De torcedor a 'homem forte' do Atlético: o choro dos filhos que mudou a vida de Rodolfo Gropen

Frederico Ribeiro
fmachado@hojeemdia.com.br
04/11/2016 às 18:50.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:31
 (Bruno Cantini/Atlético)

(Bruno Cantini/Atlético)

Debaixo de uma jaboticabeira na casa do vizinho, o pensamento no choro dos dois filhos pequenos após mais uma derrota do Atlético, Rodolfo Gropen estava decidido. Impulsionaria, ali, um plano ousado: deixar de ser apenas mais um torcedor fanático do Galo, daqueles que não citam o nome do eterno rival Cruzeiro, para ajudar o clube diretamente.

Em apenas oito anos, o advogado tributarista, filho de flamenguista (convertido posteriormente) e uma vascaína, deixou de sofrer pelo Galo à distância para integrar a diretoria mais vitoriosa do clube. No mês passado, foi eleito, sem concorrência, presidente do Conselho Deliberativo. 

Tudo começou com a elaboração de documento que propunha um choque de gestão num clube depredado financeiramente. Assim que Ziza Valadares renunciou, Gropen, ao lado de três atleticanos (Antonio Anastasia, Wilson Brumer e Fuad Jorge Noman), foram atrás das chapas concorrentes. Conheceu Alexandre Kalil dois dias antes da eleição no Galo. Jamais tinha entrado na Sede de Lourdes. O futuro prefeito de Belo Horizonte gostou das propostas e veio o convite para Gropen participar da diretoria. Com uma ressalva, a qual o advogado sempre costuma esclarecer: "Eu, desde o início, sou remunerado pela paixão no Atlético".

Mais do que um aliado, conhecido de rompante, Gropen se tornou braço direito de Kalil nos seis anos completos em que trabalharam juntos. Viajou, surpreso, para Porto Alegre para acompanhar a reunião com Assis e Ronaldinho. "Foi algo impressionante! O Alexandre falou com o Ronaldinho durante meia hora, sem o Ronaldinho falar nada. Só ouvindo. Fizemos a proposta salarial de R$ 300 mil. Ele ganhava R$ 1,4 milhão no Flamengo".

"Em 2013 ele (Kalil) me intimou para ser o próximo presidente. E eu disse que não me achava preparado para tal, porque o Atlético é muito grande, eu não tinha 5 anos de Atlético"

O advogado, inclusive, foi preparado para ser o sucessor do maior presidente da história do Atlético. Entretanto, em uma carta que lhe custou um mês de silêncio por parte de Kalil, declinou do convite de ocupar o maior cargo administrativo do clube. Não há arrependimentos, mesmo sabendo que a oportunidade pode não bater à porta novamente. 

"Ele (Kalil) realmente foi me preparando, eu senti isso. Em 2013, ele me intimou para ser o próximo presidente. E eu disse que não me achava preparado para tal, porque o Atlético é muito grande, eu não tinha 5 anos de Atlético. Ele tinha 40 anos. Por mais que pudesse ser fácil eu ser o presidente, pois não teria concorrente, não me sentia preparado. Mas que bela questão! O Daniel foi eleito. É um cara que nos surpreendeu. Um sujeito que não tem uma vírgula de preguiça. Fica ligado no 220v, pensa no Atlético o dia inteiro, em todos os detalhe", conta.

REFORMAS
Ao lado do auditório do Galo, no último andar da Sede Administrativa em Lourdes, Gropen  trabalha olhando para um quadro do goleiro Victor, imortalizando a defesa de pênalti contra o Tijuana na Libertadores de 2013. Ele estava lá, no camarote da presidência no Independência, ao lado de Alexandre Kalil, quando o ex-presidente foi às lagrimas diante do "Milagre do Horto". Do anonimato para a diretoria. Da diretoria para o conselho. 

Um caminho na "contramão" da normalidade. E já com ideias prontas para serem postas em prática. A primeira? Reformulação no Estatuto do clube, o qual foi redigido em 2008 e ganhou alterações obrigatórias do Profut.

"Eu tive uma experiência de oito anos na parte executiva e agora vim para o Conselho com algumas coisas que quero fazer. Por exemplo: quero reformar o estatuto, para caracterizá-lo mais empresarialmente. Criar regras de governança, regras de compliance, porque a turma que está aqui é muito séria. Mas a gente não sabe o que vem depois", esclarece. 

"Fiz minhas pós-graduações todas em São Paulo e fiquei lá por nove anos e meio. Só via o Galo jogar quando ele ia para São Paulo ou pelo rádio quando achava um lugar que sintonizava"

Gropen foi eleito em 14 de outubro, como cabeça da chapa "Galo Forte e Unido", tendo como Vice o ex-assessor da presidência, Sérgio Sette Câmara. Com ambos, também foram eleitos os presidentes do Conselho Fiscal (Sérgio Rodrigues Leonardo) e da Comissão de Ética e Disciplina (José Murilo Procópio de Carvalho).

O senhor é filho do jornalista Carlos Gropen, carioca radicado em Belo Horizonte. Como a sua família veio parar em BH? 
Meu pai trabalhava na Schindler Elevadores, era na verdade vendedor de elevadores desta empresa multinacional da Alemanha. Ele foi transferido do Rio de Janeiro para Recife. Parece que ele se deu bem e foi retransferido para Belo Horizonte, para o cargo de gerente. Como ele já namorava a minha mãe, resolveu casar e trazer ela para cá. Ele era Flamengo e ela, Vasco. Vieram para cá e dois, três anos depois, eu nasci, sendo o mais velho de quatro irmãos. E o meu pai me fez atleticano, porque era o time do povo, sem precisar de usar faixa para isso. sci em 1965. Ao contrário do Lásaro (Cândido, diretor jurídico do Galo), eu não escondo a minha idade. O Lásaro, a cada ano que você lhe pergunta a idade, ele diminui o número.

E quais os fatores que fizeram seu pai torcer para o Atlético? Como foi infância e adolescência do senhor acompanhando o time?
Ele escolheu o Galo quando chegou aqui porque era o time da Massa, do 'povão', assim como o Flamengo no Rio, lá em Recife era o Santa Cruz. Naquela época não havia faixa para dizer qual time era da Massa. Tem aquela frase: 'quem é, não diz; quem diz, não é'. Eu sempre lembro disso quando vejo essa tentativa do outro em ser a gente. O tal 'Time do Povo', o 'Primeiro Campeão' (em referência ao título da Taça Brasil de 1966 do Cruzeiro). É impressionante. Mas nunca serão. Eu nasci atleticano e meu pai foi radialista, trabalhou na Itatiaia, na Inconfidência, sendo comentarista esportivo. E teve 1980, na final do Campeonato Brasileiro. Eu sabia que ele era Flamengo e eu era Atlético. Eu tinha 15 anos e disse ao meu pai: 'o Galo vai ser campeão'. Ele me respondeu: 'não vai ser, meu filho. Sei que o time do Atlético é bom. Mas o Flamengo nunca foi campeão brasileiro, estamos numa época política muito conturbada. A CBF, CBD é no Rio. Você não entende as coisas ainda, mas não vai ter jeito para o Atlético'. Então, fui no primeiro jogo do Mineirão, eu ia de ônibus com um amigo, pegava a condução lá na Rio Grande do Sul. O Atlético venceu por 1 a 0, com gol do Reinaldo. Cheguei em casa, meu pai estava dormindo e o acordei: 'Está vendo, pai? Atlético vai ser campeão'. Ele me alertou: 'Filho, não se ilude, a vida não é simples assim'. Mas eu não consegui entender isso. Assisti o jogo de volta ao lado dele no sofá. Aquele jogo, o Reinaldo fez dois gols e na hora que ele marcou o segundo (2x2), virei para o meu pai novamente: 'Olha aí'. Ele retrucou: 'Filho, eles vão dar um jeito'. Pois o juiz expulsou o Reinaldo, sem motivo nenhum, logo depois de ele marcar o gol de empate. Na hora que isso aconteceu, sem motivo algum, eu comecei a entender o que meu pai estava tentando falar para mim. Lembro que comecei a lacrimejar e o meu pai sério. O Nunes marcou o gol e o meu pai não alterou a fisionomia. Acabo o jogo e me desabei chorando e ele veio me abraçar. A vida tem mais elementos que se possa imaginar. Perdi a minha 'virgindade' em termos de acreditar em tudo, neste dia, que foi muito importante. Assim como foi um Fla-Flu três meses depois. Assisti ao jogo com meu pai e ele começou a torcer para o Fluminense, contra o time dele no Rio. Por causa do meu choro na final do Brasileirão. Ele tomou ódio do Flamengo ao ver o sofrimento do filho. Ele virou atleticano mesmo, convicto e torcia para o Fluminense em Fla-Flu.

O senhor começou a carreira como advogado longe de Belo Horizonte, longe do Atlético. Como foi este período?
Lá em casa, meu pai não se formou. Minha mãe também não. A minha origem é muito humilde. Não fui no jogo do Rio (Flamengo 3x2 Atlético em 1980) porque não tinha condições. Só andei de avião aos 21 anos. Fui fazer direito, passei em sexto lugar na UFMG. A gente não tinha como passar em escola privada. Naquela época, as escolas eram mais baratas que as faculdades. Hoje não, estão mais caras. O Colégio Santo Antônio era muito rígido e ele colocou todos os filhos lá. Todos passaram na UFMG. Fui fazer direito sem ter nenhum parente no ramo. Me interessei pela advocacia por sempre ter sido curioso pelo que regia a sociedade, as regras. Fiquei em dúvida entre direito e economia e escolhi o primeiro. Me formei e fui trabalhar em São Paulo em 1989 em um escritório. Vinha para cá de ônibus visitar a minha família em feriados, porque tinha que bancar aluguel, custo de vida era alto, tinha que fazer o curso de mestrado. Fiz minhas pós-graduações todas em São Paulo e fiquei lá por nove anos e meio. Só via o Galo jogar quando ele ia para São Paulo ou pelo rádio quando achava um lugar que sintonizava. Não existia internet e não passava o jogo pela TV. A minha ligação com o Atlético ficou restrita. Mas um amor de paixão. 

O senhor conseguiu voltar a frequentar os estádios depois de se estabilizar como advogado? Qual foi o prefácio da história do senhor ir parar na diretoria do Atlético?
Depois eu retornei a Belo Horizonte, me casei. Comecei a ir nos jogos de novo, mas já com outra idade, 30 e poucos anos. Tive o meu primeiro filho, o qual emprestei meu nome a ele. Depois veio o Rafael e eles com 10 e 8 anos viram o Atlético perder para o time do Barro Preto em 2008, no ano do centenário, de goleada. Sei que acabou o jogo e o Rodolfo começou a chutar a porta com raiva. O Rafael, mais novo, chorando. Pensei: "o que eu fiz para estes meninos? Tenho que ajudar o Atlético!" Sempre tinha esta vontade, mas veio este estalo. Fui até o meu vizinho lá no Retiro do Chalé, que é o Wilson Brumer. Foi presidente da Vale, da Acesita, da Usiminas. Que também é atleticano doente. Fui conversar com ele debaixo de uma jaboticabeira, na casa dele. Expliquei a minha vontade e ele compactuou com aquilo. Resolvemos ajudar o Atlético. Ele tinha acabado de sair do Governo que teve o Choque de Gestão. Ele disse: "Quem fez o Choque de Gestão fui eu, o Anastasia (então secretário de Fazenda) e Fuad (Jorge Noman, secretário de Fazenda). Nós três somos atleticanos doentes. Pego mais você e formamos um grupo. Era aquilo que eu queria. Pouco depois, o Ziza renunciou. A gente sentou e fizemos uma proposta para ajudar o Atlético. Tiveram duas candidaturas. Uma do Sérgio Bias Fortes (filho do Walmir Pereira, ex-presidente) e outra do Alexandre Kalil. Não conhecia nenhum dos dois. Jamais havia estado na Sede do clube. Quem era o presidente que tinha assumido, então interinamente, foi o (João) Ardizoni, que era o presidente do Conselho Deliberativo. Ai fomos fazer um reunião com o Ardizoni e senti que o negócio não ia. Através de um amigo em comum, o Marcelo Patrus, o Alexandre Kalil foi até ao meu escritório dois dias antes do eleição, para que a gente falasse da ideia e o Alexandre achou ótimo. Foi aí que conheci o Kalil. Divulgação/Divulgação/DivulgaçãoGropen se aliou a líderes do Governo de Minas (2003/2007); Wilson Brumer, Anastasia e Fuad Noman


E depois da eleição de 2008?
Ele foi eleito e logo depois eu preparei um trabalho de transformar o Atlético em uma empresa. Fiz e apresentei a ele. O Alexandre gostou e disse: "começa a vir aqui no clube para a gente conversar". Passei a vir e a coisa evoluiu até o convite dele para eu ser diretor da gestão. Eu respondi: "Estava lendo o estatuto e vi que ele obriga o diretor do clube a ser remunerado. E eu não aceito ser remunerado, direto nem indiretamente". Ele respondeu: "Mas não temos nem condições de pagar". Falei: "se tiver esta condição de não ter remuneração, eu aceito". 
Eu, desde o início, sou remunerado pela paixão no Atlético. Por exemplo, um jogador de antigamente, um técnico anterior falava que estava com problema tributário, eu ia lá e resolvia o problema dele, só para tranquilizá-lo para trabalhar no Galo. Eu tenho meus escritórios em BH, Rio, São Paulo, Brasília e Nova York. Todos pequenininhos, mas que eu pago aluguel, secretária. Eu conheci o Kalil no final de 2008 e ele tem características muito interessantes. Ele não fazia nenhum negócio sem ter alguém do lado. Eu perguntei o porquê. Ele disse que você pode ser o cara mais sério do mundo, mas se não tiver outra pessoa ao lado, eles vão falar que você fez coisa errada. O Alexandre é um cara tímido. O círculo de amizade dele é muito pequeno. Mas foi bom que convivemos muito juntos, as famílias passaram a conviver. E eu, hoje, posso dizer que sou um amigo dele e fiquei muito feliz com a eleição. Acredito que se ele repetir o que fez no Atlético, teremos uma coisa diferente no Brasil.

E qual a história da carta que o senhor escreveu para ele em 2013?
Depois dos primeiros 12 meses da eleição dele como presidente, eu estava reunido com o Chico Maia, o joprnalista, e ele chegou para o Chico, no primeiro ano, falando que eu seria o sucessor dele. Citava o pai, que falava que a gente descobre rápido quem irá nos substituir. Ele realmente foi me preparando, eu senti isso. Mas em 2013 ele me intimou para ser o próximo presidente. E eu disse que não me achava preparado para tal, porque o Atlético é muito grande, eu não tinha 5 anos de Atlético. Ele tinha 40 anos. Por mais que pudesse ser fácil eu ser o presidente, pois não teria concorrente, não me sentia preparado. Ele ficou seis meses falando na minha cabeça, até que eu fiz uma carta para explicar porque eu não ia aceitar. Mas eu só dizia que declinaria no final, do contrário, ele rasgaria a carta logo de cara. Ele leu até o final, olhou para mim e disse apenas: "que pena". Demorou um mês para falar comigo de novo (risos). Ficou chateado. Porque ele queria muito que eu fosse. Mas que bela questão! O Daniel foi eleito. É um cara que nos surpreendeu. Um sujeito que não tem uma vírgula de preguiça. Fica ligado no 220v, pensa no Atlético o dia inteiro, em todos os detalhes.

O senhor teve que administrar, de alguma forma, a ansiedade da família em te ver presidente do Atlético...
O Alexandre Kalil falou para a minha família, antes de eu dar o xeque-mate, que eu seria o próximo presidente. Minha mulher não se manifestou e eles estavam certos que eu seria. O Rodolfo tinha 16 anos, o Rafa, 14 e tinha a minha caçula. Todos achavam que eu seria. Mas eu rebati: "às vezes, o 'não' doí de dar. Qual atleticano não gostaria de ser presidente?". Tive que explicar porque eu iria dizer não. Na vida, as vezes o caminho mais fácil não é o melhor caminho. A minha vaidade ainda é menor que a minha inteligência. Não sei se terei essa oportunidade novamente. Mas não era o momento de assumir a responsabilidade. Agora, nesta campanha para o Conselho, frequentei muitos clubes de lazer e impressionante o quanto aprendi da história do Atlético. Coisas que não tem no livro.

Na final da Copa do Brasil de 2014, entre Atlético e Cruzeiro, a FMF fez um leilão da bola da final. O senhor foi o ganhador...
Eu queria ter uma lembrança dessa final. Pois, para mim, a Copa do Brasil em cima do rival teve um peso muito grande. Ganhamos a Libertadores de 2013, mas a final da Copa do Brasil foi muito importante para mim. Liguei na Federação Mineira quando faltava pouco para o encerramento do leilão. Pergutei quanto estava o lance mais alto, aumentei em R$ 13 e fui o vencedor (o lance de Gropen foi de R$ 11.513,00, dinheiro destinado a uma instituição voltada ao combate à leucemia). A bola está guardada em uma lugar especial da minha casa. Sempre olho para ela para recordar o trabalho feito no Atlético. Nesta nova final de Copa do Brasil, eu torci muito para pegarmos o time do Barro Preto. Seria a chance histórica de ganhar o bicampeonato novamente em cima deles. Mas não teve jeito, vamos ter de enfrentar um adversário mais complicado.

Agora, o senhor é o novo presidente do Conselho Deliberativo. Quais as ideias, novidades que poderão surgir neste mandato até 2019?
Eu, felizmente, consegui chegar aqui no Conselho fazendo o caminho inverso de muita gente. A maioria está no Conselho e depois vai para a parte executiva. Eu tive uma experiência de oito anos na parte executiva e agora vim para o Conselho com algumas coisas que quero fazer. Por exemplo: quero reformar o estatuto, para caracterizá-lo mais empresarialmente. Houve alguns ajustes pelo Profut, que são detalhes. Eu quero reformar, junto aos Conselheiros, para dar um caráter mais empresarial, criar regras de governança, regras de compliance, porque a turma que está aqui é muito séria. Mas a gente não o que vem depois. A ideia é tentar modernizar o estatuto na questão empresarial, de gestão, de criar regras. Como sou advogado tributarista, lido com empresas há 30 anos. Então, o Atlético não pode ser uma empresa ainda, por limitação legal. Mas podemos criar regras que ajudarão na gestão do Atlético. Quero fazer também um conselho mais participativo. Vou criar aqui um 'Banco Atleticano de Ideias', entre os conselheiros. Quero que eles participem dando ideias. Porque temos quase 500 conselheiros e cada um, tenho certeza, tem mais de uma ideia para criar o Atlético. Nas reuniões, algumas pessoas podem ficar inibidas de se manifestar. E este 'banco' dará a oportunidade para que os conselheiros possam dar conselhos, recomendar ideias e participar ativamente. E eu, por ter participado do executivo, sei o que é viável fazer.Bruno Cantini/Atlético

EM FAMÍLIA - Gropen, ao lado dos filhos e esposa
no dia da posse da presidência do Conselho

Mas o senhor vislumbra ser presidente?
O futuro a Deus pertence. Não estou aqui na presidência do Conselho para almejar a presidência do clube. Não há esta volúpia em mim.  Até porque eu não aceitaria ser presidente do Atlético estando presidente do Conselho. Irei cumprir o meu atual mandato até o fim, são coisas que não abro mão. Faz parte de um aprendizado e de um compromisso do voto de confiança dos quase 500 conselheiros. 

Entre os tantos momentos que o senhor vivenciou no Atlético, acredito que a contratação do Ronaldinho é um dos mais marcantes. Como foi o processo da contratação de R10?
A história do Ronaldinho é uma outra conversa, porque ela é longa demais. Precisaria de 30 minutos para te contar a conversa que ele teve com o Ronaldinho. Algo impressionante. O Ronaldinho tinha saído do Flamengo em litígio e o Kalil foi ao Rio numa sexta-feira, por outros motivos. O Cuca ligou na quinta-feira falando que queria o Ronaldo, para ser o camisa 10, o Cuca idealizou isso. O Alexandre mandou o Cuca falar com o Assis para encontrar ele no Rio, no Hotel. Assis foi na sexta-feira, foi feita uma proposta de R$ 300 mil reais, redondo (de salário). Ele ganhava R$ 1,4 milhão no Flamengo. Isso eu não sabia. O Assis falou que iria para Porto Alegre e perguntou se o Kalil poderia ir também, caso o Ronaldo concordasse em conversar com o Atlético. Num sábado de manhã, a minha filha estava com dois anos (Ana Luiza), na festa junina da escolinha e eu estava acompanhando. Meu telefone toca. Era o Alexandre (puta merda, só pode ser problema!). Ele diz: "Onde você está? Preciso de você daqui 2 horas no Aeroporto da Pampulha, estamos indo para Porto Alegre! Vamos embora". A conversa dos dois foi de um pai puxando a orelha do filho, falando alto mesmo. E o Ronaldo calado. Ai ele gritou: "ô menino, você não fala porra nenhuma não? Ai o Ronaldinho respondeu, meio assustado: "ô presidente, quando que eu me apresento?" Ele retrucou: "Olha, quando eu vou numa loja e compro presente, eu levo ele. Quero te levar agora". O Ronaldinho não podia, tinha que cuidar da mãe e ficou combinado de ele chegar na segunda-feira. Depois, conversando com o Ronaldo e ele me lembrando da reunião, me disse que na cabeça dele veio a seguinte ordem: "Vou com esse louco, gostei desse cara!" E o menino só o chamava de papai, não era à toa, impressionante!

Em 2015, quando o Galo enfrentou o Fluminense no Maracanã, Ronaldinho visitou o vestiário do Atlético e disse que gostaria de voltar. 
Acho difícil. Mas quem sabe uma despedida, né? Quem sabe um Atlético x Barcelona? Acho que é o sonho dele. Acho que daria para fazer. Dois times que ele chegou a comentar uma vez comigo, que viveu coisas parecidas. Ele disse que chegou ao Barcelona quando o time estava mal, não ganhava nada e que participou da reconstrução do clube. E disse: "nunca pensei que iria viver isso de novo, e está acontecendo no Atlético". Neste jogo (contra o Flu), o Ronaldo foi até o nosso vestiário, comentou que não tinha uma torcida como a do Galo. Que queria encerrar, fazer uma despedida pelo Atlético. Mas voltar a jogar mesmo, acho que não. Uma despedida aqui, com os dois clubes que gostam muito dele depois de ele ter saído. Se conseguirmos conciliar isso, seria algo muito prazeroso".

O senhor, como especialista da área, participou da entrada do Atlético no Profut. Como foi este processo?
O Atlético conseguiu, através de uma lei especial de 1997, que permite que, se aprovado pelo Ministro da Fazenda, Procurador Geral da Fazenda Nacional e Advogado Geral da União, você pode ter um parcelamento especial, além dos 60 meses. Você tem que provar que não tem condições de pagar no prazo inicial, é preciso passar por esferas burocráticas. Isso não é o Refis, que todo mundo chamou, é um parcelamento especial de 1997. Aí veio o Profut, que é um pouco melhor que esta Lei. Então, aderimos ao Profut e estamos pagando. O bom é que o Profut obriga a gente a estar rigorosamente em dia, e estamos. A grande dívida, o grande problema de passivo do Atlético é de ordem tributária. Que vem de início da década de 1990. Isso se avolumou. Chegou a R$ 270 milhões de reais, mais de 50% da dívida global.  Bruno Cantini/Atlético / N/A

INESPERADO - Alexandre Kalil conheceu Rodolfo Gropen dois dias antes da eleição presidencial de 2008 

  

  

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