “Sempre gostei de ler e estudar. Sei que isso vai me ajudar até na hora de dar uma entrevista ou pensar a jogada dentro de campo. Ler e aprender é muito bom”, avalia o jovem, que neste semestre leu 22 livros e interpretou 11 com grande exatidão à obra.

Filho do porteiro Wendell Lopes e doméstica Gilcinéia Alves, Wendell não nasceu em berço de ouro e sabe que para ter sucesso na vida precisará redobrar a dose de dedicação.

Além das aulas regulares na Escola Amintas de Barros, ele é um dos mais dedicados do Ler é Viver. O convite para treinar na base do Cruzeiro, há dois meses, já faz do jogador um exemplo para os demais colegas. O gosto pela leitura é tanto que, mesmo treinando na Toca duas vezes por semana, Wendell segue participando da escolinha e da leitura no Centro de Futebol BH.

 

Leandro Donizete é referência para a família do garoto

Mesmo jogando no rival Atlético, o volante Leandro Donizete é o grande exemplo para a família de Wendell. Este paulista de Araraquara chegou a trabalhar como servente de pedreiro e hoje é campeão da Libertadores, Recopa e Copa do Brasil com o Galo. 

“Converso muito com ele sobre essa questão do estudo. Ele sabe que nós estamos fazendo tudo o que podemos para investir na carreira de jogador, mas não podemos deixar os estudos de lado”, diz o pai Wendell Lopes, de 39 anos, um entusiasta da carreira do filho. 

Por falta de condições financeiras ou oportunidades, boa parte dos jogadores brasileiros acaba deixando de ir à escola. Muitos não chegam a concluir o ensino médio. Curso superior é artigo raro no Mundo da bola.

É exatamente isso que a família de Wendell não quer que aconteça com o pequeno lateral, principalmente pelo exemplo do primo Hugo Henrique, que acabou virando servente de pedreiro.

Para tentar mudar esta situação, América, Atlético e Cruzeiro só aceitam atualmente em suas categorias de base atletas que estejam estudando. A Toca da Raposa I conta inclusive com uma escola para os atletas. Já os do Galo e Coelho estudam em escolas próximas aos centro de treinamentos dos dois clubes.

“Quando eu entrei pela primeira vez na Toca da Raposa para treinar eu até me emocionei. Gosto muito de futebol. Queria ser um grande jogador do Real Madrid para poder ajudar minha família”, projeta.

A grande incentivadora dos meninos que serão premiados nesta terça-feira (16) junto com Wendell é a professora aposentada Maria Célia Castilho Pereira, do Centro de Futebol BH. “Queremos formar craques. Craques na vida. O futebol pode ser usado para atraí-los”, diz.
 

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